Mais lesivo do que um assalto à Torre del Oro, mais cruel do que uma faena na Praça de Touros da Maestranza.

Num duelo de azuis contra «blues», numa inédita eliminatória a duas mãos no mesmo palco, o FC Porto foi atraiçoado com dois golpes duros como punhais no seu esforço notável em bater-se olhos nos olhos com o milionário Chelsea durante a primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões.

Nesta eliminatória, tudo começa e acaba em Sevilha e no Sánchez Pizjuán. E esta noite, apesar de uma injusta derrota em casa emprestada por 2-0, a equipa de Sérgio Conceição demonstrou que pode superiorizar-se durante uma parte inteira à equipa de Thomas Tuchel.

Grujic e Luis Díaz surgiram, como esperado, no lugar dos castigados Sérgio Oliveira e Taremi e o sistema portista, com Marega mais fixo e Díaz mais solto na frente, encaixou no 3-4-3 dos londrinos.

Com uma disciplina militar, o FC Porto apresentou onze soldados no terreno. Uribe deu o alerta aos 11 minutos, Otávio quase fez um canto direto aos 24m, com Zaidu a falhar a recarga. Até que num disparo o moral das tropas abalou.

O FC Porto criava, o Chelsea marcou na única oportunidade que teve na primeira parte. Zaidu ficou nas covas e o prodígio Mason Mount recebeu, rodou e rematou rasteiro e colocado com a bola a passar a centímetros do pé de Marchesín, que podia ter feito mais.

Quanta crueldade.

O FC Porto ainda antes do intervalo voltou a farejar o golo. Aos 43 houve até duas oportunidades no mesmo minuto. Corona teve o remate intercetado por Azpilicueta e, no canto, o cabeceamento de Pepe morreu nas mãos de Mendy.

45 minutos de alto nível, que uns segundos de desconcentração deitaram tudo a perder.

Subjetividade? Bom, atentem então nos números ao intervalo: 8-1 em remates a favor dos campeões nacionais (2-1 à baliza), 7-2 em cantos, apesar da ligeira desvantagem na posse de bola (43%-57%).

Havia o segundo tempo de começar com Marega a desperdiçar uma assistência primorosa de Manafá – 100.º jogo pelo FC Porto –, que o deixou na cara de Mendy. Havia Díaz de falhar o empate aos 57m. Até que na meia-hora final o Chelsea haveria de capitalizar o espaço que o FC Porto acabou por dar ao tentar arriscar um pouco mais.

O que Marega ganhava em físico, desperdiçava na definição. Ainda assim, o maliano caiu na área aos 72m empurrado por Azpilicueta, num lance já dentro dos limites da área, que o árbitro esloveno Slavko Vincic e que o VAR decidiram não considerar grande penalidade.

Por cima, Conceição arriscou um pouco mais para tentar chegar ao empate: tirou Manafá, Otávio e Marega, lançou Fábio Vieira, Francisco Conceição e Toni Martínez, recuando Corona para lateral. Arriscou e perdeu.

Acabaria o Chelsea por cima na partida e depois do prenúncio de Pulisic, que acertou no poste aos 84m, Chilwell aproveitou um erro de Corona para sentenciar o marcador em 2-0.

Cruel, muito cruel.

Haja, ainda assim, fé para a segunda mão, na próxima terça-feira, de novo no Sánchez Pizjuán, naquilo que será um jogo fora num campo neutro.

O FC Porto que se agiganta na «Champions» ganhou o direito a acreditar. Seja contra quem e em que circunstâncias for.

Haja fé para a remontada.

A ambição terá de ser do tamanho da Giralda. E, já agora, que haja uma mãozinha da Virgem de los Reyes, padroeira de Sevilha, a dar a sua bênção ao brasão portista.

Afinal, a fé move montanhas.