Cá está algo estranho para o Manchester United e para José Mourinho. A Liga Europa, mais uma vez a falar muito português, ainda que com o Sp. Braga como único clube nacional presente. A prova nem se chamava assim da última vez que o treinador português por lá andou. Passaram mais de 13 anos desde Sevilha, quando Mourinho ganhou com o FC Porto a então Taça UEFA. Nunca mais voltou a jogar a competição desde aquele 21 de maio de 2003, passou para outro patamar e tornou-se um dos treinadores de referência da História da Europa do futebol. Mourinho tem 14 jogos na Taça UEFA, nenhum desde que se chama Liga Europa. 13 deles foram na campanha com o FC Porto até à vitória final, o outro foi onde começou a história europeia do Special One, três anos antes daquela final com o Celtic. 

28 de setembro de 2000, Estádio da Luz, está a fazer 16 anos. Era apenas o segundo jogo da vida de José Mourinho como treinador principal, ele que tinha acabado de chegar ao Benfica para o lugar de Jupp Heynckes. Entre toda a turbulência do momento, o Benfica estava a meio de uma eliminatória europeia, com o Halmstads.

Depois da derrota por 1-2 na Suécia, a segunda mão dessa primeira ronda da Taça UEFA acontecia cinco dias depois da estreia absoluta de Mourinho, frente ao Boavista para o campeonato, derrota por 0-1.

«Não entrámos bem no Bessa e fomos jogar passados poucos dias com o Halmstads», recorda ao Maisfutebol João Tomás, na altura um jovem avançado de 25 anos que tinha chegado à Luz depois de se ter destacado na Académica. «Lembro-me bem do jogo na Suécia, numa estádio pequeno, muito típico dos nórdicos. Perdemos, mas tínhamos a expectativa de passar na Luz.»

Começou bem para o Benfica, que se adiantou aos 23 minutos num golo de Van Hooijdonk. Mas o Halmstads empatou à passagem da meia-hora e ficou por cima. Ainda aumentou a vantagem a três minutos do fim, aos 89m um golo de Miguel evitou a derrota do Benfica e fixou o resultado em 2-2, mas a eliminatória estava perdida. (Pode recordar aqui a crónica e a ficha do jogo, tal como o viu o Maisfutebol naquele dia)

A eliminação, recorda João Tomás, foi «uma grande desilusão, logo na primeira eliminatória». Mas José Mourinho deixou elogios à equipa no fim. E deixou aquela que foi uma das suas primeiras tiradas com impacto, ele que faria daí para a frente de «sound bytes» fortes e mais ou menos diretos a sua imagem de marca: «Só vou para a guerra com aqueles em quem confio.» (Está aqui também a conferência de imprensa de Mourinho no fim daquele jogo)

É o tipo de frase que passa uma mensagem. «Serve para qualquer pessoa. Os jogadores entendem sempre, são sempre recados muito diretos e de fácil compreensão», diz João Tomás, garantindo que Mourinho teve o grupo consigo desde o início:  «A demonstração de que estivemos com ele foi aquilo que fizemos depois.»

João Tomás não diz que viu desde o primeiro momento algo especial em Mourinho, ou que lhe anteviu um futuro como o que viria a ter. Mas há pequenas coisas que já faziam a diferença, para aquele tempo.

«Lembro-me muito bem da primeira conversa que tive com ele. Quando ele chegou, falou um a um com cada jogador», conta João Tomás. «Quando chegou a minha vez estava muito ansioso, não sabia o que ia acontecer. Não estava habituado àquilo.»

«Disse-me que era um jovem, que tinha chegado da II Divisão mas que já me conhecia bem, que esperava muito de mim, que ia fazer muitos golos e as coisas iam correr bem. A conversa foi tão boa e tão motivadora que me deixou cheio de vontade de retribuir a confiança que ele me tinha passado», conta João Tomás, lembrando que isto se passou há 16 anos: «Se calhar agora é vulgar, mas há tantos anos, e nas circunstâncias em que foi, foi altamente motivador.»

A história não durou muito mais tempo. Mourinho não chegou a estar três meses na Luz, saiu no início de dezembro ao fim de 11 jogos, a seguir a vencer o Sporting para o campeonato por 3-0, dum dérbi em que João Tomás saiu do banco a meia hora do fim para marcar dois golos.

A manchete do Maisfutebol a 3 de dezembro de 2000

«Acabou por estar pouquíssimo tempo no Benfica devido à instabilidade no clube, foi na altura em que entrou outro presidente (Manuel Vilarinho) com a promessa eleitoral que o seu treinador seria outro. Infelizmente partiu para  ser aquilo que foi e que ainda é», conclui João Tomás: «Ficou sempre um amargo de boca sobre o que teria acontecido se tivesse ficado no Benfica até ao final da época e para lá disso.»

Não ficou. Para Mourinho seguiu-se o U. Leiria, depois o FC Porto e um ciclo de sucesso com o clube azul e branco que o levou à conquista de Sevilha e, um ano depois, à conquista da Liga dos Campeões em Gelsenkirchen.

Estava lançado. Seguiu-se o Chelsea, depois o Inter, de onde saiu com mais uma Liga dos Campeões no bolso. A seguir o Real Madrid, de novo o Chelsea e, agora, o Manchester United. Ironia, sem jogar a Liga dos Campeões nesta primeira época.

O quinto lugar em que Van Gaal deixou o United só deu para a Liga Europa, e o bicampeão europeu Mourinho, o homem que orientou mais de 130 jogos na Champions ao longo destes 16 anos, vai para a Liga Europa. É a única prova europeia que o United nunca ganhou, mas estará longe de ser prioridade para o clube numa época em que precisa mesmo é de voltar ao topo no futebol inglês. 

Mourinho admitiu isso mesmo nesta quarta-feira, na antevisão do jogo com o Feyenoord, que marca a estreia absoluta do Manchester United numa fase de grupos da Liga Europa. «Esta não é a competição que o Manchester United quer», disse: «Mas é a competição onde estamos e essa é a realidade. Temos de encontrar a motivação que eu já encontrei e passá-la para os jogadores, porque sabemos que a Liga Europa não é um grande sonho para os grandes jogadores.»

Mourinho é um de cinco treinadores portugueses em competição na fase de grupos da Liga Europa. Além de José Peseiro com o Sp. Braga, há ainda Paulo Fonseca com o Shakhtar Donetsk, aliás no mesmo grupo dos minhotos, Paulo Sousa na Fiorentina e Paulo Bento no Olympiakos.

Os jogos da primeira jornada da fase de grupos da Liga Europa:

18 horas:

Grupo A:
Feyenoord – Manchester United
Zorya – Fenerbahçe

Grupo B:
APOEL Nicósia – Astana
Young Boys – Olympiacos

Grupo C
Mainz – Saint-Étienne 
Anderlecht – Qabala

Grupo D
AZ Alkmaar – Dundalk
Maccabi Telavive – Zenit

Grupo E
Astra, Rom – Austria Viena
Viktoria Plzen - Roma

Grupo F
Rapid Viena– Genk
Sassuolo– Athletic Bilbau

20h05:

Grupo G
Standard Liège – Celta Vigo
Panathinaikos– Ajax

Grupo H:
Sporting de Braga – Gent
Konyaspor - Shakhtar Donetsk

Grupo I
Salzburgo– Krasnodar
Nice– Schalke 04

Grupo J:
Qarabag– Slovan Liberec
PAOK Salónica – Fiorentina

Grupo K
Inter de Milão– Hapoel Beer-Sheva
Southampton– Sparta Praga

Grupo L
Osmanlispor– Steaua Bucareste
Villarreal– Zurique