«Temos de começar por criar os alicerces para que a casa se aguente. Depois vamos pintá-la com as cores de que gostamos e que a tornem mais bonita. No fundo, vamos enfeitá-la.»

Miguel Leal elaborou o plano e a construção está em marcha. O Boavista regressou aos triunfos na Liga e em terreno difícil. Momento de crise para o Rio Ave, em ciclo de sete jogos sem vencer (1-2).

A formação axadrezada marcou, sofreu e marcou novamente. Terminou o jogo a queimar tempo, a defender junto da sua baliza, mas a prática não pode ser condenável perante a proximidade de um triunfo importante.

Agayev é a grande figura deste novo Boavista. Segurou os três pontos e voltou a ser o mais efusivo nos festejos com os adeptos. Veio do Azerbaijão para substituir Mika e conquistou o Bessa.

O Rio Ave tem razões de queixa de Manuel Mota e fez por merecer o empate. Porém, tem culpa própria neste desfecho. Faltam soluções.

Um bom cartaz em jornada de clássico

Frio em Vila do Conde, a anunciar que o verão já lá vai, moldura humana relativamente interessante para uma noite que puxava para o conforto do lar. Num fim-de-semana em que o clássico FC Porto-Benfica é incontornável cabeça-de-cartaz, outros espetáculos da Liga eram aguardados com expectativas, sobretudo este Rio Ave-Boavista.

Equipas relativamente próximas, no mapa de Portugal e na tabela classificativa. Um Rio Ave em aparente quebra após bom início de temporada, o Boavista a ganhar nova vida com a chegada de Miguel Leal.

O futebol equilibrado mas positivo do homem que chegou ao Bessa traduziu-se numa boa entrada em campo, anunciando uma formação axadrezada com predisposição para discutir o controlo do jogo. Mais tranquilo que o adversário, o onze boavisteiro pressionou alto e superiorizou-se nos primeiros minutos.

A equipa de Nuno Capucho, que trocou Yazalde por Guedes (o melhor marcador do Rio Ave, apenas com 2 golos), foi estabilizando e começou a duvidar de Manuel Mota após um fora-de-jogo tirado a Héldon. Sem margem para dúvidas, porém, foi a carga de Idris sobre Tarantini ao minuto 19. Penálti por assinalar.

Um toque maltês na obra de Renato

Indiferente a esse foco de contestação, o Boavista logrou chegar à vantagem em movimento delicioso. Bola longa, toque inteligentíssimo de Schembri – este maltês não é ponta-de-lança mas tem qualidade de sobra – e Renato Santos a caminhar para a área do Rio Ave. Vendo Cássio adiantado, Renato encheu o pé e marcou um golaço, de meia distância. Para ver e rever.

A equipa da casa acusou o golo. Dividia-se entre a tentativa de resposta e a fúria direcionada para o árbitro. Pouco depois, Rúben Ribeiro fica a pedir mão de Henrique na área. Difícil avaliar. O Rio Ave chegaria ainda assim ao empate, já ao minuto 34, quando Pedrinho cruzou com categoria pela direita e Gil Dias respondeu com um cabeceamento como mandam as regras, de cima para baixo.

O jogo andava assim, animado, por vezes duro (Wakaso viu amarelo por entrada perigosíssima sobre o adversário) e nem o intervalo mudaria o figurino.

Henrique já tinha ameaçado o golo em dois pontapés de canto. À terceira foi de vez. No arranque da etapa complementar, o central foi à área contrária e viu Cássio defender para a frete após canto cobrado por Iuri Medeiros. Henrique agradeceu e empurrou para a baliza.

Nova desvantagem do Rio Ave e carta branca para um ataque desmedido à baliza do Boavista. Héldon teve um falhanço incrível ao segundo poste, com as redes à sua mercê, e os axadrezados responderam com Iuri Medeiros a isolar-se, valendo Cássio a afastar a hipótese do 1-3.

Erro estratégico na corrida contra o tempo

A intranquilidade apoderava-se dos homens de Vila do Conde. Nuno Capucho não quis perder tempo precioso e alargou a frente de ataque com Yazalde. Ainda antes da hora de jogo, Wakaso ia tomar banho e a estratégia passava para um ousado 4x4x2. Essa opção condicionou os movimentos de Rúben Ribeiro e Tarantini, provendo ser contraproducente. O Rio Ave piorou.

O Boavista, nessa fase, sentiu-se confortável no jogo.

Esta realidade tornou-se tão evidente que Nuno Capucho decidiu emendar a mão e voltar à estratégia original. Tudo isto em nove minutos. Para recuperar o controlo a meio-campo, lançou Krovinovic mas sacrificou o outro avançado, Guedes. Uma mudança que irritou os adeptos locais.

Com o final do jogo a aproximar-se, o Boavista foi baixando linhas e o Rio Ave montou o cerco. Ronan foi a derradeira arma da equipa de Vila do Conde, uma torre para a área axadrezada, mas as melhores oportunidades estiveram nos pés de Krovinovic. Ao minuto 77, o médio croata atirou a centímetros do poste axadrezado. Aos 82, viu Agayev voar para negar o empate.

Forte pressão mas sem resultados satisfatórios para o Rio Ave, que ainda se queixou de outros lances na área contrária. Yazalde caiu em disputa com Philipe Sampaio e Héldon, já nos descontos, introduziu a bola na baliza mas estaria em fora-de-jogo. Nestes casos, o árbitro parece ter decidido bem.