Miguel Ângelo da Silva Rocha, Xeka no mundo do futebol. Aos 26 anos, ao jogador formado no Paços de Ferreira e no Gondomar – e com uma curta passagem pelo Valência – é uma das caras que luta para dar ao Lille o quarto título francês da história, dez anos depois do último.

Em entrevista ao Maisfutebol, Xeka assume que está no melhor momento da carreira e fala da ambição de representar a Seleção Nacional, o que, na sua ótica, já podia ter acontecido.

Já muito experimentado no futebol gaulês, o médio luso fala também do Lille, sensacional líder da Ligue 1 a seis jornadas do fim, dos portugueses com quem cruza ou já cruzou caminho, e até da curta experiência com Marcelo Bielsa.

Nesta conversa via zoom, ou não estivéssemos a meio de uma pandemia, Xeka recorda ainda os tempos do Sp. Braga e rasga de elogios um dos treinadores mais importantes da sua carreira: Abel.

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PARTE I: Xeka: «Sinceramente, já esperava uma oportunidade na Seleção»

PARTE III: Xeka: «O Renato é da mesma gama do Fonte, surpreendeu-me muito»

PARTE IV: «Aprendi mais com Abel em dois meses do que nos três anos anteriores»

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Está há cinco anos ligado ao Lille, com um de empréstimo ao Dijon pelo meio. Já se sente da casa?

Sim, quando ingressei no projeto do Lille estava rodeado de muitos portugueses que me fizeram sentir casa – na altura estava cá o Luís Campos, o Éder, o Rony Lopes – e tiveram um papel importante na minha adaptação. Rapidamente tornou-se um clube onde me senti e sinto até hoje em casa.

Luís Campos foi uma peça importante para a mudança para o Lille?

Sim, claramente. O projeto foi-me apresentado, estava no Sp. Braga na altura, e foi tudo muito rápido. Vim por empréstimo, na segunda parte da época de 2017, e o Luís nesses quatro meses ajudou-me a integrar e a projetar o meu futuro aqui em Lille. Foi uma pessoa que vou ter sempre próxima de mim, ajudou-me muito e só lhe tenho a agradecer.

Como foi a mudança repentina? Surpreendeu-o?

Foram seis meses um bocado atribulados [risos]. Voltei ao Sp. Braga B com o mister Abel Ferreira, tivemos várias conversas ao telefone, antes de começar a pré-época, e foi uma pessoa que me ajudou muito na minha forma de jogar. Foi algo que me ajudou a estar preparado a subir à equipa principal. Estava mentalmente preparado e quando essa oportunidade surgiu tentei agarrá-la da melhor forma possível. As coisas foram correndo bem, fui sempre jogando. Subi à equipa principal com o Peseiro, depois entrou o Jorge Simão e senti o meu lugar um pouco ameaçado. Surgiu a oportunidade de ir para o Lille, eu sempre quis jogar no estrangeiro e aproveitei essa oportunidade para me lançar. Senti-me sempre preparado mentalmente, isso foi um dos fatores mais importantes. Quando cheguei, o facto de ter essas pessoas que já mencionei também tornaram a adaptação mais fácil e consegui corresponder em campo.

Mas foi o Xeka que procurou a saída quando o Jorge Simão chegou ao Sp. Braga, por sentir que ia perder espaço?

Provavelmente. Até ao momento estava a realizar uma boa época. Tinha subido da equipa B e estava a jogar sempre. Estava num momento bom, e decidi aproveitar uma oportunidade que me foi dada para ir para um clube onde sabia que a visibilidade ia ser totalmente diferente.

Não se arrependeu da decisão de sair do Sp. Braga, já que o Abel depois assumiu o comando da equipa principal?

Tento viver a minha vida sem ter arrependimentos. Na altura a melhor opção para mim era ingressar no projeto do Lille. Fiquei muito feliz quando o mister Abel subiu à equipa principal, mas nunca pensei como é que seria se tivesse ficado. Não se pode prever o vai acontecer no futuro. No altura a melhor opção era vir para o Lille e não me arrependo, encontrei aqui outra família. Acho que o meu futebol evoluiu muito ao longo dos anos, mesmo com algumas lesões. E acho que se tem visto ultimamente.

Na altura, na segunda época no Lille, foi emprestado ao Dijon, quando o Bielsa era o treinador. Ainda fez a pré-época com ele. Como foi? É realmente uma personagem à parte no futebol?

No início foi muito difícil, os métodos de treino são completamente diferentes ao que uma pessoa está habituada. Houve um período de adaptação difícil não só para mim, mas para toda a equipa. Sentia que não iria ter o meu espaço com o Bielsa e isso causava-me algum transtorno, foi um período difícil da minha vida. Eu trabalhava todos os dias para jogar e sabia que ali ia ser difícil. Surgiu essa oportunidade de jogar, que era o que precisava. E de dar continuidade à época que tinha feito. Queria ter continuado no Lille, como é óbvio, mas pensei na minha carreira.

Xeka a festejar um golo pelo Lille (fonte: instagram Lille)

Foi ele que disse que não contava contigo ou foi o Xeka que procurou o empréstimo para poder jogar com regularidade?

Na altura ele não conversou muito comigo durante a pré-época toda. Quando conversou disse-me que tinha sido um jogador muito importante para o Lille na segunda parte da época anterior, que tinha sido muito influente, mas que eu não era o jogador que ele queria e que se calhar não ia ter o espaço que desejaria naquela equipa, por isso para estar vontade caso quisesse sair e encontrar outra solução para a minha carreira.