Cambalhota e ultrapassagem em Paços de Ferreira.

Foi isto o saldo sintético de um final de tarde de sábado à medida do que tantas vezes se pede na Liga. Intensidade, disputa mútua pela vitória e uma plateia repleta.

Mais de 3 mil adeptos na Capital do Móvel, com forte apoio de parte a parte, viram o Paços de Ferreira vencer o Vizela por 2-1, para interromper um ciclo de seis jornadas sem vencer e ultrapassar o adversário na classificação.

Um triunfo que o castor agarrou com cabeça após dois sinais vermelhos, numa reviravolta com muito para contar, perante um Vizela penalizado pela saída madrugadora de Cassiano.

«Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz».

Canta-o o Rui Veloso e diz-se tantas vezes de forma popular. E era isso mesmo que o Vizela queria, no sítio que lhe serviu de casa no início da época e que teve, por exemplo, uma vitória épica com o Tondela.

No duelo entre vizinhos, geográfica e pontualmente, o Vizela quis ser feliz de novo em Paços. E fez por isso desde início. Entrou com sinal mais: pressionou alto, mal deixou o Paços chegar ao meio-campo ofensivo, ganhou livre e canto. Foi assim nos primeiros cinco minutos.

Dir-se-ia com «coragem e paixão». Como pedira Álvaro Pacheco na antevisão.

Mas o cotovelo de Cassiano em Juan Delgado mudou, não tudo, mas muito.

O Vizela até pedira penálti por alegada mão de Maracás, mas o filme do lance mudou com a ida de David Silva ao vídeo-árbitro, para confirmar, no mesmo lance, sem bola, a infração do avançado.

O filme do jogo mudou drasticamente a partir daí, com o Paços a assumir quase por completo as despesas da posse de bola e a instalar-se no meio-campo contrário. Pacheco não precisou de mudar a equipa estruturalmente, mas perdera claramente profundidade e apoios para as saídas.

Ainda assim, o Vizela foi capaz de adiantar-se no marcador. Saiu uma vez com perigo, quase marcou, ganhou canto e Bruno Wilson foi astuto no ataque à bola enviada por Kiki Afonso para a área. Minuto 24.

O Paços estava em vantagem nos homens. Mas a vantagem que mais interessava era do Vizela.

E talvez este tenha sido o verdadeiro sinal vermelho para um Paços que não estava a conseguir bater Pedro Silva, nem enganar com afinco o posicionamento defensivo contrário.

No meio disto, César Peixoto tirou Rui Pires, que já tinha amarelo e mais duas faltas em cima, para recuar Nuno Santos e colocar Hélder Ferreira na ala direita. Aposta em cheio até ao empate em cima do intervalo.

Minuto 42, Nuno Santos aproveitou um corte na área, apanhou a bola a jeito à entrada desta e fez o 1-1 no melhor momento da tarde. Imenso. À medida do espetáculo. Golaço.

Na segunda parte, e numa missão extremamente ingrata devido à expulsão madrugadora, o Vizela teve dificuldades em ferir a baliza de André Ferreira, que pouco trabalho teve. O Paços manteve a toada: paciente, com mais bola, à procura de espaços. A atrair por dentro para libertar fora e vice-versa.

Pedro Silva ainda adiou o 2-1 a Deni Jr numa defesa extraordinária com um braço, mas só por um minuto. Na investida seguinte, Antunes surgiu liberto de pressão na esquerda, ganhou o lance a Igor Julião e serviu Matchoi para a cambalhota (64m).

Pacheco ainda reajustou a equipa, procurando profundidade com as entradas de Zohi e Schettine e o brasileiro até cheirou o empate, já após um cabeceamento de Baixinho ao ferro que quase deu o 3-1.

Já nos instantes finais, o Vizela viu tudo complicar-se ainda mais com a expulsão de Samu por acumulação de amarelos (85m) e o Paços geriu para vencer pela primeira vez em 2022. Os ânimos ainda aqueceram nos instantes finais, mas houve cabeça dos intervenientes e tudo não passou dos bate-bocas.