Ares de vice-campeão da Liga Europa no primeiro tempo, tiques de altivez despropositada e relaxamento precoce no segundo. Do esplendor ao bocejo, da inspiração suprema à perigosa atracção pela indolência. Sp. Braga de duas caras, como se vê, a deixar algumas interrogações apesar do triunfo justo e assoberbado perante um Maribor muito light: aparentemente débil, mas capaz de provocar alguns sustos à saúde.

Falemos do essencial, antes de mais: o Sp. Braga está bem colocado para chegar aos 16-avos-de-final, cumpriu a obrigação, chegou a deslumbrar e tem tudo para continuar mais uns tempos envolvido na segunda competição da UEFA. Só depende de si, pelo menos, pois tem agora os mesmos sete pontos de Birmingham e Club Brugge. É suficiente?

OS DESTAQUES: grande noite de Alan e Hugo Viana

Para os menos exigentes, sim. Afinal, os 45 minutos iniciais foram excelsos, francamente bons. Postura pressionante, meio-campo em rotação altíssima, Alan e Hélder Barbosa inspirados nas alas e Lima implacável com os equívocos alheios.

O primeiro golo, ainda nos minutos iniciais, assinala precisamente isso. O guarda-redes Handanovic larga a bola como quem larga o temor mais indesejável e o ponta-de-lança brasileiro aproveita para marcar. Como se não bastasse, pouco depois, Alan pega na enciclopédia dos golos impossíveis, folheia página a página e responde com um pontapé tremendo de pé esquerdo. Notável!

O Maribor, campeão esloveno, fazia o que podia. Pouco, muito pouco. Atrapalhado atrás [o golo de Elderson, o 3-0, é hilariante], complicado no meio, limitado à frente. Talvez assim se possa explicar por que Quim fez a primeira defesa só aos 41 minutos e a segunda aos 43.

Até aí, ao intervalo, a metade do relvado defendida pelos arsenalistas mostrava garbosamente um verde resplandecente, tocado somente pela chuva impiedosa. Tudo o que se passava, passava-se na área eslovena.

FICHA DE JOGO

As coisas mudaram, porém. O Sp. Braga preguiçou, talvez compreensivelmente, baixou o ritmo, as linhas e convidou o Maribor a jogar um bocadinho de futebol. Os homens do leste europeu fizeram-lhe a vontade e chegaram ao golo impensável. Não havia necessidade.

Impulsionado pelos assobios das bancadas e as palavras do treinador, o Braga regressou ao jogo e despediu-se com mais dois golos. Bastou carregar muito ao de leve no acelerador.

Paulo Vinícius, num bom cabeceamento, e o espanhol Fran Mérida através de um remate com o pé esquerdo, repuseram a diferença real entre as duas equipas: 5-1. Birmingham e Club Brugge vão exigir mais a esta equipa de Leonardo Jardim.