Rui Silva abordou o falecimento do pai, falou sobre a seleção nacional e explicou quais as diferenças entre a Liga espanhola e a Liga portuguesa.

«Tudo conta: a alimentação, o trabalho físico e mental. O futebol é exigente. As equipas em Espanha têm orçamentos muito superiores e não há comparação entre a intensidade de jogo. Em Portugal, joguei jogos perante 1000, 1500 ou 2000 pessoas, o que é impensável em Espanha. Isso acaba por fazer com que os jogadores decidiam ir para uma Liga mais poderosa para adquirirem uma mentalidade completamente diferente, uma mentalidade que realmente ajuda a crescer como atleta», apontou acerca dos dois campeonatos, em entrevista à revista «Panenka».

O guarda-redes lembrou ainda o falecimento do pai, no início de 2022, e justificou por que razão decidiu jogar pelo Betis nos dias seguintes.

«O meu pai estava doente há algum tempo. Foi submetido a um transplante. Desde que foi internado, tudo parecia estar a correr bem, mas surgiram novos problemas relacionados com a epilepsia. Pensa-se na morte, mas não se quer que aconteça. Nos dois dias antes da sua morte, disseram-me que ele estava melhor. Já respirava sozinho após um mês nos ventiladores. Mas, no fim, não conseguiu aguentar. É difícil jogar assim. Houve alturas em que não me apetecia ir treinar, só queria estar com o meu pai. A minha mãe também estava lá e a minha irmã, que tinha 17 anos, e estava a passar por uma fase muito complicada. Também tomou conta dele, deu-lhe de comer... só com 17 anos», recordou.

«O meu pai teria desejado que fosse assim. Não fazia sentido estar em casa. Vi a minha mãe, a minha irmã e depois do funeral, ao invés de ficar lá a chorar, vim jogar. Trouxe a minha irmã para Sevilha. A minha mãe ficou em casa, queria ter o seu próprio espaço. E no caminho, pensei que o meu pai teria querido que eu jogasse. No início, foi difícil concentrar-me, mas depois tudo passa em campo apesar de termos perdido», acrescentou, revelando que vai ser pai e «se for um rapaz» vai ter o nome do seu pai, Manuel.

Esse desaire contra o Celta de Vigo ficou marcado por um gesto tremendo de fair-play de Iago Aspas, que o consolou depois de lhe ter feito um golo. O jogador não esquece esse gesto.

«Foi um gesto muito bonito. O futebol não é apenas o lado profissional, mas também o lado humano. Lembrar-me-ei sempre disso. O facto de uma pessoa com a carreira dele me ter abordado daquela forma, marcou-me. Por vezes, as pessoas esquecem-se de que temos sentimentos. Somos pagos para fazer o que gostamos, é verdade. Mas por vezes cometemos erros. E os erros fazem parte de quem somos. Temos emoções, sentimentos, dias bons e dias maus, e é complicado viver com estas exigências», destacou.

Por último, Rui Silva comentou uma possível chamada à seleção nacional depois de ter ficado de fora da primeira convocatória de Roberto Martínez. «Já estive num Europeu com o Fernando Santos. Claro que quero voltar a ser chamado, mas para isso tenho de trabalhar no Betis e esperar a minha oportunidade. O Rui Patrício e o Diogo Costa são dois grandes guarda-redes. O Diogo está em grande forma e eu estou a dar o meu melhor no Betis», concluiu.