Recordar a carreira de Gil é um exercício complexo, um daqueles casos em que as enormes expectativas, criadas por um percurso brilhante nas camadas jovens das selecções nacionais, foram defraudadas por completo. A conquista do Mundial de sub-20 em 1991, ao lado de Figo, Rui Costa, João Veiria Pinto, Peixe ou Jorge Costa, foi o ponto alto de um percurso que já estava, nessa altura, comprometido.
Gil Gomes, avançado nascido em Angola e «gerado» pelo Benfica, nem imaginava que, quando partiu a perna esquerda ainda em 1990, estava a dizer adeus à alta roda do futebol: «Para mim, é simples explicar o que correu mal. Parti a perna esquerda em 1990, estive três meses de fora e olhando para trás vejo que nunca tive o apoio necessário, a lesão foi mal curada no Benfica e as infiltrações, que começaram a partir daí, prejudicaram-me». Um ataque aos responsáveis do Benfica na altura, pergunta-se? «Não, porque não acredito que as pessoas tenham feito de propósito ou por maldade. Aconteceu, mas a verdade é que, a partir dessa lesão, os problemas físicos e as infiltrações nunca mais pararam», relata.
O avançado começou a ganhar espírito de emigrante e desdobrou-se em experiências pela Europa e pelos Estados Unidos da América. Terminada a ligação ao Benfica, seguiu para França (S.C. Thur), ainda tentou afirmar-se no regresso a Portugal, no Sp. Braga e no E. Amadora, sem sucesso, e voltou a fazer as malas. Conta o próprio, cronologicamente: «Estive no Yverdon Sport (Suíça), S.C. Will (Suíça), Philadelphia (E.U.A.), Darsonville (E.U.A), na equipa de reservas do Sheffield Wednesday (Inglaterra), Avelino (Itália), Handen S.C., Middleswich Town, Southford City e agora Neweast Manchester, todos em Inglaterra».
A pergunta impunha-se e Gil já perdeu a conta a quantas vezes a terá ouvido. Sente pena ao comparar a sua carreira a de ex-companheiros como Figo, Rui Costa ou João V. Pinto? «É assim, claro que sinto alguma pena, mas são coisas da vida, ou melhor, do futebol», diz, plenamente conformado com o seu destino, garantindo contudo não ser responsável pela quebra de rendimento na passagem para os séniores: «Sempre fui um bom profissional, não bebia, não fumava, não perdia noites. Enfim, ao menos conheci outros países, novas culturas, sei falar cinco línguas e aprendi muito. Já não é mau».