* por Rui Catalão, serviço especial para o Maisfutebol

Resultados e exibições nem sempre andam de mão dada. Jorge Jesus já tinha falado disso na véspera, quando dissera que o Benfica era a melhor equipa de Portugal. Em Alkmaar, o facto inegável da noite é que os encarnados saem em óptima posição para seguir em frente na competição. Mais, puseram fim a 45 anos sem uma vitória em solo holandês, naquele que foi o regresso ao país onde em Maio perdera a final da Liga Europa. Mas também é certo que o fizeram sem brilhar.

A pressão estava toda do lado do Benfica e isso notou-se assim que o árbitro Svein Oddvar Moen apitou para o início do jogo. O AZ adoptou a postura de quem reconhece a inferioridade, mas sempre à espreita de desequilíbrios. O Benfica, por outro lado, deu por si mais do que uma vez com a bola nos pés sem saber o que lhe fazer.

A equipa de Dick Advocaat, pelo contrário, parecia ter sempre a noção exacta do que podia criar no ataque. Com o avançado Aron Jóhannsson, figura da equipa, de regresso ao onze, o AZ aparecia com um trio de jogadores velozes, com Berghuis e Beerens nas alas.

Este último acabaria por ser mesmo a figura da primeira parte. Logo aos cinco minutos, arrancou depois de um toque habilidoso de Simon Poulsen e veio da esquerda em direcção ao meio. Com um remate em arco, ligeiramente ao lado, deu o primeiro sinal de que a vida do Benfica não ia ser tão simples.

Jorge Jesus seguiu o princípio de rotatividade do plantel e fez seis alterações em relação ao jogo com o Sp. Braga. Oblak, Sílvio, Fejsa, Enzo Pérez, Markovic e Lima saíram dos titulares para dar lugar a Artur, Maxi Pereira, Ruben Amorim, André Gomes, Salvio e Cardozo. Feitas as contas, era um onze inédito aquele que os encarnados apresentavam em Alkmaar.

O Benfica não encontrava fio de jogo digno desse nome. Gaitán juntava-se com frequência a Amorim e André Gomes, mas era Rodrigo quem mais procurava vir ao meio-campo para se alimentar de bola. A viver uma fase de grande confiança, o avançado de 23 anos mostrava também alguma frustração quando os colegas de equipas não faziam o que lhe parecia mais acertado. O que, na verdade, acontecia demasiadas vezes, embora ele próprio estivesse pouco inspirado.

Enquanto isso, Beerens mantinha a alta rotação no ataque do AZ. Aos 19 minutos partiu para mais uma investida. Depois serviu Jóhannsson, que só não marcou o seu 26.º golo desta época porque Artur defendeu. O guarda-redes brasileiro seria posto novamente à prova no minuto seguinte, com um potente remate de Berghuis.
Previsível e sem velocidade, o Benfica fazia também demasiada cerimónia quando se aproximava da área do AZ. Exemplo disso foi o que aconteceu aos 32 minutos, quando Rodrigo não quis chutar logo e o lance ainda se transformou em contra-ataque do adversário.

O cenário cinzento da primeira parte ainda pioraria já mais perto do intervalo, quando Ruben Amorim se lesionou. André Almeida saltou do banco de imediato. E antes de as equipas regressarem aos balneários Berghuis voltou a testar Artur.

Reentrada decisiva

Se o AZ tinha estado praticamente irrepreensível até ao intervalo, na segunda parte cometeu logo um erro fatal. Viergever cedeu à pressão de Rodrigo e perdeu a bola em frente à sua área. A defesa do AZ ainda evitou o remate de Cardozo, mas a bola sobrou para Salvio, que – com Esteban fora da baliza – rematou de primeira para o 1-0.

O golo alterou por completo a natureza da partida. O Benfica ganhou conforto, ainda que sem entusiasmar. O AZ, por outro lado, começou a acusar os efeitos de se ver em desvantagem, em casa, numa eliminatória já por si muito complicada. Advocaat não demorou a mexer: tirou um lateral de raiz (Poulsen) e pôs Gudmundsson, um jogador ofensivo, a cobrir a ala esquerda. Em momento de ataque, o AZ passaria a ficar com apenas três defesas.

Jesus também voltou a olhar para o banco. Desta vez não foi tão forçado como no momento de substituir Amorim, mas a prestação pouco feliz de Cardozo serviu como um óbvio convite para o técnico tirar o paraguaio e chamar Lima ao jogo. Mais tarde, Rodrigo daria lugar a Markovic, que mal teve oportunidade de partilhar o campo com o compatriota Nemanja Gudelj – o médio do AZ sairia lesionado pouco depois.
Os últimos minutos acrescentaram pouco a história do encontro. O Benfica limitou-se ao risco calculado, mas ainda poderia ter aumentado a vantagem na eliminatória. Lima esteve perto do golo, com um cabeceamento travado por Esteban. O AZ forçou o que pôde, sem nunca estar verdadeiramente perto do empate. Jóhannsson confirmou o mau momento de forma, ao desperdiçar mais do que uma boa ocasião para apontar à baliza de Artur.

O resultado abre as portas das meias-finais à equipa da Luz, que em casa só terá de garantir que o AZ não provoca nenhuma surpresa. A julgar pelo registo dos holandeses fora de casa (ainda sem perder nesta prova, mas com dez derrotas em 15 jogos para o campeonato), um Benfica razoável chegará para confirmar a terceira meia-final em quatro épocas.