Carlos Carvalhal deu uma longa entrevista à BBC rádio em que contou alguns episódios da sua carreira e falou sobre os grandes inimigos dos treinadores: os adeptos nas redes sociais e os personal trainers.

Na entrevista, Carvalhal conta quando deixou o Sp. Braga, em 2006, por causa da «pressão» que os filhos estavam a sofrer na escola. «Vi que toda a minha família estava infeliz, os meus filhos choravam a maior parte do tempo, por isso soube que tinha que parar. Foi uma grande surpresa porque estávamos a sair-nos bem na Liga Europa, mas não estava a ser bom para a minha família».

E recorda também o dia em que entregou a braçadeira de treinador ao presidente do Leixões.

«Quando estava no Leixões, na 3.ª divisão, chegámos à final da Taça de Portugal, mas na época seguinte o presidente disse-me: 'Vais jogar com este e com aquele jogador'. Eu respondi-lhe: 'Não. Vou jogar com a equipa que eu preparei'. Então ele disse-me: 'Faz o que quiseres, mas se perderes já sabes o que vai acontecer'. No fim do jogo, que nós ganhámos, em frente aos jogadores, dei ao presidente a braçadeira e disse: 'Agora temos um novo treinador. Você quer ser treinador, então eu saio. E sai, claro. Se o presidente quer escolher os que jogam, não posso continuar. Essas decisões são do treinador».

Carvalhal não teve só batalhas com os presidentes. «Em todos os clubes por onde passei, nas primeiras semanas senti que estava a ser testado pelos principais jogadores do plantel. É aí que se define o nosso sucesso no clube. Se ganhares essa batalha, tens os jogadores na mão e eles vão dar tudo. Se a perderes, estás acabado. Pode demorar semanas ou meses, mas estás fora.»

Famoso em Inglaterra pelas suas metáforas, o técnico português diz que fala para os jogadores de forma diferente da que fala para a imprensa – e já agora, garante que «habitualmente» não prepara as conferências, «é natural». «É importante que os jogadores e os adeptos ouçam a mensagem, mas eu explico aos jogadores que às vezes o que digo no balneário e o que digo à imprensa é diferente. Às vezes a estratégia é baralhar o adversário e, como treinador, não tenho medo de criar uma ligação aos adeptos, de os fazer sonhar, e de puxar pelos jogadores para conseguir alguma coisa».

O técnico diz que «os adeptos podem ser uma grande parte do jogo», mas isso nem sempre é positivo. «Hoje em dia temos mais inimigos. Nas redes sociais, um maluco ou um miúdo de oito anos podem acabar connosco. Os adeptos a darem opiniões no Twitter e no Facebook são um grande inimigo dos treinadores».

E Carvalhal apontou outra ameaça. «Os jogadores são mais egoístas. Vivem num mundo só deles e isso prejudica-os. Têm personal trainers, e eu acho isso inacreditável porque não sabem o que estão a fazer. Os personal trainers são um grande inimigo dos treinadores».

«Tive um jogador no Swansea que se lesionou no joelho e dois dias antes tinha estado a treinar com o personal trainer. Quem é responsável por isso? Os jogadores acham que é giro ter um personal trainer, que parece bem, mas não estão ligados ao treinador e com o que ele faz durante toda a semana», disse o técnico, frisando que «os jogadores não são máquinas indivuduais».