O mapa da Liga encolheu para um mínimo histórico em 2023/24. A descida de Marítimo e Santa Clara não só reduziu o campeonato a Portugal continental pela primeira vez em quase quatro décadas, como limitou a apenas seis os distritos representados na primeira divisão. Nunca foram tão poucos em campeonatos a 18 equipas.

Um olhar rápido para o mapa evidencia a tendência de concentração dos clubes da Liga nos principais centros urbanos, agora mais acentuada. Dois distritos, correspondentes a duas associações de futebol, concentram quase dois terços dos clubes. Braga iguala o máximo que tinha fixado há duas épocas e volta a ser o distrito mais representado, somando seis clubes. E Lisboa passa a contar cinco, com a subida do Estrela.

Esse é outro dado que se destaca no mapa do próximo campeonato. Há 20 anos, desde 2003/04, que a associação de Lisboa não tinha tantos representantes. Então, aos permanentes Benfica e Sporting juntavam-se Belenenses, Alverca e Estrela.

Lisboa também é a cidade com mais clubes na Liga 2023/24, três no total: Benfica, Sporting e Casa Pia. Segue-se o Porto, com FC Porto e Boavista. E há ainda o caso de Guimarães, concelho que integra o Vitória e o Moreirense.

O distrito do Porto tem três representantes, mantendo o Rio Ave mas contando menos um do que há um ano, face à descida do Paços de Ferreira.

A sul, a associação distrital do Algarve passou a ter dois clubes, com o Farense a juntar-se ao Portimonense. E depois há os dois clubes que furam a hegemonia dos grandes centros e do litoral: desde logo o Desp. Chaves, histórico e solitário representante do interior e de Trás os Montes, que integra a AF Vila Real, mas também o Arouca, filiado na AF Aveiro.

Distribuição por distritos/associações distritais na I Liga 2023/24

Na última década a Liga perdeu duas referências geográficas históricas. A descida da Académica e depois do V. Setúbal, dois dos dez clubes com mais presenças de sempre na Liga, fez desaparecer do mapa Coimbra e Setúbal. Uma perda territorial significativa, mesmo que o campeonato tenha sido refrescado com algumas novidades, como o Tondela, que em 2015/16 foi o último clube a estrear-se no principal escalão e levou o distrito de Viseu de volta à elite, ou com os regressos de clubes como Arouca, Desp. Chaves e Portimonense, que devolveram alguma amplitude geográfica ao campeonato.

Agora, o desaparecimento das ilhas levou a Liga para um recorde mínimo em termos geográficos. Nunca um campeonato a 18 equipas teve tão poucos distritos representados. E mesmo com 16 equipas só por três vezes houve apenas seis associações em competição. A última foi em 2008/09, quando no mapa da Liga só couberam Porto, Lisboa, Braga, Madeira, Coimbra e Setúbal. Antes disso, apenas aconteceu nos anos 80, em duas temporadas seguidas, 83/84 e 84/85. Esta última foi aliás a derradeira temporada sem representantes das ilhas na Liga. Desde então o Marítimo disse sempre presente, até agora.

Mais quatro distritos à espreita na II Liga

Para a próxima temporada, a II Liga alarga os horizontes geográficos do futebol profissional, com mais quatro distritos representados. Além da Madeira, com Nacional e agora Marítimo, também Viseu tem dois representantes, Académico e Tondela, enquanto a U. Leiria recoloca o distrito no mapa profissional pela primeira vez em 11 anos e o Santa Clara estende o campeonato aos Açores. São presenças que alimentam a perspetiva de dar maior amplitude geográfica a Liga a breve prazo. Mas a II Liga também replica a macrocefalia do principal escalão. Tem oito distritos representados, sendo que metade dos clubes se dividem entre Porto e Lisboa.

Distribuição por distritos/associações distritais na II Liga 2023/24

Porto e Lisboa são os únicos distritos presentes em todas as 90 edições da Liga, contando já com 2023/24. FC Porto, Benfica e Sporting são os únicos clubes totalistas. Entre as 22 associações distritais, 18 continentais e quatro insulares, seis nunca estiveram na primeira divisão. São Viana do Castelo, Bragança, Guarda e Beja, mais as açorianas Horta e Angra do Heroísmo. Saiba mais aqui sobre esse país que não passa pela Liga.

O país que não chega à Liga

Mas há muitas outras regiões que estão há muito longe da Liga. O Alentejo teve como último representante o Campomaiorense, em 2000/01. E em toda a história teve apenas mais dois clubes: O Elvas, também do distrito de Portalegre, que jogou pela última vez na Liga em 1987/88, e o Lusitano, o único clube de Évora que já esteve na primeira divisão, com 14 presenças seguidas nos anos 50 e 60.

O distrito de Castelo Branco teve como único representante até hoje o Sp. Covilhã, com 15 presenças no total, a última delas em 1987/88. Santarém também teve apenas um clube na Liga: o União Tomar, com seis presenças entre o final dos anos 60 e meados da década de 70.

Leiria já não tem nenhum clube na Liga desde a descida da União, em 2012. Antes, também Caldas e Ginásio de Alcobaça representaram o distrito. Coimbra perdeu em 2015/16 a Académica e também não voltou ainda à Liga. Viseu deixou de estar representado com a descida do Tondela em 2022, dois anos depois de a queda do Vitória ter riscado do mapa o distrito de Setúbal, uma das regiões com mais história na Liga.

Esta será a quarta temporada sem representantes na Liga na margem sul do Tejo, uma zona que chegou a ter quatro clubes em simultâneo no início dos anos 70. Eram os tempos do Vitória, mas também da CUF, do Barreirense e do Montijo, mais tarde ainda do Amora.

O mapa da Liga mudou desde então. Foi acompanhando as mudanças sociais e económicas do país. Ganhou peso o norte – a região do Porto, primeiro, e depois o Minho -, acentuou-se a tendência de concentração no litoral e o despovoamento, também futebolístico, do interior.

Quando o mapa mais cresceu

O número máximo de distritos representados na primeira divisão foi 11 e aconteceu por duas vezes. A primeira foi em 1987/88, num campeonato a 20 equipas que além dos residentes habituais – Porto, com seis clubes, Lisboa com três e Braga com dois – teve ainda os algarvios Farense e Portimonense, mais V. Setúbal, Chaves, Sp. Espinho, Marítimo, O Elvas, Académica e Sp. Covilhã.

A segunda vez foi em 1998/99, mais notável por ser uma Liga a 18 equipas. Teve FC Porto, Boavista, Salgueiros e Rio Ave (Porto), Sporting, Benfica, Estrela e Alverca (Lisboa), Sp. Braga e V. Guimarães (Braga), e ainda V. Setúbal, União Leiria, Marítimo, Farense, Campomaiorense, Beira Mar, Desp. Chaves e Académica.

De resto, só houve mais uma ocasião em que se atingiu a dezena de distritos representados na Liga e foi recente. Em 2018/19 o cenário era este: Porto com quatro equipas (FC Porto, Rio Ave, Boavista e Aves), Lisboa e Braga com três (Benfica, Sporting e B SAD e Sp. Braga, V. Guimarães e Moreirense), Madeira com dois (Marítimo e Nacional) e ainda Vitória FC (Setúbal), Santa Clara (Ponta Delgada), Portimonense (Algarve), Tondela (Viseu), Desp. Chaves (Vila Real) e Feirense (Aveiro).