O livro é lançado dia 2 de Maio, no Palácio da Bolsa, mas chega mais cedo às bancas: é colocado à venda este fim-de-semana. Escrito pelas jornalistas Felícia Cabrita e Ana Sofia Fonseca, com a colaboração do próprio presidente e com depoimentos de muita gente, trata-se de uma biografia que passa em revista quase 70 anos de vida. Desde o nascimento numa família da alta burguesia portuense até aos nossos dias.
Como 70 anos não cabem em 180 páginas, o livro avança por histórias (capítulos), que vão desde «o retrato da família», «os primeiros anos de vida» ou «a expulsão do colégio dos Jesuítas», até «os amores por Carolina», «a era Mourinho» ou «o Apito Dourado». Pelo meio nota-se que a intenção é dar a conhecer mais o homem e menos o presidente. Fala-se mais de «Jorge Nuno», o nome por que é tratado, e menos de «Pinto da Costa».
Por explicar ficam os anos 80, por exemplo (o guarda Abel é despachado num parágrafo, o caso Calheiros em mais um, Delane Vieira em dois), o Verão Quente de 80 (que merece apenas três páginas). As desavenças com João Rocha e Jorge de Brito, a guerra com o árbitro Carlos Valente, ou o afastamento de Fernando Gomes (que com Alexandre Magalhães e Luís Filipe Vieira recusou entrar no livro) são esquecidos.
Já Carolina Salgado é figura central em três capítulos. Depois do livro da antiga companheira, nota-se a vontade de devolver as acusações. Carolina é mesmo tratada, muito ironicamente, por «Evita de Gaia» e é sublinhado o seu passado ligado à droga e às casas de alterne. Pinto da Costa admite, de resto, a relação com Liza, fala de Manuela (que lhe deu o filho Alexandre) e diz que Filomena foi a mulher que mais amou.
Um menino ligado à mãe que se tornou irreconhecível com o poder...
O livro aborda sobretudo o lado pessoal do presidente, desde o menino que ultrapassou o divórcio dos pais no apego a um gato de peluche que lhe preencheu a imaginação até aos 18 anos, um rapaz muito ligado à mãe (a quem escrevia cartas e poemas todos os dias), que desenvolveu um amor arrebatador pelo F.C. Porto por influência do tio e que obrigou a namorada a fazer-se sócia para manterem o namoro. Um rapaz ainda de lágrima fácil e discurso cativante, que se tornou irreconhecível quando o poder lhe subiu à cabeça, nas palavras da ex-mulher Manuela. Um rapaz que se fartou de Portugal quando se tornou homem e que planeia ir para África quando terminar o Apito Dourado.
Pelo meio não se escondem os defeitos de Pinto da Costa. Não se oculta, por exemplo, que o presidente é capaz de tudo para conseguir o melhor para o clube. Nem que isso passe por apunhalar um amigo pelas costas. Daí haver tantos exemplos de amigos do peito que entretanto passaram a inimigos viscerais. Também não se oculta a forma como deixou de frequentar a casa de Pedroto nos últimos dias da vida do antigo treinador. «O F.C. Porto devia dinheiro ao meu pai e ele falava nisso ao Jorge Nuno... Não deve ter sido essa a razão, mas o certo é que desde que o meu pai morreu ele nunca mais nos procurou», contou a filha de José Maria Pedroto às escritoras no livro.
... e que fez a primeira contratação aos 17 anos
No fim sobram as pequenas estórias. Por exemplo a primeira contratação, feita quando Pinto da Costa tinha 17 anos e era central nos juniores do Infesta por carolice. Convenceu o presidente a contratar um jogador ao Leixões e ajudou a fechar a negociação. Ou como não deixou Filomena chamar Marta à filha porque tinha receio que na escola lhe dissessem Marta, vai para o raio que ta parta. Como fala com os cães como se falasse com os filhos. Como contratou Carlos Alberto Parreira numa noite e o despediu na manhã seguinte porque o brasileiro deu a notícia a A Bola. Pequenas estórias de um homem que, diz António Oliveira, «nasceu para ser presidente do F.C. Porto».