A uma peça de teatro sem público, chama-se ensaio.

A um concerto sem gente a assistir, dá-se o nome de ensaio.

A futebol sem adeptos no estádio, é muito forçado chamar ensaio?

É que com o mundo a desconfinar, o futebol está mais confinado do que nunca. Parece de loucos.

O exercício pode ser feito com o Sporting-Tondela. Venha daí. Ponha-nos a mão no ombro, que nós não nos importamos de guiar quem está em branco com esta história.

Num estádio de Alvalade completamente vazio, Nuno Mendes estreou-se a titular, um dia antes de completar 18 anos. Ninguém esteve lá para o aplaudir e incentivar a não ser os companheiros de equipa. E ele merecia pela exibição adulta que fez.

Já Jovane voltou a brilhar na marcação de um livre direto. Segundo golo em jogos consecutivos desta forma. Percebe-se que está a nascer um especialista. Porém, o grito do estádio não se ouviu perante novo momento de brilhantismo.

Não se escutaram as exclamações a cada toque de calcanhar com que Jovane descomplicou jogo e serviu os colegas. O silêncio acompanhou cada drible e cada slalom com que derrubou adversários.

Só à distância de uma fria transmissão televisiva se pôde apreciar o jogo mais autoritário da era Rúben Amorim no Sporting. Um leão confiante na nova pele que veste e que chegou ao 2-0 em pouco mais de meia-hora, para depois controlar sem sobressaltos, ou necessidade de andar aos apalpões.

Um Sporting que se isola no terceiro lugar, e que pressiona o Sp. Braga na luta cega pelo apuramento direto para a Liga Europa.

E o que dizer do menino Tiago Almeida? Jogador ainda júnior do Tondela, que se estreou na Liga, e logo num dos maiores palcos do futebol português. Mas que ficou sozinho. Sem saber para que lado olhar. Sem ter com quem partilhar a alegria do momento, apesar da derrota da sua equipa.

Um dia, todos dirão que era assim o 'novo' futebol. Mas ninguém o recordará com saudade.

Um ensaio sobre a cegueira. Que até podia fazer sentido nesta quinta-feira, em que se assinalam 10 anos sobre a morte de José Saramago, mas que perde validade já amanhã. Da mesma forma que ontem parecia fora de prazo.

Aquilo que se vê é um futebol sem emoções palpáveis. Sem sabor. Sem os sons que lhe dão vida. Uma coisa pouco respirável por detrás de tantas máscaras.

Um jogo sem sentido.

Será assim tão difícil de ver?