Mesmo que não estivesse a chover, este era um jogo para o líder pegar na camisola e torcer até à última pinga. Noventa minutos de trabalho, raça e sofrimento para segurar a liderança mais uma semana. O Benfica respondeu com esforço e fé à goleada do FC Porto e, não conseguindo a mais convincente das exibições, deixando o jogo aberto até ao fim e à mercê de um penalizador empate, continua na frente do campeonato, que era, afinal de contas, o objetivo mor nesta visita à Feira.

Não foi tudo bom, pelo contrário, na noite do Benfica, em que um golo apenas foi suficiente para desequilibrar um jogo amarrado praticamente de início a fim.

Aliás, o melhor elogio que que pode fazer ao Feirense é que o encontro, sobretudo na primeira metade, mas não só, foi muito mais o que a equipa de Nuno Manta pretendia, do que aquilo que Rui Vitória tinha em mente. Sem armas para um duelo na técnica, onde a equipa do Benfica triunfaria claramente, os azuis levaram o jogo para a raça. Sempre de língua entre os dentes, a pressionar alto e dificultando, muito, a construção do Benfica.

Até porque já começa a ser paradigmático: o Benfica tem muito mais dificuldades contra adversários que lhe perdem o respeito, dividem o jogo e tentam fazer estragos, do que contra os que baixam o bloco à espera de um erro. A equipa de Rui Vitória não comete muitos erros não forçados, mas treme mais quando o rival lhe cai em cima.

E na Feira foi assim. Tanto que a primeira ocasião de golo do Benfica, já depois de Karamanos, no primeiro lance do jogo, ter atirado a rasar o poste, foi criada num contra-ataque. Um lance incrível, praticamente de quatro para um que Salvio desperdiçou incompreensivelmente.

O Feirense sobreviveu a essa investida e ao cabeceamento de Mitroglou, que Vaná segurou com as pontas dos dedos, reagiu com uma oportunidade soberana que Luís Machado atirou por cima e só caiu quando Pizzi, após um lance confuso à entrada da área, em que houve demérito da casa e sorte visitante, ficou na cara de Vaná. Depois foi praticamente perguntar-lhe para que lado queria a bola, abrir o ativo e fechar o jogo.

Aqui chegados convém esclarecer que Rui Vitória reservou como surpresa no onze a saída de Rafa, apostando em Zivkovic mais perto de Mitroglou, com Salvio e Carrillo nas alas. O Feirense respondeu com o habitual 4-3-3, com o miolo reforçado por Babanco, pedra útil para ajudar a defender as subidas dos laterais encarnados, hoje Eliseu e André Almeida, face ao castigo de Nelson Semedo.

Os esquemas que começaram o jogo ficaram inalteráveis após o descanso. E o início do segundo tempo, pese uma perdida de Etebo na cara de Ederson, foi o pior período do Feirense no jogo e, por conseguinte, o melhor do Benfica. Naqueles primeiros vinte minutos adivinhou-se o 0-2, mas por um ou outro motivo não chegou.

Vaná, num erro incrível, ainda «tentou ajudar», mas Mitroglou não foi suficientemente expedito a atirar para uma baliza deserta e, quando o fez, já não estava assim tão despida. Daí que tenha esbarrado num defensor azul. O grego voltou a desperdiçar pouco depois, num cabeceamento ao segundo poste e percebeu-se, então, que ia ser preciso sofrer até ao fim.

Porque o Feirense, por seu turno, sobrevivendo a essa fase mais complicada, ficou também muito perto de empatar ao minuto 70. Tão perto que o próprio Ederson ainda deve estar para saber como defendeu o remate de Karamanos, após canto. O brasileiro perdeu a noção da bola, mas esta, como ferro a colar num íman, bateu no pé do guardião e não passou a linha.

O lance assustou o Benfica, que reagiu num remate de Salvio a rasar o poste, após centro de Cervi, que substituíra Carrillo, e, depois, com a entrada em campo de Jonas para o lugar do mesmo Salvio.

Rui Vitória fazia o possível pelo golo da tranquilidade. O Feirense, sem a disponibilidade do primeiro tempo, tentava aguentar e esperar um lance que mudasse a história do jogo. Muito provavelmente num passe longo para Karamanos, a principal arma da casa a partir de dada altura.

Nem uma coisa nem outra. O Benfica acabou a controlar a bola à espera que o tempo passasse, o Feirense nunca mais criou o perigo da primeira parte. Assim, era difícil que o resultado se alterasse. E não mudou, claro.

Mesmo em esforço, venceu o Benfica e segue líder. A pressão continua ao virar da esquina mas a águia aguenta firme o voo. Pelo menos mais uma semana é ela que indica o caminho.