Pedro Martins assumiu o comando do Al Gharafa, do Qatar, no final do ano passado e não se arrepende da decisão. O treinador português, num extensa entrevista à revista Panenka, confessou que teve várias ofertas, mas optou pelos qataris devido ao projeto desportivo, mas também pelo aliciante financeiro.

«Tive muitas ofertas, especialmente de Inglaterra. Foi público. Também tive propostas da Bélgica e de Portugal, mas optei pelo Qatar por causa do projeto, que é muito interessante. Não só para o clube, mas também para o futebol. Além disso, também tenho de admitir que era interessante do ponto de vista financeiro. Todos estes fatores levaram-me a aceitar a proposta do Qatar. Também porque o futebol está a crescer a passos largos, é exatamente isso que está a acontecer no Médio Oriente. Foi uma decisão muito bem pensada e, passado quase um ano, não me arrependo minimamente», afirmou.

O técnico luso abordou ainda alguns temas extra-futebol e deu o seu ponto de vista sobre a vida no Qatar, um país marcado pelo abuso de trabalhadores migrantes, a discriminação relativamente à comunidade LGBTI e a falta de direitos das mulheres.

«Sinceramente, desde que cá estou, não sinto qualquer falta de liberdade. Toda a gente diz que existem situações ilegais no Qatar. Acho que isso acontece em todo o lado, mas acima de tudo, eu vivo aqui e a minha mulher está comigo. Ela vive exatamente como em Portugal ou na Grécia. Nunca fomos obrigados a mudar o nosso estilo de vida. Existem algumas restrições normais para os estrangeiros. As culturas são diferentes, sim, mas em termos de liberdade de expressão, em comparação com o que estou normalmente habituado, não senti qualquer diferença», reconheceu.

«Converso muito com outras pessoas sobre a imagem que estava a ser criada do Qatar, principalmente na altura do Mundial. Porque era muito visível e não tinha nada a ver com o que acontece no dia a dia da sociedade do Qatar. Sinceramente, eles têm as suas restrições, a sua cultura e temos de respeitar isso. Volto a dizer que isso nunca me foi imposto e nem me sinto incomodado», completou.

Pedro Martins comentou também o investimento feito no futebol do Médio Oriente e apontou que o futebol saudita concentra recursos em «quatro ou cinco equipas», enquanto os qataris investem «em praticamente todas».

«Não sei porque é que lhes chamam ligas de segunda linha porque, por exemplo, vemos uma competição na Arábia Saudita onde estão as maiores estrelas do mundo neste momento. Sinceramente, os melhores jogadores do mundo estão lá, o que torna os campeonatos muito melhores. Não vou mencionar nenhuma liga porque não quero qualquer tipo de polémica, mas atualmente na Europa existem competições interessantes para o seu público, mas onde a qualidade dos seus jogadores já não é a mesma. Por isso, vale a pena lembrar que a Arábia Saudita tem uma das ligas mais competitivas do mundo», concluiu.

O Al Gharafa, de Pedro Martins, lidera o campeonato do Qatar, com 22 pontos, mais três do Al Sadd, segundo classificado, com menos dois jogos.