Ser bicampeão mais de trinta anos depois, e desta vez passar mesmo, e pelo menos, aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Estes serão os objetivos do Benfica para a nova época.

Jorge Jesus tem mais um ano de contrato, e o clube deverá querer em breve renovar com o seu treinador, que terá pela frente uma escolha muito importante na carreira: ficar e poder continuar a fazer história em Portugal e aproximar cada vez mais os da Luz dos gigantes da Europa; ou aceitar uma proposta que eventualmente tenha na carteira, que lhe garanta um maior reconhecimento e a segurança financeira que todos que andam no meio perseguem.

O sucesso da equipa deve-se obviamente muito a Jesus, que tem evoluído como treinador paralelamente às suas equipas. Em quatro épocas, estas foram sempre diferentes e, provavelmente, a última é aquela que melhor representa as ideias do treinador: muito consistente a defender e explosiva no contra-ataque. Talvez Jesus, se pudesse, colocasse mais «nota artística», mas terá percebido que a fórmula ideal é a que encontrou algures no início desta época no meio de um conjunto de homens animicamente destroçados, a sofrer golos atrás de golos de bola parada e a ter de evitar, na Luz, uma segunda derrota no campeonato frente ao Gil Vicente, com dois remates certeiros nos descontos.

O técnico também sabe que a fronteira entre o sucesso e o insucesso é muitas vezes um golo no tempo de compensação, e foi a partir desses esforços de Markovic e Lima, muito sentidos pelos jogadores, que o Benfica cresceu para uma grande temporada.

No que diz respeito ao plantel, os encarnados terão nos argentinos Garay, Enzo Pérez e Gaitán os alvos mais apetecíveis para os gigantes do resto da Europa, uma vez que Rodrigo poderá estar inevitavelmente perdido para o Valência, entretanto comprado pelo magnata que detém o seu passe. O central nunca renderá muito dinheiro aos encarnados (50% do passe vai para o Real Madrid), o médio é nuclear na equipa e, a sair, uma baixa importantíssima a colmatar e do extremo tem chegado a maior percentagem de fantasia à equipa. Cardozo, por motivos diferentes, também estará na lista de transferências, mas por um valor bem mais baixo do recusado há um ano.

Se analisarmos o plantel por setores, Oblak é hoje dono e senhor da baliza, e o Benfica deverá ter encontrado mesmo um nome forte para os próximos anos, caso saiba estimá-lo, como se prevê. Artur Moraes será um candidato à saída, e ainda terá mercado em Itália. A caminho dos 36 anos,  Paulo Lopes, diz-se, poderá reformar-se. Haverá novo número 2?

Na defesa, Maxi Pereira vai entrar na nova época com 30 anos, depois de uma boa reta final e da mais que provável titularidade no Campeonato do Mundo. No entanto, durante a temporada, até se lesionar, parecia que Sílvio já tinha ganho maior estatuto que o uruguaio no plantel. O português, a quem todo o plantel se ligou muito na hora dos festejos, será, ao que tudo indica, alvo novamente dos encarnados no próximo mercado. Um novo empréstimo na calha, uma vez que haverá sempre pudor na Luz em pagar uma cláusula de opção avultada por um jogador que eles próprios formaram. Luisão e Garay formaram a melhor dupla da Liga, e se o brasileiro provou ainda estar aí para as curvas aos 33 anos o argentino foi mesmo o melhor defesa dos encarnados em toda a época. A saída de El Negro – está a ser negociado com o Zenit – estará precavida desde a última temporada, com a contratação de Lisandro López, que fez uma época interessante de adaptação ao futebol europeu no Getafe. Jardel é uma excelente unidade de banco, que tem correspondido bastante bem quando chamado. Já Steven Vitória e Mitrovic serão incógnitas nesta altura. Sidnei é para vender/emprestar e Lindelof ainda muito novo para estas contas.

Poucos se lembram agora, mas o primeiro dono do lado esquerdo da defesa encarnada foi Bruno Cortez, esquecido pelas boas prestações de Sílvio e, sobretudo, de Siqueira. O lateral brasileiro está emprestado pelo Granada, e o Benfica perderá certamente tempo a tentar convencer o clube espanhol a baixar o direito de opção. Não o conseguindo, essa será uma posição a reforçar rapidamente, e mais uma vez. Siqueira foi o 15º utilizado na esquerda desde que Jesus chegou ao Benfica. Isto apesar de André Almeida, que continua a corresponder ao que lhe pedem. Na equipa B, mora ainda o lateral-direito João Cancelo, que deverá ter, em teoria, um nível maior de exigência na próxima época do que a Liga de Honra. Seja com chamadas mais frequentes à equipa principal ou com o empréstimo a um clube da Liga.

A meio, há Enzo, e tudo gira à volta dele. O Benfica ultrapassou Javi García, depois Matic e, agora, poderá ter pela frente outro enorme obstáculo pela frente. Nesta altura, esta, a par da de Jesus, poderá ser a incerteza mais difícil de gerir no grupo. Fejsa e Rúben Amorim continuarão a fazer parte das opções seguramente, e não é líquido que André Gomes, apesar de ter o passe vendido, encaixe já numa equipa de topo internacional. O jovem médio continua a precisar de um treinador que o molde, apesar de alguns bons apontamentos (e outros menos bons) na parte final da temporada. Ainda não é, ao contrário do que muitos acreditavam, inclusive dentro do próprio clube, um jogador feito. Gaitán, à esquerda, será outra das dúvidas, e Sulejmani parece curto para fazer a época inteira como titular. Salvio e Markovic vestirão mais uma época de águia ao peito. Ivan Cavaleiro continuará a tentar somar minutos. Não se saberá muito bem em que estado voltará
Ola John do Hamburgo, nem se Jesus já terá desistido de vez do holandês, que teve época para esquecer. E Luis Fariña, que o Benfica contratou na Argentina para emprestar ao Banyias, servirá para quê mesmo? O primeiro reforço oficial foi garantido para este setor: Dawidowicz é um médio defensivo muito promissor, mas certamente precisará de tempo. 

As dúvidas sobre o que o Benfica pensa fazer a alguns nomes reaparecem mais à frente. Djuricic não convenceu e Nélson Oliveira regressa depois de oito golos marcados pelo Rennes. Se o sérvio parece caso irremediável de inadaptação ao futebol português (mais pressionante que o holandês) e às ideias de Jesus (que o coloca atrás do ponta de lança), já o internacional português poderia beneficiar com as saídas iminentes de Rodrigo (vendido) e Cardozo (incapaz de se adaptar ao novo modelo de jogo, e que deverá continuar a ser o preferido na próxima época). Mas, repita-se a pergunta: Jesus (ou o Benfica, na falta deste treinador), ainda acreditará nele? A época em França até começou bem, mas será que a produção chega para garantir-lhe novo benefício da dúvida, no arranque de mais um ano?

Lima, aos 30 anos, será a única certeza da frente. Funes Mori até fez época razoável nos B, mas ainda não marcou na Liga. Jara não quer voltar. Urreta terá perdido o seu momento. Rojas terá feito o suficiente no Restelo para merecer um lugar? Talvez não. Há Pizzi ainda, de quem os encarnados sempre falaram como aposta para esta época. O rendimento esteve longe de ser brilhante no Espanhol, mas o passado numa liga exigente comprovam qualidade.

Candeias foi já contratado, mas no Benfica, devido ao que se passou num passado recente, isso não prova que ficará no plantel. A época no Nacional foi, contudo, fantástica, com inúmeros passes para golo, coroando-o como rei das assistências. E o contrato é premio mais que justo.

O jovem Bernardo Silva poderá ser mais um desafio para Jesus. Conseguirá o treinador aproveitar o talento e a irreverência do miúdo, que esta época somou vários prémios mensais de melhor da Honra? 

Resumindo, o desfazer de duas ou três duplas (Garay-Luisão; Fejsa/Rúben Amorim-Enzo Pérez; Rodrigo-Lima) poderá ser o maior foco de instabilidade de uma formação que voltará a partir na linha da frente para tentar vencer o bicampeonato. Se for Jesus o treinador, não há dúvidas de que já deu provas do que é capaz de fazer. Se não for ele, obviamente que o avanço sobre os rivais vai decrescer bastante.