Presente na 2.ª Conferência Bola Branca, Filipe Martins criticou o ambiente que se vive no futebol português, de constante polarização.

O treinador do Casa Pia diz que tem tentado manter-se à margem desse tipo de situações e lamentou que a Liga possa cair ainda mais no ranking de campeonatos europeus nos próximos anos se não mudar de mentalidade.

«Não quero estar aqui a diferenciar-me, mas tenho tentado ter uma postura e um discurso que não vai muito nesta questão da polémica. Hoje em dia, mesmo sem ser polémico, está a ser-se polémico. Está tudo muito polarizado. Acho que os treinadores têm vindo a tentar mudar aquilo que é o seu discurso, mas muitas vezes somos levados para um discurso de ‘temos de partir os árbitros ao meio porque fomos prejudicados, e que não podemos ficar calados’», afirmou.

«E eu comprometi-me comigo próprio... às vezes somos beneficiados, outras vezes prejudicados. Mas eu tento não falar da arbitragem, seja beneficiado ou prejudicado. Estamos a 90 e tal minutos a jogar e tudo se resume àquele penálti que não foi assinalado. Então os outros 90 e tal minutos não contam para nada. Já não chegava o extremismo clubístico das pessoas quase se prostituírem mentalmente... há certos comentários que são ridículos. Estou a tentar não perder o fair-play, para tentar mudar a mentalidade do futebol português. É que qualquer dia já não somos sétimos do ranking, somos oitavo ou nono. Hoje em dia está tudo muito polarizado», continuou.

«Continuo a acreditar que quem faz a diferença são os jogadores, não são os treinadores nem as táticas»

O técnico do Casa Pia admite que o futebol está a mudar, «com um jogo cada mais tático», mas continua a acreditar que o principal diferenciar é o talento dos jogadores.

«Continuo a acreditar que quem faz a diferença são os jogadores, não são os treinadores nem as táticas. Posso ser um treinador menos competente, mas se tiver melhor jogadores posso ganhar a um treinador melhor do que eu. Hoje em dia há jogadores jovens a aparecer ao mais alto nível porque estão mais bem preparados. Mas também muitas das vezes chegam ao futebol profissional mais cansados, com tanta informação. Sabe-nos muito bem quando o jogo está bloqueado e há um jogador que tira um coelho do cartola. E quem desbloqueia não é a nossa estratégia, é o talento dos jogadores», defendeu.

Sobre a formação, Filipe Martins criticou a cobiça a jogadores cada vez mais novos, e nas expectativas desmedidas que lhes criam.

«Hoje em dia há um fator no futebol que se demonstra cada vez mais cedo: no meu tempo, era quase impossível um júnior ter empresário. E os miúdos e os pais são abordados por esses agentes que às vezes criam um mundo de ilusão. E depois chegam aos seniores e têm tudo, mas falta-lhes saber lidar com a adversidade. Há cada vez mais esse endeusar de jogadores que ainda nem sabemos se são jogadores», referiu.

«Alguns deles têm uma mentalidade que não é posta a prova e essas tais pérolas quando precisam de lidar de adversidades, não estão preparados. Na formação vi muitos jogadores a perderem-se, assim como vi outros jogadores que não eram tão dotados a superarem-se. O talento é natural, mas depois é preciso ver se esse talento continua a crescer, nem sempre é fácil prever. O talento dá muito jeito, mas não é tudo no futebol.»