O Boavista ganhou fôlego na luta pela permanência e afastou (ligeiramente) os fantasmas que pairavam sobre a equipa, após o pior ciclo de Lito Vidigal – três derrotas seguidas. Por sua vez, o Belenenses não refletiu o desejo de «apanhar» o duo minhoto que corre pela Europa manifestado pelo seu treinador na véspera.

Mateus e Yusupha, que não era titular desde maio do ano passado, assumiram-se como personagens principais de mais um capítulo do duelo entre dois antigos campeões do futebol português.

Ficha e filme do jogo

O Belenenses foi obrigado a improvisar um símbolo, mas tem uma identidade bem vincada. Mantém-se fiel à sua ideia: jogo apoiado, laterais bem projetados, constantes apoios entre linhas e movimentos de rotura. Pese embora a filosofia de Silas merece ser enaltecida, a exibição dos azuis esteve longe do que se já se viu.

Mérito do Boavista, uma equipa que luta para sobreviver na Liga. Os axadrezados entraram à procura da felicidade, ao invés de olharem o céu e esperarem alguma ajuda divina. Rafael Costa deu o mote e assinou a primeira tentativa à baliza de Muriel (3’). Meia dúzia de minutos depois, Yusupha aproveitou um (dos vários) erros do Belenenses na primeira fase de construção para se isolar, valendo o irmão de Alisson a cortar com um carrinho de fazer inveja a muitos defesas.

O tempo passou e a toada do jogo não mudou. O Belenenses tinha bola, circulava, circulava e circulava, mas raramente conseguia invadir a muralha dos homens de xadrez. Ora havia uma decisão precipitada, ora um passe errado ou uma má receção. A exceção foi mesmo um disparo de Licá à figura de Bracali (5’) a abrir.

O Boavista, porventura embalado pela moldura humana que assistia ao jogo, fartava-se de colocar a defensiva azul de sobreaviso frequentemente. Sauber e Yusupha tentaram marcar de meia-distâncias, mas ambas as situações saíram longe do alvo (12’ e 17’).

O Belenenses adormeceu a pantera com bola durante um quarto de hora – sem criar situações para marcar, diga-se – e valeu-se de Muriel para manter o nulo até ao intervalo. O guarda-redes brasileiro abriu o livro com três defesas consecutivas, primeiro a um cruzamento de Rafael Costa e, depois, às recargas de Neris e Jubal (39’). A palmada com a qual negou o golo a Mateus também merece o destaque (45+2).

O conjunto de Lito apenas podia culpar o guarda-redes dos azuis pelo empate ao intervalo (tinha superioridade em remates 7-2 e cantos 5-1).

Os golos que teimaram em não aparecer na primeira parte, surgiram na segunda. Mateus – quem o vê jogar pensa que está a aparecer agora tamanha a frescura e vontade – arrancou na esquerda, ganhou o ressalto a Gonçalo Silva e ofereceu o golo a Yusupha (53’).

A desvantagem obrigou Silas a mudar o plano inicial. Keita – não competia há quatro meses – e Ljujic foram a jogo. Contudo, as mudanças efetuadas não surtiram o efeito desejado. É verdade que o Belenenses jogou mais tempo no meio-campo defensivo adversário, somou cruzamentos e remates junto à área. No entanto, o melhor que conseguiu foi um desvio ao lado de Keita (90’+2) e um livre direto de Diogo Viana que obrigou Bracali a aplicar-se (90+6).

Pelo meio já Mateus tinha resolvido a partida. O passe de Bueno foi delicioso, mas a classe com que o angolano ultrapassou Muriel para fazer o 2-0 não fica nada atrás (90’).

Garra, suor e coragem. O Boavista respeitou os seus pergaminhos e saiu por cima no confronto entre dois ex-campeões.