O FC Porto não esperou muito tempo para definir o nome do treinador. Fê-lo antes do final da época, quando ainda era Luís Castro quem comandava a equipa. Julen Lopetegui foi a surpreendente escolha de Pinto da Costa. Antigo jogador de Real Madrid e Barcelona, fez grande parte da carreira de técnico nas seleções jovens espanholas, com títulos europeus conquistados nos sub-19 e sub-21. Num distante ano de 2003, treinou um clube, o Rayo Vallecano, tendo sido despedido ao décimo jogo. Não será necessário explicar por que é arriscada a escolha. Aliás, as próprias explicações do presidente portista não foram tão exaustivas que dissipassem a dúvida

Não será a primeira vez que os portistas acertam um tiro no escuro , mas quando muitos pensavam num nome que não suscitasse dúvidas às bancadas do Dragão, que garantisse um balão de oxigénio em caso de mau arranque, surge um técnico pouco habituado às lides de treinar um clube, ainda por cima um grande, pouco exposto à imprensa, e a «cair de paraquedas» num país que não o seu. Nesta altura, ninguém sabe em concreto como vai o espanhol conduzir o FC Porto, e os habituais sucessos da formação do país vizinho não ajudam a esclarecê-lo.

Mas não é só de Lopetegui que há muito a esperar neste verão, e na próxima época. O plantel, percebeu-se na última temporada, fica a dever em qualidade (e até em alguma quantidade) sobretudo ao do campeão Benfica, clube que tentará impedir, a todo o custo, de conquistar o bicampeonato. Para cúmulo, o verão promete ser quente, de renovação intensa – o melhor que os contratos longos que existem o permitam. As poucas referências que a equipa dispunha estarão até comprometidas: Helton, lesionado com gravidade; Mangala e Fernando a caminho de Inglaterra, Jackson, provavelmente, com a cabeça noutros campeonatos. Quem sobra?

A indefinição começa na baliza. O capitão Helton terá comprometido a continuidade no Dragão com aquela lesão grave. Fabiano, a quem todos reconhecem grande talento, fez uma exibição fabulosa em Nápoles, e parte na frente para a nova temporada. Ricardo, contratado à Académica, terá a missão de manter bem acordado o brasileiro e de tentar aproveitar  as oportunidades que lhe derem.

Na defesa, Danilo e Alex Sandro nunca tiveram concorrência, e notou-se desgaste em alguns momentos. O seu rendimento não acompanhou o potencial, e sobretudo os milhões que o clube investiu nas suas contratações. À partida, serão parte do esqueleto do próximo onze-tipo, que, subsiste a dúvida, terá ou não Mangala? Maicon teve época pobre, Abdoulaye e Reyes mostraram fragilidades que não se coadunam com jogadores do nível de uma equipa como o FC Porto. Victor García ainda terá de crescer. Opare chega para manter bem despertos os titulares.

A meio do terreno, um nome tem sido escrito com alguma regularidade nos últimos dias: Izmailov. Terá o russo nova oportunidade no Dragão? E, se tiver, fará algum sentido? Aparentemente não.  Fernando estará a caminho de Inglaterra, porque onde há tanto rumor há sempre fogo. Defour e Herrera, os jogadores que terminaram a época como titulares, continuarão a ser aposta de Lopetegui? Chegarão para a subida de intensidade que se exige ao meio-campo portista? E o que se vai passar com Carlos Eduardo, Josué, Licá, que alternaram fases razoáveis com longas temporadas no banco? Quintero ainda parece ter um caminho tão longo de aprendizagem apesar do enorme talento, tal como Kayambe, Tozé e AguEvandro, já garantido, corre riscos de se tornar em pouco tempo a nova referência dos azuis-e-brancos. 

Kelvin é nesta altura uma promessa adiada sine die. O grande responsável pelo título de 2013 ainda não conseguiu provar que pode ser mais do que uma fezada momentânea de um treinador desesperado. 

Poderá Jackson ser convencido a aguentar mais um ano? O colombiano, melhor marcador da Liga, será talvez aquele (a par de Mangala) que mais dinheiro poderá fazer entrar nos cofres do Dragão - apesar dos milhões que Iturbe e Rolando ainda eventualmente fizerem entrar nos cofres do Dragão, por força de direitos de opção e das boas épocas na Serie A italiana. O argentino fez pela vida e passou de flop iminente a bom investimento, apesar de nunca ter convencido de dragão ao peito. Parece inevitável que o FC Porto terá de vender antes de comprar.

Varela, o mais fiel dos extremos, terá certamente o seu papel garantido na nova equipa. Ou, pelo menos,  merece-o. Mas esse onze tem de saber absorver o génio (e também o ego) de Ricardo Quaresma. De 2004 a 2008, conseguiu-o talvez por força das personalidades fortes de Jorge Costa e Lucho González, capazes de dirigir o balneário com uma liderança discreta. Agora, sem referências, Lopetegui terá pela frente a dura missão de reconstruir uma equipa forte, que não se reúna à volta do «Harry Potter» - porque não sendo um jogador de equipa, tal parece missão impossível -, mas que o exponha de  maneira a que mostre toda a sua magia. 

Os esforçados Ricardo Pereira e Ghilas poderão ser úteis numa equipa consolidada. 

No que diz respeito aos emprestados, Castro já decidiu a vida. O médio, talvez o mais parecido com João Moutinho que os dragões já tiveram no seu plantel, nunca foi aposta definitiva e decidiu-se a continuar a carreira na Turquia, onde estão também Bolat e Djalma. Acredita-se que estes dois também não voltem. O FC Porto garantiu Ricardo, e tem outros dois guarda-redes a quem resolver futuro: Ventura e Stefanovic, que estiveram cedidos. Walter é para continuar a marcar no Brasil. De todos, Tiago Rodrigues é talvez o que motiva mais esperança, mas a época que fez no Vitória Guimarães ficou bem aquém do esperado.

É verdade que estamos no início do mercado e serão meses longos os que esperam o FC Porto até ao pontapé de saída da temporada. A tarefa não parece nada fácil, mas se há clube que já deu provas de saber como se regenerar esse é o FC Porto.