Um calor abrasador contrastava com um cenário pouco festivo. Afinal de contas, é dia de Liga dos Campeões no Porto.

O Maisfutebol chega à Alameda do Dragão às 16h10 e encontra, de imediato, adeptos vestidos a rigor… com camisolas de Sporting e FC Porto.

«Conseguimos os bilhetes pelo site da UEFA», começa por dizer o porta-voz do grupo, equipado com a camisola dos azuis e brancos.

«Já fomos assistir a algumas finais da Champions e todos os anos tentámos conseguir bilhetes. A primeira final a que assistimos foi em Moscovo, em 2008, entre o Manchester United e o Chelsea. O Ronado ainda jogava no United. O jogo foi a penáltis e ficou marcado por aquela derrapagem do John Terry», acrescenta.

A partir daí, este grupo de portugueses começou a correr a Europa para ver o jogo que ninguém quer perder.

«Fomos ver as finais a Roma, Cardiff, Madrid e Londres. Só não conseguimos ir no ano passado. Temos tido alguma sorte», confessa.

De resto, estes adeptos de FC Porto e Sporting não têm dúvidas na hora de apontarem um preferido para levantar o troféu.

«Queremos que vença o Chelsea. Não pelos jogadores, mas pela afinidade de alguns jogadores do City», disparam, entre risos.

Enquanto o Maisfutebol prossegue a caminha para zonas mais próximas do estádio quase «tropeça» num casal de adeptos da equipa de Bernardo, Cancelo e Rúben Dias. John não hesita em conversar e enumera-nos as dificuldades que encontrou para viajar para Portugal.

«Chegámos quinta-feira de manhã de Edimburgo. Os voos de Manchester para o Porto eram muito caros e fomos obrigados a encontrar alternativas. Só quero que tudo acabe depressa e que seja uma final memorável para nós. Esta é uma altura terrível por causa da Covid-19. Nada é igual», lamenta.

Este adepto do Man. City considera que o ambiente em torno do jogo não é o que devia ser. Ou melhor, não é idêntico ao que estava habituado.

«Reencontrámos aqui pessoas que não víamos há imenso tempo e não podemos abraçá-las. Espero que na próxima época possamos viver os jogos da forma mais normal possível. Apesar da Covid-19, não poderia perder este jogo por nada. Tenho bilhete de época desde 1987, costumo assistir a todos os jogos. Vi várias parvoíces, mas agora o clube está bem», confessa.

John aproveita para defender que o dinheiro não é apenas a única justificação para o clube estar na final da Liga dos Campeões.

«O dono tem imenso dinheiro, mas isso não importa quando não tens um bom treinador. Nós temos um bom treinador. Tudo começou com o David Silva», frisa

A esposa intromete-se na conversa para revelar que é fã de Bernardo e Rúben Dias. «O Dias tem feito uma época brilhante! Adoro-o e acho que vai marcar de cabeça esta noite! Gosto muito do Bernardo também. É um jogador especial, tem uma técnica incrível. Tenho pena que seja sempre o primeiro a ser sacrificado», refere.



O ambiente contina calmo nas imediações do estádio a três horas do pontapé de saída. Ainda assim, é possível ver bandeiras de várias nacionalidades. Há, por exemplo, dois amigos brasileiros que nasceram no estado do Paraná e vão assistir ao jogo com a camisola do Londrina.

«Vivemos em Lisboa e esta é uma oportunidade única para ver a Liga dos Campeões! Para os brasileiros é difícil assistirmos à Champions ao vivo, por isso sempre que podemos vemos jogos na Luz e em Alvalade. Hoje estamos pelo City porque gostamos da forma como jogam», aponta o mais velho, sem se identificar, chamando o amigo para a conversa.

«Somos do Londrina, do estado do Paraná, e trazemos estas camisolas para todos os jogos. É uma forma de dizermos de onde somos», conclui.

Imediatamente ao lado encontram-se adeptos com bandeiras da Argélia. Fãs de Mahrez?

«Não tenho bilhete para o jogo, vou tentar ver na Baixa do Porto. Estou a torcer pelo City porque joga melhor e tem alguns jogadores dos quais gostámos como o Mahrez e o Jesus. Acho que merecem ganhar pela época que fizeram», sublinha Yacini Hamiche, porta-voz do quarteto de adeptos.



O ambiente continua descontraído. Há adeptos sentados nas escadarias em frente a uma das portas de acesso ao estádio, outros deitados à sombra. É preciso esperar mais um pouco até encontrar um adepto do Chelsea em frente ao Dragão: Aaron, adepto do Chelsea desde a viragem do século, é a exceção.  

«Vivi, provavelmente, os melhores anos do Chelsea. O meu pai não teve essa sorte. Acho que o Chelsea deu um salto tremendo com a chegada do Mourinho. Mesmo que ele tenha treinado o United e os Spurs e tenha dito coisas que não gostámos, será sempre uma lenda do Chelsea. Nada vai mudar isso», sublinha.

Este adeptos dos blues aproveitou a conversa para lembrar o duelo do FC Porto, nos quartos de final. «Ninguém esperava que o Chelsea estivesse aqui. A eliminatória contra o FC Porto foi mais dura do que contra o Real Madrid. Não esperava que a equipa do FC Porto fosse tão forte defensivamente embora ache que lhes faltou poder ofensivo», aponta.

Antes de o Maisfutebol entrar no Dragão, Aaron defendeu que o Chelsea pode partir em vantagem para este jogo.

«Somos os underdogs. Ninguém esperava que o Chelsea ganhasse a Liga dos Campeões. O clube já a ganhou por uma vez e existe uma pressão tremenda para que o City e o Pep a vençam. Acho que se aguentarmos bem a primeira meia-hora poderemos ganhar», refere.

Loucura, amor, chame-lhe o que quiser. Todos os caminhos vão dar ao Dragão, esta noite.