Foi na raça. O FC Porto mantém acesa a chama do campeonato depois de vencer no Bessa o Boavista por 2-0, num jogo bem mais complicado do que traduzem os números. Num exercício de imitação do que tinha acontecido no Dragão, o Boavista obrigou o FC Porto a trabalhos extra para somar três pontos. A vitória (0-2) assenta bem à melhor equipa.
 
O FC Porto teve de descer, muitas vezes, ao nível do rival, onde a raça supera a técnica. Onde o querer manda tanto como o poder. Teve de ser duro, teve de lutar. Não fosse assim e, muito provavelmente, voltaria a casa com o campeonato comprometido.
 
O dérbi voltou ao Bessa e o cenário até era parecido com o da primeira volta. Dia chuvoso no Porto, uma forte tromba de água ainda antes do início do aquecimento. Menos do que no Dragão, claro. Mas a lembrar um jogo de resultado surpreendente e em que o FC Porto comprometeu. Era uma dica.
 
Lopetegui surpreendeu com Hernâni de início, uma estreia. Ainda Quaresma, trocando por completo os extremos de Basileia. Ficava Jackson. No miolo, sem Oliver e Casemiro, avançavam Ruben Neves e Quintero. E se o português teve uma atuação sem mácula, o colombiano ficou a dever muito a Oliver.
 
O jogo interior do FC Porto continua a ser a principal lacuna da equipa de Lopetegui e em largos minutos, perante um adversário que, como se esperava, colocou quase a equipa toda atrás da linha da bola, o miolo ofensivo foi mal preenchido.
 
Uma das chaves para perceber as dificuldades do FC Porto esteve aí: a árdua missão de criar perigo pelo centro. O FC Porto, pura e simplesmente, não conseguiu. E as alas estiveram quase sempre bem tapadas.
 
Aliás, no único lance em que Quintero conseguiu desequilibrar em todo o jogo, em cima do intervalo, Jackson desperdiçou a mais soberana ocasião do jogo. Passe picado, receção perfeita e, na cara de Mika, um remate ao lado. Não poderia falhar mas, já se sabe, acontece aos melhores.
 
Uma cópia imperfeita do Dragão: esta noite ganhou o melhor
 
As estatísticas, quase tiradas a papel químico do jogo da primeira volta, traduziam o óbvio. Mais FC Porto. Muito mais. Mas se tinha sido assim no Dragão e o Boavista somou um ponto, Petit sabia que valia a pena manter a norma.
 
O Boavista aguentou a pressão que chegou a ser sufocante do FC Porto no início do segundo tempo, ainda deu um ar da sua graça, sobretudo num par de arrancadas de Brito e também num remate do cabo verdiano que Fabiano defendeu com muitas dificuldades.
 
O FC Porto apostou em Tello, primeiro, depois em Brahimi, pelo centro. Tentou melhorar o tal jogo interior que lhe faltou mas as dificuldades continuaram evidentes. De tração, inclusive. Jackson, Quaresma e Jose Angel, entre outros, tiveram dificuldades evidentes de equilíbrio no molhado sintético do Bessa.
 
Um ponto extra para superar, o que só foi possível com muita fé também. O FC Porto nunca desistiu, carregou e lá chegou ao golo. Ricardo entra na área, centra largo para o segundo poste. Tello recebe vai à linha e cruza rasteiro. Jackson, a meias com Carlos Santos, desvia para o golo que lançou, finalmente, a festa portista.
 
Depois de 90 minutos na primeira volta e 80 na segunda, o FC Porto marcava um golo ao Boavista. Percebeu-se ali que o jogo teria vencedor atribuído. Justo, claro, porque histórias como as do Dragão nãos e repetem todas as semanas, pese o bom campeonato do Boavista, atendendo às limitações.
 
Ainda houve tempo para mais FC Porto. Brahimi, o tal que vinha para dar outra qualidade ao jogo interior, descobriu o espaço que Quintero nunca viu. Rematou colocado e fez o segundo. A partir dali até houve Olés azuis e brancos.
 
Por fim, de sublinhar que o FC Porto tem ainda razão de queixa do árbitro Hugo Miguel, que não viu um penálti sobre Hernâni logo aos 15 minutos. Considerou que João Dias jogou a bola. Mas não. Um pormenor, no fim do jogo, mas que poderia ser um «pormaior», tivesse o desfecho sido outro.
 
Continua a luta acirrada pelo título e o FC Porto mantém a distância de quatro pontos para o Benfica antes de receber o Sporting, no domingo. Siga o carrossel.