José Peseiro entrou no FC Porto a dizer que quer vencer o campeonato nacional. Outra coisa não se espera do treinador de um candidato ao título. O caminho de Peseiro começa no domingo frente ao Marítimo.

As coincidências desta estreia com a equipa madeirense também a apresentar o recém-chegado treinador Nelo Vinga podem ser relidas no artigo de João Tiago Figueiredo da MF Total nº502.

O que José Peseiro quer é algo que o FC Porto já conseguiu 27 vezes. Mas o que o novo treinador do FC Porto pode conseguir é algo que só aconteceu em Portugal em cinco ocasiões. Explicando melhor, só por cinco vezes uma equipa que mudou de treinador a meio da época conseguiu sagrar-se campeã nacional.

Aqui está essa restrita lista:
1958/59 FC PORTO: Otto Bumbel foi substituído por BÉLA GUTTMAN
1961/62 SPORTING: Otto Glória por JUCA
1967/68 BENFICA: Fernando Riera por Fernando Cabrita e por OTTO GLÓRIA
1979/80 SPORTING: Rodrigues Dias por FERNANDO MENDES
1999/00 SPORTING: Giuseppe Materazzi por AUGUSTO INÁCIO



Este é um plano prático onde Peseiro pode chegar na teoria. O plano teórico de onde parte mesmo o técnico ribatejano é o dos 40 pontos. Não se podem juntar nestas enunciações o que farão os adversários do FC Porto pelo título – Sporting e Benfica – que, inclusivamente, têm mais cinco e três pontos de vantagem, respetivamente, numa corrida pelo título que, para o novo técnico, começa à 19ª jornada. Com 16 jornadas da Liga por fazer, José Peseiro tem um limite máximo de 48 pontos por conseguir.

Mas, independentemente do que farão leões e águias nos 16 jogos que faltam, a chicotada fechada com a contratação de Peseiro só terá feito algum sentido no final (no estrito plano dos pontos registados pela classificação) se o português fizer mais pontos do que o técnico espanhol – que são 37 contando apenas os pontos que Julen Lopetegui obteve em 16 jornadas. Se o título de campeão for para o Dragão, a troca não terá feito apenas algum sentido, mas todo, obviamente.

Nelo Vingada encontra-se no Marítimo em situação semelhante à de José Peseiro no FC Porto no que respeita ao caminho que falta até à última jornada: 48 pontos disponíveis em 16 jogos a fazer. O novo treinador da equipa madeirense tem como margem mínima os 21 pontos obtidos por Ivo Vieira em 18 rondas (com 16 partidas feitas na Liga, o antecessor de Vingada fez 18 pontos).



Na Liga portuguesa, o Tondela está com o terceiro treinador da época. Petit é o atual treinador. Entrado à 13ª jornada, o técnico (que começou o campeonato no Boavista) conseguiu obter 4 pontos com uma vitória e o empate da última ronda, em Alvalade. São os mesmos pontos conseguidos em seis jornadas que Vítor Paneira conseguiu nos sete primeiros jogos do Tondela no campeonato. Entre os dois esteve Rui Bento, que conseguiu apenas 1 ponto em cinco jogos. No plano prático para além dos pontos (pouco variável entre Paneira e Petit), o clube beirão está isolado no último lugar da liga desde a 10ª jornada.

Em Coimbra, onde aconteceu a primeira chiocotada, algumas melhoras já se fizeram sentir na classificação. Sem ganhar qualquer ponto nas cinco primeiras rondas da Liga, José Viterbo foi substituído por Filipe Gouveia. O atual técnico da Académica obteve 17 pontos em 13 jogos sendo que, nos cinco primeiros (os mesmo que fez Viterbo) conseguiu 8.

À ronda 18, os estudantes conseguem estar fora da zona de despromoção. Foi também à quinta jornada que estalou o chicote em Guimarães. Armando Evangelista tinha feito seis pontos (de uma vitória e três empates) no arranque que deixou o Vitória no 11º lugar. Sérgio Conceição levou para a cidade-berço, em 13 jogos, a soma de 20 pontos (6V, 2E e 5D). O Vitória minhoto está agora no sexto lugar.

Conceição tem uma média de 1,5 pontos por jogo contra 1,2 de Evangelista. A diferença não é acentuada quando se olha apenas aos pontos – mas já se frisou que o comportamento das equipas adversárias (aqui não analisado) será sempre inseparável dos resultados finais. O Petit do Tondela é o mesmo que começou o campeonato do Boavista. O técnico português fez os 11 primeiros jogos dos axadrezados: ganhou 9 pontos. Erwin Sánchez fez os últimos seis: ganhou 4 pontos.



O boliviano tem menos de metade dos pontos em mais de metade dos jogos que o seu antecessor e a chicotada ainda não se fez sentir no Bessa tendo a equipa caído entretanto em zona de despromoção. Em Belém, registam-se melhorias com premissas de tendência inversa. Ricardo Sá Pinto deixou o clube com 13 pontos em 13 jogos e na 13ª posição. Júlio Velázquez já fez oito pontos em cinco jogos (média de 1,6 por partida) e subiu o Belenenses duas posições.

Se no caso do Belenenses de Sá Pinto, a participação inédita na fase de grupos da Liga Europa, pode também ser lembrada como um dos fatores práticos que interferem com a teoria numérica, há outra vertente nas trocas de treinador que vale a pena aqui assinalar: o fator motivacional da mudança. No Restelo, aquele verificou-se em resultados: Velázquez entrou a ganhar (Boavista) quebrando um ciclo de três derrotas.

Também Sánchez conseguiu entrar a pontuar e estreou-se com um empate (Estoril) que interrompeu um ciclo de quatro derrotas seguidas do Boavista. Na primeira mudança em Tondela, também Rui Bento se estrou-se com um empate (Arouca), mas o seu sucessor perdeu. Petit começou a carreia no clube beirão com uma derrota (Sp. Braga).

E a tendência de entrar a perder está bem vincada. Tanto Gouveia (com o Rio Ave) como Sérgio Conceição (com o Sp. Braga) também se estrearam com derrotas – sendo que o V. Guimarães vinha de um empate e o efeito mudança (mesmo que num dérbi minhoto) não se mostrou de todo.

Veja-se agora como foram as mudanças de treinador na Inglaterra, Espanha,, Itália, Alemanha e França, de um ponto de vista ainda mais numérico:

Premiership
SUNDERLAND: Dick Advocaat por SAM ALLARDYCE
Advocaat: 3 pontos em 8 jogos (média de 0,37 pontos), 19º lugar (à 8ª jornada)
Allardyce: 15 pontos em 14 jogos (média de 1,07 pontos), 19º lugar (à 22ª jornada)
LIVERPOOL: Brendan Rogers por JÜRGEN KLOPP
Rodgers: 12 pontos em 8 jogos (média de 1,50 pontos), 10º lugar (à 8ª jornada)
Klopp: 18 pontos em 14 jogos (média de 1,28 pontos), 9º lugar (à 22ª jornada)
ASTON VILLA: Tim Sherwood por RÉMI GARDE
Sherwood: 4 pontos em 10 jogos (média de 0,40 pontos), 20º (à 10ª jornada)
Garde: 8 pontos em 12 jogos (média de 0,66 pontos), 20º (à 22ª jornada)
SWANSEA: Garry Monk por FRANCESCO GUIDOLIN
Guidolin ainda não se estreou
CHELSEA: José Mourinho por GUUS HIDDINK
Mourinho: 15 pontos em 16 jogos (média de 0,93 pontos), 16º (à 16ª jornada)
Hiddink: 7 pontos em 5 jogos (média de 1,40), 14º (à 22ª jornada)

La Liga
LAS PALMAS: Paco Herrera por QUIQUE SETIÉN
Herrera: 5 pontos em 8 jogos (média de 0,62 pontos), 19º (à 8ª jornada)
Setién: 13 pontos em 12 jogos (média de 1,08 pontos), 16º (à 20ª jornada)
LEVANTE: Lucas Alcaraz por RUBI
Alcaraz: 6 pontos em 9 jogos (média de 0,66 pontos), 20º (à 9ª jornada)
Rubi: 8 pontos em 11 jogos (média de 0,72 pontos), 20º (à 20ª jornada)
REAL SOCIEDAD: David Moyes por EUSÉBIO SACRISTÁN
Moyes: 9 pontos em 11 jogos (média de 0,81 pontos), 18º (à 11ª jornada)
Sacristán: 12 pontos em 9 jogos (média de 1,33 pontos), 15º (à 20ª jornada)
VALENCIA: Nuno Espírito Santo por GARY NEVILLE
Nuno: 19 pontos em 13 jogos (média de 1,46 pontos), 9º (à 13ª jornada)
Neville: 4 pontos em 6 jogos (média de 0,66 pontos), 11º (à 20ª jornada)
ESPANHOL: Sergio González por CONSTANTIN GALCA
González: 17 pontos em 15 jogos (média de 1,13 pontos), 12º (à 15ª jornada)
Galca: 4 pontos em 5 jogos (média de 0,80 pontos), 13º (à 20ª jornada)
REAL MADRID: Rafael BenÍtez por ZINEDINE ZIDANE
Benítez: 37 pontos em 18 jogos (média de 2,05 pontos), 3º (à 18ª jornada)
Zidane: 6 pontos em 2 jogos (média de 3 pontos), 3º (à 20ª jornada)
BÉTIS: Pepe Mel ainda não tem substituto

Serie A
CARPI: Fabrizio Castori por GIUSEPPE SANNINO e por FABRIZIO CASTORI
Castori: 2 pontos em 6 jogos (média de 0,33 pontos), 20º (à 6ª jornada)
Sannino: 4 pontos em 5 jogos (média de 0,80 pontos), 20º (à 11ª jornada)
Castori: 11 pontos em 9 jogos (média de 1,22 pontos), 18ª (à 20ª jornada)
BOLONHA: Delio Rossi por ROBERTO DONADONI
Rossi: 6 pontos em 10 jogos (média de 0,60 pontos), 18º (à 10ª jornada)
Donadoni: 17 pontos em 10 jogos (média de 1,70 pontos), 15º (à 20ª jornada)
PALERMO: Giuseppe Iachini por DAVIDE BALLARDINI e por GUILLERMO BARROS SCHELOTTO
Iachini: 14 pontos em 12 jogos (média de 1,16 pontos), 13º (à 12ª jornada)
Ballardini: 7 pontos em 7 jogos (média de 1 ponto), 16º (à 19ª jornada)
Schelotto ainda não se estreou
SAMPDORIA: Walter Zenga por VINCENZO MONTELLA
Zenga: 16 pontos em 12 jogos (média de 1,33 pontos), 10º (à 12ª jornada)
Montella: 7 pontos em 8 jogos (média de 0,87 pontos), 14º (à 20ª jornada)
HELLAS VERONA: Andrea Mandorlini por LUIGI DEL NERI
Mandorlini: 6 pontos em 14 jogos (média de 0,42 pontos), 20º (à 14ª jornada)
Del Neri: 3 pontos em 6 jogos (média de 0,50 pontos), 20º (à 20ª jornada)
ROMA: Rudi Garcia por LUCIANO SPALLETTI
Garcia: 34 pontos em 19 jogos (média de 1,78 pontos), 5º (à 19ª jornada)
Spalletti: 1 ponto em 1 jogo (média de 1 ponto), 5º (à 20ª jornada)

Bundesliga
B. MÖNCHENGLADBACH: Lucien Favre por ANDRÉ SCHUBERT
Favre: 0 pontos em 5 jogos (média de 0 pontos), 18º (à 5ª jornada)
Schubert: 29 pontos em 12 jogos (média de 2,41 pontos), 4º (à 17ª jornada)
HOFFENHEIM: Markus Gisdol por HUUB STEVENS
Gisdol: 6 pontos em 10 jogos (média de 0,60 pontos), 17º (à 10ª jornada)
Stevens: 7 pontos em 7 jogos (média de 1 ponto), 18º (à 17ª jornada)
ESTUGARDA: Alexander Zorniger por JÜRGEN KRAMNY
Zorniger: 10 pontos em 13 jogos (média de 0,76 pontos), 16º (à 13ª jornada)
Kramny: 5 pontos em 4 jogos (média de 1,25 pontos), 15º (à 17ª jornada)
HANNOVER 96: Michael Frontzek por THOMAS SCHAAF
Schaaf ainda não se estreou

Ligue 1
MARSELHA: Marcelo Bielsa por MICHEL
Bielsa: 0 pontos em 1 jogo (média de 0 pontos), 18º (à 1ª jornada)
Michel: 28 pontos em 20 jogos (média de 1,40 pontos), 8º (à 21ª jornada)
LILLE: Hervé Renard por FRÉDÉRIC ANTONETTI
Renard: 13 pontos em 13 jogos (média de 1 ponto), 16º (à 13ª jornada)
Antonetti: 11 pontos em 6 jogos (média de 1,83 pontos), 14º (à 21ª jornada)
TROYES: Jean-Marc Furlan por CLAUDE ROBIN
Furlan: 5 pontos em 16 jogos (média de 0,31 pontos), 20º (à 16ª jornada)
Robin: 2 pontos em 4 jogos (média de 0,50 pontos), 20º (à 21ª jornada)
MONTPELLIER: Rolland Courbis por PASCAL BAILLS e BRUNO MARTINI
Courbis: 22 pontos em 19 jogos (média de 1,15 pontos), 15º (à 19ª jornada)
Baills e Martini: 0 pontos em 2 jogos (média de 0 pontos), 16º (à 21ª jornada)
LYON: Hubert Fournier por BRUNO GÉNÉSIO
Fournier: 26 pontos em 19 jogos (média de 1,36 pontos), 9º (à 19ª jornada)
Génésio: 3 pontos em 2 jogos (media de 1,50 pontos), 9º (à 21ª jornada)

*Ficaram excluídas referências a treinadores interinos.