A centralização dos direitos televisivos da Liga portuguesa, cuja implementação tem de ser feita até à época desportiva 2028/29, é um dos sete desafios definidos no exercício do organismo presidido por Pedro Proença para o período 2023-2027 e «um passo muito importante para o crescimento do futebol em Portugal».

Este é o entendimento de Miguel Farinha, da EY Portugal, que vincou a ideia esta terça-feira, no Estádio do Bessa, após a apresentação da sétima edição do Anuário do Futebol Profissional Português - não contou com a presença de Proença - que revela que a indústria contribuiu com 667 milhões de euros para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, gerando 228 milhões de euros em impostos para os cofres do Estado em 2022/23.

O responsável da EY, autora do estudo em parceria com a Liga, frisa que é determinante que a centralização crie um produto melhor e que os clubes de menor dimensão possam beneficiar da equidade trazida pela distribuição de receitas.

«Atualmente, as receitas da televisão, no total da Liga, correspondem a cerca de 20 por cento do total de receitas que o futebol em Portugal tem. E muito concentradas em três clubes [ndr: Benfica, FC Porto e Sporting]. E a diferença, destes três face a todos os outros, é muito significativa. Acreditamos é que a centralização permitirá, primeiro, construir um produto melhor, mais atrativo, que tenha muito mais saídas para o mercado. Depois, que esse produto consiga capitalizar o seu valor, ter mais valor associado e, com esse valor, distribuir mais para os clubes mais pequenos da tabela. Não acreditamos que exista uma simples redistribuição com alguns a perder e outros a ganhar. Temos de garantir que ninguém vai perder, mas que o ganho que se consiga aqui seja distribuído pelos clubes mais pequenos. Quanto mais competitivos forem, quanto mais dinheiro tiverem para investir, mais competitivos serão, melhor será a Liga», assinalou Miguel Farinha, em declarações aos jornalistas, após a apresentação no auditório do Bessa.

Defendendo que o futebol português «é viável», o responsável da EY em Portugal, Angola e Moçambique assinalou que este «gerou cerca de 946 milhões de euros de receitas, face a 918 milhões de euros de despesas» em 2022/23. Por outro lado, assinalou que a centralização vai ajudar a «combater» a «macrocefalia» existente nas receitas e despesas, muito concentradas em Benfica, FC Porto e Sporting.

«Há temas a melhorar, como a macrocefalia do futebol em Portugal, temos as receitas e as despesas muito concentradas em três clubes, um quarto a chegar lá [ndr: SC Braga], mas ainda a um nível diferente. Ainda há uma macrocefalia que é preciso combater. A centralização ajuda muito», referiu, lembrando que é preciso os clubes estarem conscientes das possíveis consequências da antecipação dos direitos televisivos.

«A centralização é fundamental, a antecipação depende do cash flow de cada clube. Nós vimos agora uma sociedade desportiva que neste momento fez essa antecipação de receitas [FC Porto], mas aí estamos a falar de uma questão de maior ou menor dificuldade financeira no momento. A maior parte dos clubes já tinha essas receitas antecipadas, uns mais do que outros. Mas é preciso perceber e os clubes têm de pensar: de cada vez que estão a antecipar receitas, estão a trazer receitas de daqui a dois a três anos para este momento. Daqui a 2-3 anos não vai haver esse cash flow e às vezes é preciso pensar a longo prazo para ver o que queremos fazer e não estar a apostar tudo no momento, com as consequências nefastas que isso pode ter», rematou.

«O futebol é entretenimento, não é só desporto. Porque é que paga tão mais do que os outros?»

Dias depois de a Liga ter defendido que o setor e os clubes devem ter menos carga fiscal, a ideia foi reforçada ao final desta manhã pelo country manager da EY.

O IVA praticado nos bilhetes é atualmente de 23 por cento e Miguel Farinha comparou a realidade portuguesa à que acontece no universo das sete principais ligas europeias, lembrando que, de Espanha à Alemanha, passando por Inglaterra, estes valores rondam os «19, 20, 21 por cento» e os «nove nos Países Baixos». Por outro lado, e lembrando que o futebol já é também fenómeno de «entretenimento», comparou-o à realidade de outras atividades.

«Estamos a pagar 23%. Logo aí há uma diferença. E, por outro lado, o futebol é uma indústria de entretenimento, não é só um desporto. E temos o teatro, os concertos, o cinema, tudo a pagar IVA de 6%. Porque é que este espetáculo paga tão mais do que todos os outros?», questionou, em declarações aos jornalistas, após a apresentação, dizendo que a Liga tem feito um trabalho contínuo «de explicar ao Governo, ao Secretário de Estado e agora aos partidos políticos em eleições, onde é que há diferenças face ao resto da Europa».

«Em Portugal, um jogador de futebol paga 53 por cento de impostos sobre o seu salário. No resto da Europa, anda na casa dos 40-48 por cento. Um jogador em Portugal que ganhe um milhão de euros por ano, brutos, leva para casa menos 100 mil euros do que se estivesse em Itália. Faz muita diferença», comparou.