Quarenta e cinco anos depois o Celtic voltou a ser campeão da Europa em Lisboa. Quase quatro mil adeptos escoceses fizeram uma romaria ao Estádio Nacional, no Jamor, para reviver a conquista da Taça dos Campeões de 1967, frente ao Inter de Milão (2-1), numa festa «sagrada» para estes católicos de Glasgow. O troféu voltou a subir à tribuna de honra e no relvado estiveram três lendas vivas dos «leões de Lisboa». Uma festa «inesquecível» para os melhores adeptos do Mundo antes do jogo com o Benfica.

Começaram a chegar ao início da tarde, algumas centenas de comboio, saindo na Cruz Quebrada, para depois subir até ao Jamor, mas a grande maioria chegou de táxi. Dezenas de táxis paravam junta à entrada da maratona para largar grupos de quatro escoceses que chegavam com o indispensável: camisola do Celtic, cachecol e, como não podia deixar de ser, muita cerveja.

Depois todos os rituais naquele que é o palco de todas as glórias do Celtic. Muitos dos adeptos ajoelhavam-se e beijavam o relvado antes de o pisar. A maioria não tinha idade para ter estado em Lisboa em 1967, mas todos sabiam a história de cor e salteado. Muitos concentraram-se junto à baliza onde Steve Chalmers marcou o golo da vitória, a seis minutos do final, recriando ao pormenor o lance que permitiu ao Celtic destacar-se como a primeira equipa britânica, a primeira não latina, a conquistar o mais ambicionado troféu europeu.

Mas a maioria concentrou-se numa fila, que ia do relvado, pelas bancadas, até à tribuna de honra, onde estava exposto o troféu de 1967. Uma longa fila, com mais de meia-hora para chegar ao destino. Mas valia à pena, porque lá em cima todos repetiam os gestos dos heróis de 1967 que festejaram ali mesmo a conquista do maior feito do clube. Sozinhos, com a família, em grupo, um a um, todos pegavam no troféu. Alguns entoavam cânticos para o relvado e lá de baixo vinha a resposta imediata.

A organizar a fila e a ordem para a fotografia da praxe, estava Johny Walsh, chefe dos «stewards» do Celtic que, há 45 anos, tinha acompanhado o pai a Lisboa. Na altura, o pequeno John tinha apenas treze anos, mas tem esse dia gravado na memória. «O estádio estava completamente cheio, metade eram portugueses, mas estavam todos do nosso lado. Os italianos tinham um futebol muito defensivo e nós jogávamos ao ataque. Passaram todos para o nosso lado e fizeram a festa connosco. O que mais me lembro foi o barulho no final, depois da invasão de campo. O barulho continuou a ecoar nos meus ouvidos durante uma semana. Celtic, Celtic, Celtic, foi a loucura», contou o agora funcionário do clube.

Três «leões» outra vez em Lisboa

No relvado, a boa disposição ia crescendo à medida que se multiplicavam as garrafas vazias no relvado. Litros e litros de cerveja e algumas garrafas de whiskey a destoar. De repetente, todas as atenções viraram-se para a porta da maratona. Chegavam Bobby Lennox, Steve Chalmers e John Clark. Lendas vivas do Celtic, três dos «Leões de Lisboa. «Era uma oportunidade única e tínhamos de aproveitá-la, foi o jogo das nossas vidas», destaca John Clark, que tinha a alcunha de «escova», uma vez que era o jogador que ficava para trás, quando a equipa subia para o ataque.

O mais requisitado foi Steve Chalmers, o autor do golo da vitória. «É um dia especial para nós, mas sobretudo para estes adeptos. Para mim foi especialíssimo quando marquei o golo, a minha cabeça inchou e ficou deste tamanho. Já cá tinha estado algumas vezes, mas não com tantos adeptos. Lembro-me perfeitamente do golo. A bola foi cruzada, fugi aos italianos e atirei-a lá para dentro», recorda. Bobby Lennox, considerado pelos adeptos como o melhor jogador do Celtic de todos os tempos, foi engolido pela multidão. «Isto é inesquecível, quase como há 45 anos, quando festejei ali com o John Clark», lembrou.

A romaria escocesa seguiu depois para a Luz onde a festa vai prosseguir, qualquer que seja o resultado.