Dois golos anulados, duas expulsões e um penálti contra o FC Porto, bolas nos ferros, público à beira de um ataque de nervos… O jogo da 22.ª jornada deu galo para o dragão e valeu ao Gil Vicente a primeira vitória da sua história no reduto portista – ao fim de 26 derrotas e um empate.

Um auto dos infernos para os campeões nacionais. Ou um golpe de teatro em três atos.

Ato I: dragão dominador

Na primeira jogada a bola já entrava nas redes dos minhotos. A posição irregular invalidou o golo a Taremi, que viria de facto a marcar logo a seguir, ao quarto minuto.

Conceição apresentou um 4-2-3-1 com Namaso na frente e Taremi descaído sobre a esquerda, com Otávio e Pepê também nas costas do avançado inglês que substituiu o lesionado Galeno. Eustaquio e Wendell também entraram no onze para os lugares de Grujic e Zaidu. E a verdade é que o FC Porto entrou claramente por cima.

Aos 9m, Pepê falhava de forma inacreditável um golo cantado na cara de Andrew e aos 18m Namaso disparou à barra.

Antevia-se para os campeões nacionais um jogo aparentemente mais fácil do que a receção ao Rio Ave há uma semana. Puro engano.

A partir daí, a roda começou a desandar para a equipa de Sérgio Conceição.

Ato II: gilistas cantam de galo

A expulsão de João Mário, após alerta do VAR, acaba por mudar o rumo do jogo. Mas isso só acontece aos 35m. Antes disso, já Navarro – esse mesmo que na próxima época deverá jogar de Dragão ao peito – apareceu oportuno na área a empatar após um cruzamento açucarado de Zé Carlos. Entretanto, aos 40m, Murilo, a romper com facilidade a defensiva portista, atirou à barra.

O que se seguiu foi a descida aos infernos dos dragões. Minuto 42m, Uribe faz falta sobre Murilo e vê amarelo. Porém, de novo por indicação do VAR, no lance anterior o colombiano faz penálti sobre Boselli, que Murilo converte, fazendo a reviravolta antes do intervalo.

Já agora, minuto 52m, Uribe tem uma entrada imprudente sobre Zé Carlos e vê o segundo amarelo e deixa o FC Porto a jogar com menos dois.

Nove contra onze. Não era isto que Conceição esperava quando ao intervalo lançou Zaidu e Gonçalo Borges para os lugares do desconcentrado Wendell e de Namaso, sacrificado em função das circunstâncias.

Ato III: festa minhota no aniversário de Pepe

Com um golo de vantagem e mais dois elementos em campo, a equipa de Daniel Sousa só tinha de gerir durante cerca de 40 minutos e conservar o resultado.

Pois bem, ora foi nessa tarefa que o Gil Vicente demonstrou mais dificuldades. O FC Porto não se limitou a recolher e a deixar o tempo passar. E acabou até por fazer o estádio explodir de alegria, quando aos 68m Eustaquio introduziu a bola na baliza de Andrew. Falso alarme. De novo. Lance invalidado por fora de jogo. Haveria o FC Porto de demonstrar atitude, raça, enfim, traços distintivos de qualquer equipa de Conceição.

O marcador não haveria de mexer e história não havia, porém, de ter final diferente. No dia do 40.º aniversário de Pepe (que teve uma entrada dura ao minuto 78 da qual escapou com amarelo), houve uma inédita festa minhota no Dragão. O FC Porto fica a oito pontos do líder Benfica e complica muito as contas da candidatura ao título, podendo ainda voltar ao terceiro lugar nesta jornada, caso o Sp. Braga vença esta segunda-feira em casa do rival Vitória no dérbi minhoto.

Depois de uma notável série de 22 jogos invencível, que durou quatro meses, os campeões nacionais perdem pela segunda vez em quatro dias; após a derrota da última quarta-feira frente ao Inter, em Milão, na 1.ª mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Já o Gil Vicente mantém o 14.º lugar, mas soma agora 26 pontos e está a 10 dos lugares de possível descida.

Baixou o pano no Dragão e no final cantou-se os parabéns a Pepe. E desfraldou-se uma tarja nas bancadas: «Parabéns, capitão. 40 anos disto!» Então, os jogadores do FC Porto ouviram do seu público um monumental aplauso e sonoros gritos de incentivo, como nas noites das maiores vitórias.