Na véspera do jogo com o Tondela, Jorge Jesus nem quis ouvir falar sobre o apuramento, alcançado em condições duríssimas, para a Liga dos Campeões.

Esgueirou-se ao tema dos adversários e garantiu que praticamente não se falou disso nos dias que antecederam a partida da 4.ª jornada da Liga que ganharia novos condimentos horas depois com o empate do campeão Sporting em Famalicão.

Talvez em nome da tão afamada mudança de chip, tema sempre abordado antes ou após um jogo para a Europa, Jesus chegou-se à frente para garantir que pelo menos ele está resolvido com esse assunto.

O resto? Talvez uma revolução no onze – por razões mentais ou físicas – resolvesse! E foram sete neste domingo. Otamendi passou a Vlachodimos o estatuto de único totalista em 2021/22, André Almeida e Darwin Nuñez foram pela primeira vez opções iniciais nesta época e a águia voltou a vestir-se em 4x4x2.

FILME, FICHA DE JOGO E VÍDEOS DOS GOLOS

Se o Benfica entrou em campo com outro chip, fê-lo com um arcaico e facilmente decifrável e só pôs as mãos nos três pontos ao minuto 88.

Se é verdade que os visitantes tiveram uma organização defensiva imaculada nos 45 minutos iniciais, há que dizê-lo que para isso contribuiu muito o futebol da equipa de Jorge Jesus.

Circulação lenta, hesitações, falta de ligação entre setores e quase todos os jogadores em sub-rendimento.

E tudo isso facilitou a vida ao Tondela, que levou para a Luz um sistema que alterava consoante necessidades: 4x3x3, 3x4x3 ou 5x4x1. Confortável, pois claro, com a falta de acutilância dos encarnados, os beirões puseram em prática a outra parte do plano. Saíram poucas vezes, mas sempre pela certa e esporadicamente com perigo.

Aos 22 minutos, alguns depois de Daniel dos Anjos ter ensaiado um movimento em profundidade na mesma zona do terreno, Salvador Agra esgueirou-se entre Vertonghen e Grimaldo e dentro da área rematou rasteiro e cruzado para o golo dos visitantes.

Não foi por falta de aviso…

Nem o golo dos visitantes naquele que até foi o único remate dos homens de Pako Ayestarán à baliza de Vlachodimos na primeira parte, despertou os encarnados, imersos num sono profundo do qual só saíram a espaços atormentados pelas assobiadelas das bancadas.

Um ataque de Darwin ao primeiro poste e um remate perigoso de João Mário foi tudo o que se extraiu do futebol do Benfica nos 45 minutos inicial, não obstante a posse de bola esmagadora.

Jesus abanou a equipa ao intervalo e trocou algumas peças do chip. Rafa, Gilberto e Weigl entraram para os lugares de Pizzi, André Almeida e Meitë.

E nem cinco minutos foram precisos para se ver uma mudança comportamental gigante. O futebol do Benfica transfigurou-se, João Mário cresceu e com ele cresceu toda a equipa. O critério do ex-Sporting, a vertigem de Rafa, a segurança de Weigl e a persistência de Gilberto.

Quando Rafa fez o empate, aos 71 minutos, a equipa de Jorge Jesus já tinha desperdiçado uma mão-cheia de oportunidades, algumas defendidas pelo tremendo Babacar Niasse.

O inferno empurrou as águias para a reviravolta, mas, curiosamente, elas não cresceram após o golo. Com as energias de alguns jogadores do Tondela na reserva, o Benfica continuou muito por cima, mas o avançar do relógio retirou discernimento. Ainda assim, o golo chegou aos 88 minutos por Gilberto.

Merecidamente, ainda que se exija mais deste novo Benfica que sai líder isolado da 4.ª jornada da Liga e pode, finalmente, respirar fundo após um primeiro mês de temporada insano depois de uma tarde/noite de sobressalto e glória.