Miguel Ângelo da Silva Rocha, Xeka no mundo do futebol. Aos 26 anos, o jogador formado no Paços de Ferreira e no Gondomar – e com uma curta passagem pelo Valência – é uma das caras que luta para dar ao Lille o quarto título francês da história, dez anos depois do último.

Em entrevista ao Maisfutebol, Xeka assume que está no melhor momento da carreira e fala da ambição de representar a Seleção Nacional, o que, na sua ótica, já podia ter acontecido.

Já muito experimentado no futebol gaulês, o médio luso fala também do Lille, sensacional líder da Ligue 1 a seis jornadas do fim, dos portugueses com quem cruza ou já cruzou caminho, e até da curta experiência com Marcelo Bielsa.

Nesta conversa via zoom, ou não estivéssemos a meio de uma pandemia, Xeka recorda ainda os tempos do Sp. Braga e rasga de elogios um dos treinadores mais importantes da sua carreira: Abel.

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PARTE I: Xeka: «Sinceramente, já esperava uma oportunidade na Seleção»

PARTE II: «Período com Bielsa foi muito difícil, percebi que não ia jogar»

PARTE III: Xeka: «O Renato é da mesma gama do Fonte, surpreendeu-me muito»

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Em 2011, mudou-se do Gondomar para o Valência, quando tinha idade de junior. Ficou lá uma temporada. Como foi essa experiência?

Quando cheguei a Valência fiquei boquiaberto, a academia é incrível, têm uma estrutura magnífica. Foi uma grande aprendizagem, ajudou-me muito. Por exemplo, quando vim para Lille já sabia como era estar longe. A minha situação no Valência foi um bocado complicada. Fiquei impossibilitado de jogar até dezembro/janeiro, e acabo por lesionar-me na altura de março. Isso não me permitiu jogar muito e deixa-me muita mágoa. Como era jovem e tive um ano tão atribulado, com tantos altos e baixos, decidi, juntamente com a minha família, voltar. Dar dois passos atrás para depois poder chegar mais alto. Estava a precisar de mais apoio familiar na altura. Na minha cabeça fui cheio de ambição, achava que ia conseguir explodir na formação do Valência. Não aconteceu, mas tenho na memória tudo o que passei e é algo que me ainda ajuda, principalmente quando bate a saudade da minha família. Como tenho estes anos todos fora de casa, começo a saber lidar com tudo isso.

No Sp. Braga há um treinador que se destaca no seu percurso, o Abel, que apostou em si na equipa B depois de duas épocas na II Liga ao serviço do Sp. Covilhã. É um dos treinadores mais importantes da sua carreira?

Sim, é um dos treinadores mais importantes da minha carreira, sem dúvida. A partir do momento que aceitei o projeto que ele me apresentou, sabia que tinha de trabalhar muito e foi isso que fiz. Ouvi muito o que ele tinha para dizer, toda a sabedoria que me transmitiu. Ajudou-me muito na minha forma de jogar, de entender o jogo. Nessa altura no Sp. Braga B, acho que em dois meses consegui ter uma melhor compreensão do jogo do que se calhar tinha tido nos últimos três anos. Foi algo que se notou logo nas minhas capacidades. Ele dava-me sempre o teórico e eu metia em prática. Ajudou-me muito, porque passados dois ou três meses estava na equipa principal a jogar. Para quem vinha do Covilhã, onde também tinha tido algumas lesões e coisas menos boas, passar depois logo para a equipa principal do Sp. Braga em poucos meses foi uma transição muito grande, mas ele teve um papel muito importante em preparar-me para tudo o que aconteceu. Sempre que temos oportunidade falamos e ele sabe o quão agradecido eu estou, até hoje.

Xeka disputa um lance com William Carvalho, no Sporting-Sp. Braga da época 2016/17 

Ficou surpreendido com o sucesso que teve no Brasil?

Surpreendido não. Tenho a noção das capacidades que tem, achei normal. Não foi só o trabalho que fez no Brasil, foi o trabalho que fez no PAOK e por onde passou. É um treinador que tem personalidade, e se tiver o grupo certo de jogadores consegue fazer coisas incríveis. Admiro-o muito como treinador, mas como pessoa admiro ainda mais.

Quem foi o jogador com quem jogou que mais o surpreendeu, ou mesmo o melhor?

Posso falar do Nicolas Pepé, que esteve connosco em 2018 [agora jogador do Arsenal]. Não o conhecia, e o Pepé fez uma época incrível. Um nível muito superior a coisas que já tinha visto, surpreendeu-me muito pela positiva. Posso dizer também o José Fonte, por essa liderança que já falei. Pela experiência, pelo rigor… por tudo o que ele dá à equipa. Olho para ele e penso que todos os jogadores deveriam seguir o caminho dele. E posso também colocar o Renato nessa lista, futebolisticamente tem qualidades para ser um jogador de nível muito elevado, dos melhores do mundo. Também me surpreendeu muito pela positiva, só o conhecia da televisão. Treinamos todos juntos todos os dias e sei do que é que ele é capaz. É acima da média.

E para o futuro? Pensa ficar no Lille muitos mais anos ou gostava de experimentar outras aventuras?

Em relação à minha carreira não tenho pensado muito no futuro. Tenho aproveitado o momento, a situação da covid-19 também não ajuda a transferências. Tenho pensado em mim, em estar bem, sinto-me completamente estabilizado aqui. Sinto-me bem e em casa, não tenho necessidade de sair. É claro que como jogador queria experimentar outras ligas, talvez Inglaterra, era uma liga que gostava de experimentar por causa da competitividade, sou um jogador muito competitivo. Se calhar também gostaria de experimentar Espanha, é um futebol mais técnico, também gosto disso. Acho que seriam os dois campeonatos mais interessantes para mim. Nunca sabemos o futuro, nunca se pode dizer que se fica ou se sai. Só no final da época é que vou olhar para o futuro.