Um golo anulado a Taremi.

Cristo a gelar o dragão com a vantagem do Arouca aos 84 minutos.

Um penálti assinalado e revertido ao FC Porto… depois de uma conversa ao telemóvel.

Sim, uma conversa ao telemóvel. Porque, veja-se (neste caso não se viu mesmo) deixou de haver imagens do VAR.

Pelo meio, 17 minutos de compensação, num jogo que acabou aos 90+23m.

Outro penálti (desta vez a valer) e Arruabarrena a negar o golo do empate a Galeno.

Por fim, Evanilson a resgatar o FC Porto da cruz que Cristo González colocou no Dragão, aos 90+19m (1-1).

Quando já parecia impossível acrescentar mais desenvolvimentos ao roteiro, a noite no Dragão mostrou que, se há coisa que o futebol ensina, é que não há limites à possibilidade da sequência de acontecimentos mais improvável. Inimaginável, até.

Este FC Porto-Arouca foi mesmo digno de um filme.

Contas feitas, terminou com a sequência 100 por cento vitoriosa dos dragões na Liga, depois de três vitórias sofridas, as últimas duas já com finais incríveis para lá dos 90 minutos, ante Farense e Rio Ave.

Na noite em que Conceição ficou pela quarta vez seguida longe do banco, o FC Porto não engatou a quarta, num jogo em que, sem Pepe, Fábio Cardoso foi a jogo, assim como Wendell: Zaidu, titular em Vila do Conde, nem no banco esteve.

Num jogo que guardou quase todo o frenesim para lá dos 80 minutos, o FC Porto chegou a marcar aos 14 minutos por Taremi. Houve festejos, mas o golo acabou anulado por fora de jogo: 32 centímetros, no momento do cruzamento de João Mário.

Perante um Arouca que, ao contrário do habitual, surgiu no Dragão com uma linha de cinco a defender, o FC Porto vestiu a pele de trabalhador, mas foi faltando melhor definição e concretização. Toni Martínez enviou uma bola ao ferro (36m) e falhou à boca da baliza o 1-0 (41m). A equipa de Daniel Ramos ia-se mostrando confiante e confortável e nunca enjeitou aproveitar em saídas rápidas: lá na frente, Jason, Mújica e Cristo mereceram atenção e o último obrigou Diogo Costa a uma defesa difícil, no único remate enquadrado da equipa até ao intervalo.

Para a segunda parte houve estreia de Alan Varela e Evanilson também entrou em cena. Saíram Eustáquio e Toni Martínez e, perante mais de 46 mil adeptos, o FC Porto ensaiou uma sucessão de desperdícios. Taremi teve tudo para marcar em frente à baliza (55m) e Wendell viu Arruabarrena tirar-lhe um golo certo após um brilhante passe de Evanilson (60m).

Se o nervosismo crescia, a presença do FC Porto no meio-campo contrário também, acentuada pela boa entrada de Gonçalo Borges. O problema é que surgiu um tal de Cristo González para crucificar um dragão que já nas primeiras três jornadas se tinha posto um pouco a jeito: bom trabalho individual e remate forte na área, depois de passar por Pepê e Nico. Pouco depois, o FC Porto protestou um penálti num lance de Arruabarrena e Fran Navarro, mas o árbitro mandou seguir.

Na certeza de que o filme dificilmente teria aquele final – e o que mais, senão os últimos jogos do FC Porto para o provarem – o resto foi o que se viu e o que não se viu. Já com o estreante Iván Jaime, e num suspiro final de vontade e crença depois dos capítulos dos penáltis, Evanilson desviou na área e desviou também a cruz de Cristo do dragão.