Franzino e de poucas falas, sem assumir grandes protagonismos, Bernard Mensah tem carregado a equipa do V. Guimarães às costas neste início de campeonato. Um fardo pesado, ainda para mais tratando-se de um miúdo ganês de dezanove anos que pouco se expressa na língua de Camões.

Mas, antes de aparecer no conjunto vimaranense, a viagem do Gana para Portugal foi longa e morosa, meteu problemas burocráticos, uma nega do Sp. Braga e uma longa estadia na «cidade-berço» sem poder jogar.

O Maisfutebol falou com Ricardo Silva, o primeiro treinador de Bernard em Portugal, que recebeu o jovem ganês no plantel de juniores do Vitória. O técnico não só recorda a chegada de Bernard a Guimarães como mostra confiança em que o médio possa estar no próximo Mundial a representar a seleção ganesa de futebol.

«Lembro-me muito bem da sua chegada a Guimarães. O Bernard veio à experiência para o escalão sub-19 e logo nos primeiros treinos impressionou: pelas suas principais características e recebeu logo o sim da minha parte. Embora o processo burocrático dele viesse a trazer alguns contratempos, comprovou-se que estava ali uma mais-valia ainda em idade muito tenra» recorda Ricardo Silva ao nosso jornal.

«É um rapaz que está sempre a sorrir»

Bernard começou a jogar futebol aos oito anos, na Academia Feyenoord no Gana. Com dezoito anos, o diamante africano rumou ao futebol português. Contudo, a sua integração nos juniores acarretaria problemas (por ainda ser menor de idade) e issolevou a que não ficasse no Sp. Braga.

«O Braga não o quis, provavelmente, por todo o tempo que o processo dele demoraria a concluir, mas eu sabia que se o Bernard não pudesse competir naquele último ano de júnior poderia competir no ano a seguir na II Liga ou no Campeonato Nacional de Seniores na equipa B do Vitoria. E, a partir dai, afirmar-se. Felizmente, foi o que aconteceu», conta Ricardo Silva.

Visto como uma aposta de futuro, e mesmo não podendo jogar, o médio ganês foi integrado na equipa de juniores dos vimaranenses. As voltas com a burocracia fizeram com que apenas alinhasse em três partidas nos juniores do V. Guimarães. Já com idade sénior, Bernard foi depois integrado na equipa B do Vitória. O menino ganês, que estava longe da família, só queria uma oportunidade de mostrar o que sabia fazer com a bola.

O seu primeiro técnico no nosso país diz que a integração foi fácil: «O Bernard tem que agradecer àquele balneário que o acolheu e sobretudo o acarinhou, porque um miúdo de 18 anos fora da sua zona de conforto não tem vida fácil. Ele tem uma característica que não é fácil encontrar: é a sua capacidade para conquistar as pessoas e isso deve-se à sua forma de estar. Ele é um rapaz que está sempre a sorrir. E tem o objetivo de todos os miúdos que adoram futebol: jogar ao mais alto nível e ajudar a sua família».

«É forte a queimar linhas»

Depois de uma temporada na equipa B, onde se destacou apontando nove golos em 26 jogos, Bernard foi lançado por Rui Vitória em Barcelos. O médio assumiu o papel de organizador de jogo do V. Guimarães, deixando Barrentos e Crivellaro para trás.Na pré-época, mostrou-se entre os graúdos e até fez isto

A partir daí, os números documentam o seu arranque estrondoso no principal campeonato do futebol português. Dos seis golos apontados pelo V. Guimarães, metade são da sua autoria. E está na génese de outros dois. Foi uma entrada em cheio de um jogador que, segundo Ricardo Silva, tem uma técnica apurada.

«É um jogador forte tecnicamente, sobretudo a queimar linhas em condução de bola tendo igualmente capacidade de remate fácil. Mas tem de melhor a decisão no último terço e a transição defensiva; daí o Rui Vitoria, e bem, dar-lhe suporte com o Cafú e o André André nesta fase. Mas penso que o Bernard evoluirá para um número 8, designado box-to-box, quando a sua maturidade dentro de campo for maior. Mentalmente, é um jogador fortíssimo», descreve o técnico.

Para que o número 43 do V. Guimarães cresça ainda mais, Ricardo Silva diz que o amadurecimento do jogador de 19 anos não deve ser forçado: «Pela sua margem de progressão e estando ele num clube potenciador de jovens pode chegar ao topo. Devemos deixar o Bernard seguir o seu caminho naturalmente e não o pressionar. O seu amadurecimento não deve ser forçado, mas o Rui Vitória parece-me um dos melhores, senão o melhor, treinador do momento em Portugal a lidar com este perfil de jogadores.»

Ricardo Silva acredita que o seu pupilo poderá alcançar voos mais altos, como lutar por títulos e chegar à seleção ganesa no próximo Campeonato do Mundo. «O Bernard, se continuar neste registo de evolução, se o seu espaço ficar consolidado dentro e fora de campo, pode ser um grande ativo do Vitória, chegar a um clube que lute assumidamente por um título (não digo grande clube porque ele já esta num grande de Portugal). Na minha opinião, ele tem todas as condições para jogar o próximo mundial na Rússia pela seleção ganesa», rematou o técnico.