Os «Lugares Incomuns» do futebol internacional voltam à América do Sul, mais concretamente ao Peru, para observar aquele que é uma revelação inimaginável do futebol mundial. A actuar no Alianza Atletico, no Campeonato Descentralizado, Robinson Aponzá foge aos cânones daquilo que entendemos ser preciso para vingar enquanto atleta profissional. Só aos 27 anos, sem qualquer formação base e com entrada precoce no futebol sénior com pouco sucesso, é que vai conseguindo provar que podia ser outro jogador. Com vícios. Mas será que é possível vingar sem eles? Temos exemplos, como Carlos Bacca, que nos dizem que sim. Mas poucos.

Nasceu em Buenos Aires, um pequeno Município da Colômbia que em comum com a capital argentina só tem mesmo o nome, sendo por lá que começou a competir antes de se mudar para o México, onde representou o Pumas por uma época. Seguiu-se o regresso a casa pelo Tolima e a transferência para o Alianza Atlético. Depois de uma primeira temporada discreta nos Los Churres, ninguém podia prever o vendaval de futebol (e de golos!) que se avizinhava.

Aponzá é o retrato do futebol de rua. Na franzina fisionomia, na forma como alterna momentos deliciosos com displicência no seu estado máximo e até na falta de um padrão posicional e de movimentos. Se em algumas situações pode ser catastrófico para os seus, noutras isso garanta-lhe ser a catástrofe para os outros.

Apresenta-se como o melhor marcador da liga, com 28 golos em 37 jogos, estatuto que dificilmente será ultrapassado este ano e que faz valer a confiança regular do seu treinador, como o provam os 3221 minutos que leva na Copa Movistar. Números estratosféricos, mesmo com a atenuante de ser um campeonato com muito espaço para pensar e executar, para um jogador que, não podendo ter uma categorização rígida, não é um ponta-de-lança.

Tem jogado habitualmente a partir da faixa, preferencialmente como extremo direito, embora constantemente à procura de diagonais com e sem bola, aparecendo no corredor central para decidir. Aproxima-se mais vezes da referência do ataque, mas também é possível vê-lo na posição 10, que é a sua de origem e que facilmente se nota pela forma como sabe temporizar, algo que faz poucas vezes no futebol peruano que vive do ataque/contra-aataque. Quando a equipa necessita de reforçar a presença ofensiva, transformando a sua estrutura num 4x4x2, joga igualmente como 9,5.

Tecnicamente revela deficiências muito evidentes na receção e «receção orientada» é um termo que desconhece. Depois de controlar a bola, aí sim, consegue exprimir toda a sua criatividade individual, que nem sempre tem facilidade em integrar no coletivo. Não é de estranhar que o lado mais forte do seu jogo sejam todas as ações isoladas, como a boa capacidade de drible e um duo de velocidade e poder de aceleração absolutamente impressionantes, que o tornam praticamente imparável no um para um ofensivo perante os modestos adversários que enfrenta.

A veia goleadora que apareceu muito tarde é o que mais surpreende e a prova de que o futebol também vive mesmo muito da palavra chave «confiança». Aponzá transformou-se num verdadeiro «rato de área», fazendo a maioria dos seus golos bem próximo do guarda-redes sem que esses sejam terrenos que pisa muitas vezes ao longo de cada 90 minutos. Reage a bolas defendidas para a frente primeiro que todos os outros, quase como um jogador de basquetebol que sabe onde vão cair os ressaltos, destaca-se no jogo aéreo fazendo muitos golos de cabeça do alto dos seus 174cm e também na frieza na hora de rematar, como se percebe ao vê-lo ao converter um penálti «à Panenka» aos 93 minutos com o jogo em 1-1.