A Liga é uma prova não só de muitos minutos disputados, mas de muitos minutos disputados por muitos jogadores. Não são só os que se sagram campeões nacionais que merecem destaque; muitos mais o merecem.

Provavelmente, mais do que aqueles que, aqui, têm espaço para ser referenciados. Os seguintes são, no entanto, os que foram escolhidos como figuras entre os que não podem deixar de ser nomeados mesmo que sem terem terminado no primeiro lugar da prova.

O título é o mais importante no final das contas, mas as contas não se resumem exclusivamente ao título. Para esses que existem no que de mais existiu nesta Liga 2016/16 que neste domingo terminou aqui fica o seu destaque ordenando-os pela classificação da sua equipa.

Adrien (Sporting)

Passou nesta época a envergar a braçadeira de capitão do Sporting. O seu rendimento em campo justificou essa decisão do treinador mandando no jogo da equipa dentro das quatro linhas estando à altura da liberdade que lhe é dada estrategicamente. É notoriamente rápido e inteligente a decidir (numa maioria inequívoca de ocasiões) a melhor opção, fruto também de uma grande leitura de jogo que lhe permite fazer uma rápida e segura (e muitas vezes cheia de classe) transição do momento defensivo para o processo atacante. Consegue complementar a sua ação individual com um remate forte e (mais) colocado.

João Mário (Sporting)

Classe é o que não falta no meio-campo do Sporting e João Mário alternou não só com Adrien, mas também com a nota artística de Bryan Ruiz, na riqueza técnica com que põe em prática a inteligência com que joga – essa riqueza, mais do que um simples adorno, é um componente; é assim que ele sabe jogar. E bem. Porque toda essa classe é parte integrante da forma pragmática com que produz os resultados. O médio leonino que joga à direita, à esquerda e também ao meio com idêntica qualidade deu nove golos a marcar – e, com seis marcados (e mais alguns por marcar porque sabe aparecer muito bem na zona de finalização), participou em 15 da sua equipa.

Slimani (Sporting)

Falar de golos no Sporting é falar (maioritariamente) do ponta de lança argentino que, com 27 remates certeiros, foi o grande goleador dos leões – e também, claro, o segundo mais eficaz da Liga. A quantidade de golos que marcou deixam-no também de longe como o jogador que mais participou nos golos do Sporting, pois ainda soube assistir para os outros marcarem (em duas ocasiões). Mas, além disso, Slimani foi muitas vezes decisivo para a equipa não pela quantidade de golos, mas pela importância de alguns em particular. Rápido, felino, destemido, o argelino foi fundamental para o percurso da equipa com cinco dos seus golos a terem decidido jogos a favor dos leões: FC Porto (casa), P. Ferreira (fora), Estoril (fora), Moreirense (fora) e FC Porto (fora).

Layún (FC Porto)

É o vice-rei das assistências no campeonato com 14 passes para golo – o líder desta estatística está no campeão Benfica: Gaitán (com 15). O mexicano é um jogador ofensivo, mas não deixa de ser um defesa. Ter esta predominância na produção atacante da equipa (com mais cinco golos marcados) não reflete apenas a prestação bastante abaixo das expetativas do FC Porto; é resultado principalmente da qualidade do lateral esquerdo que é um dos jogadores muito acima da média do campeonato português. A qualidade atacante de Layún é tal que muitas vezes se passa ao lado da sua capacidade como defesa. Mas ela também está lá. E, no ano de estreia no Dragão, a forma como muitas vezes puxou pela equipa e por uma personalidade coletiva desanimada ainda lhe conferem mais importância.

Danilo (FC Porto)

Em estreia, com personalidade e determinante defensivamente. Também assim foi o outro jogador que se destacou de forma explícita dos demais na equipa do FC Porto: Danilo Pereira. O box-to-box que foi do Marítimo para o Dragão no início da temporada foi dos poucos nesta equipa (que desiludiu) que se destacou individualmente começando pela consistência defensiva que conseguiu dar a um sector muitas vezes apanhado a dormir - desde o apoio que trazia da sua zona de ação mais à frente da defesa até quando foi chamado a fazer parte daquela. Foi também o médio em estreia quem acabou por tomar conta da organização de jogo no seu início. Mas, muitas vezes ainda, tomando conta até à sua conclusão: os seus seis golos no campeonato disso fazem prova.

Baiano (Sp. Braga)

O lateral direito pauta a sua ação por ser, primeiramente, um defesa mais posicional preocupando-se com a missão inicial de resguardar o seu sector, mas não é por isso que deixa para outros missões mais atacantes. Baiano alia a experiência dos seus 29 anos a uma capacidade ofensiva que muitas vezes desbloqueia o ataque da equipa e descompensado, então, o sector defensivo adversário. Tantas vezes que vai à linha de fundo cruzar... É um dos jogadores mais importantes do quarto classificado da Liga não estranhando, assim, que seja o mais utilizado por Paulo Fonseca no Sp. Braga.

Rafa (Sp. Braga)

É atualmente o maior talento do Sp. Braga naquilo que de mais vistoso tem o futebol – em geral e também da equipa de Paulo Fonseca. A rapidez de ação e capacidade para sair com a bola (controlada) em (muita) velocidade fazem de Rafa Silva uma das lanças do ataque bracarense; quer em momentos ofensivos, quer defensivos; quer a esticar o jogo do Sp. Braga quando é preciso forçar o ataque, quer a lançar o Sp. Braga em contra-ataque fazendo da sua velocidade e talento armas preferíveis para estas transições quando a equipa tem como estratégia defender. O jovem de 23 anos não o faz sem, bastas vezes, adornar a sua ação com momentos de brilhantismo.

Bracali (Arouca)

Defesas a penáltis, grandes paradas e outras intervenções comummente rotuladas de impossíveis: assim se pode avaliar a importância de um guarda-redes numa equipa quando reflete as suas exibições por estas ações; que são decisivas. A segurança defensiva que o Arouca demonstrou ao longo da Liga não é por acaso: deve-se muito a Bracali, o primeiro (porque também último reduto defensivo) a garantir esse desempenho de pouco mais de um golo (38) sofrido por jornada (34). Há defesas conseguidas que são como golos marcados. Bracali fez várias neste campeonato contribuindo para essa palavra-chave segurança.

Walter González (Arouca)

Chegou a meio da época para reforçar o Arouca. E foi reforço marcando golos muito importantes para esta caminhada que terminou na Europa. As aspirações europeias de uma equipa com três milhões de euros de orçamento (o Sp. Braga, logo acima na classificação, teve 18 milhões para esta época 2015/16) começaram a ganhar corpo à 23ª jornada com um triunfo no Restelo em que foi Walter González a abrir as portas da vitória arouquense. Mas, antes, já se tinha a dado a conhecer. E de que maneira. Ao segundo jogo (como suplente) marcou logo. Ao primeiro jogo a titular derrubou o FC Porto em pleno Dragão com dois golos. O primeiro foi o mais rápido de todo o campeonato. Acabou a Liga com sete. E a equipa na UEFA.

Diogo Jota (P. Ferreira)

Na época anterior foi uma revelação, nesta afirmou-se de tal forma que a sua dimensão ultrapassou as fronteiras e terminou contratado pelo At. Madrid. Não é um ponta de lança, mas marcou, ainda assim, 12 golos na Liga. Foi o mais utilizado por Jorge Simão no Paços: jogou 2754 minutos. Jogou com a irreverência de um jovem de 19 anos que entusiasma os que veem futebol há muitos mais. Rápido, cheio de técnica, a ir para cima do adversário, sempre a procurar o golo. Num atacante, pode pedir-se muito mais a nível individual?

Léo Bonatini (Estoril)

Terminou o campeonato como o quarto melhor marcador – com 17 golos obtidos – mas começou a ser uma das suas figuras desde cedo. O jovem avançado de 22 anos foi fundamental para que a equipa do Estoril tenha voltado a ter ambição de disputar as competições europeias. Com uma primeira volta a toda o gás, Léo Bonatini justificou logo o investimento da equipa portuguesa que nesta época o contratou em definitivo. Com golos só seus o Estoril conseguiu dez pontos: duas vitórias por 1-0 (com Sp. Braga e Tondela) e quatro empates 1-1 (com Académica, Nacional, Boavista e Marítimo).

*Numa última referência aos destaques da Liga que não integram a equipa campeã nacional há ainda outros jogadores que merecem uma nomeação pela forma como contribuíram para o engrandecimento da sua equipa em particular e da prova no seu todo.Sebastián Coates tem de ser incluído pela solidez defensiva que trouxe ao Sporting a meio da época. Contratado no mercado de inverno, o uruguaio reforçou a consistência que Jorge Jesus tem como determinante nas suas equipas logo a partir de trás.

Ainda tendo o Sporting como clube de fundo é incontornável a figura de Bryan Ruiz pela classe, técnica e alguns momentos de genialidade que à Liga deu, além das onze assistências aos companheiros de equipa.

Hugo Basto está no décimo lugar dos jogadores mais utilizados na Liga e a solidez defensiva do Arouca não é em nada alheia às exibições do central de 22 anos, jovem na idade, mas já maduro na liderança do seu sector.

As últimas referências ficam para Pica, defesa do Tondela que foi lá frente marcar alguns golos (o da vitória em Setúbal foi fundamental) para a fantástica recuperação da equipa de Petit e para Hélder Postiga, o internacional português que desatou a marcar golos nas últimas três rondas contribuindo de forma essencial par que o Rio Ave chegasse às competições europeias.