Na espada de Dom Afonso Henriques morreram dois pontos. O Vitória roubou cinco ao FC Porto nesta Liga, se lhes acrescentarmos os três da primeira volta. Em dia de dérbi da Segunda Circular, os homens de Conceição sentiram a liderança a encolher. A Liga está viva, bem viva, para três dos candidatos ao trono.

O nulo em Guimarães merece uma reflexão cuidada. Já se sabe que este FC Porto é um corpo duro, granítico, gosta de falar alto, arregaçar as mangas e por tudo em pratos limpos. Olhos nos olhos.

É uma figura popular, de gestos rudes e uma frontalidade genuína. Gosta de vestes limpas, mas simples. Não o queiram meter apertado num fato de milhares de euros, gravata bem ajustada e sapatos a brilhar mais do que a própria identidade.

Este FC Porto campeão nacional não se dá bem num tom, digamos, mais civilizado e artístico. Na Cidade-Berço sentimo-lo assim demasiado tempo.

DESTAQUES EM GUIMARÃES: Wakaso, um monstro no meio

Quando decidiu voltar ao que sempre foi e está preparado para ser, ADN de conquista pela força bruta, a baliza de Douglas estremeceu, mas o Vitória respondeu bem e lá foi aguentando o pontinho.

Não faltaram oportunidades de golo aos campeões nacionais, é verdade. Basta lembrar as duas ocasiões quase escandalosas desperdiçadas por Moussa Marega ainda antes do intervalo – o avançado teve uma noite horrível e acabou mesmo por sair lesionado, em lágrimas –, o pontapé de Soares à barra e as muitas defesas de Douglas na fase da pressão total do FC Porto.

Ainda assim, e se nos permitem, essa superioridade evidente na toada da partida (23 / 8 em remates, 61 / 39 em posse de bola), poucas vezes deixou o Vitória de Luís Castro em aflição.

O Vitória, aliás, teve períodos em que baixou as linhas por opção, acreditando no poder de Wakaso (que grande exibição!) e na definição lúcida de Joseph sempre que havia espaço para transições.

FICHA DE JOGO E O AO MINUTO DO VITÓRIA-FC PORTO

Sem fazer um jogo com a qualidade de outros, o Vitória minhoto teve, acima de tudo, um escudo convincente a tapá-lo das flechas, balas e tiros de canhão. E quando tudo falhava, enfim, lá aparecia uma perna quase miraculosa a evitar o golo. Ao minuto 74, por exemplo, Frederico Venâncio tirou em cima da linha mais um remate do infeliz Marega.

Sérgio Conceição manteve os homens do costume, abdicou mais à frente de Brahimi para introduzir Otávio e passar Corona para a esquerda, lançou Fernando Andrade para a vaga do lesionado Marega e meteu Hernâni nos descontos, à procura de um ato de fé semelhante aos do Bessa e do Mar. Nada resultou, apesar de o FC Porto ter sido melhor em tudo.

Luís Castro foi sempre mais conservador, consciente da necessidade e superioridade portistas. Mattheus Oliveira, o médio mais esclarecido com bola, só jogou os últimos 15 minutos. Castro quis músculo e bola direta, quase em todos os momentos. Funcionou.

Conclusão prática: com 14 jornadas por disputar (42 pontos), o FC Porto tem só três de vantagem sobre o Benfica e quatro sobre o Sp. Braga. O dragão sabe que só de fato macaco e manchas de óleo na cara vai resolver a problemática deste quadro.