A seleção da Nigéria, Osimhen a passagem pelo Real Madrid, o Sp. Braga, João Félix e outros craques portugueses, José Peseiro não deixou nada por dizer numa extensa entrevista. O selecionador da Nigéria abordou a mudança do avançado para o Barcelona.

«Algumas vezes pode ser a química, outras vezes não há proximidade. Há também casos de incompatibilidade. Em Portugal tememos perder o talento do João. É um dos jogadores mais talentosos do mundo. Não se sabe quem é o responsável nas relações entre treinador e jogador. O objetivo é desenvolver os jogadores. Talvez o João não tenha gostado do modelo de jogo, da forma de treinar, mas tinha de o fazer. O Simeone é um treinador fantástico e tornou o Atlético numa das equipas de topo da Europa. Há momentos em que uma pessoa não se sente feliz. Em Barcelona, com o Xavi, o João deve agarrar a oportunidade em Barcelona com o Xavi, porque tem muito talento. Tem de fazer esse esforço para entender e participar no jogo coletivo. Tem de ceder um pouco para ajudar a equipa e mostrar o seu talento», referiu, em entrevista ao AS.

O treinador, de 63 anos, recordou ainda a passagem pelo Real Madrid em 2003/04, clube onde trabalhou como adjunto de Carlos Queiroz. «Fui adjunto com Carlos Queiroz durante um ano. Precisava de mais três anos para aprender mais. Já tinha subido três equipas da terceira divisão para a segunda e da segunda para a primeira. Depois de ter feito uma boa época com o Nacional, o Queiroz ligou-me. Eu liguei ao Mourinho que me disse: "Não podes perder essa oportunidade. Vens de onde vens. Para conheceres um balneário de craques e para sentires como é, é importantíssimo." Foi uma experiência fantástica e não sei se tinha chegado onde cheguei se não tivesse estado no Real Madrid. Foi um momento que jamais vou esquecer. Fiquei impressionado com a capacidade humana dos jogadores», começou por lembrar.

«Florentino, de quem gosto muito, contratou muitos "Galáticos" e o resto do plantel não tinha a mesma qualidade. Jogámos de forma fantástica durante muito tempo. Não sei se o Queiroz desfrutava, o treinador principal está sempre em stress, mas eu desfrutava. Estávamos a lutar por tudo. No final acabámos muito mal, porque jogavam quase sempre os mesmos. Praticamente não rodávamos a equipa porque eram miúdos. Não tínhamos um plantel com profundidade suficiente para estar a top sempre. O projeto de Florentino de "Zidanes e Pavones" era uma ideia, mas faltavam-nos jogadores. O Pavón funcionou como central, mas outros jogadores não tinham essa capacidade. Se tivéssemos tido a capacidade de jogar sempre com os melhores, teríamos conquistado tudo. O plantel não tinha profundidade suficiente para lutar por tudo, mas é óbvio que também cometemos erros», acrescentou.

O português considerou ainda que os merengues eram a melhor equipa e poderiam ter vencido a Champions - FC Porto acabou por levantar o troféu sob comando de Mourinho.

«Nessa temporada, a Liga dos Campeões foi conquistada pelo FC Porto e nós tínhamos-lhes ganho por 1-3 [na fase de grupos da prova milionária]. Éramos melhores do que todos. Contra o Mónaco [nos quartos de final], sofremos um acidente que nos "matou". Enfrentámos as decisões de Florentino Pérez, que fez um trabalho fantástico como presidente do Real Madrid e com quem tenho uma grande ligação. Tal como tenho com Emilio Butragueño. Tínhamos 12, 13 ou 14 jogadores e ainda tínhamos o Solari no banco, que contribuiu muito. Tínhamos Beckham e Figo, um jogava a médio e o outro como extremo, por isso podiam jogar os dois. Jogaram bem, muito bem. O Beckham fez coisas muito boas. Se tivéssemos conseguido permanecer na Champions, teríamos mantido a resistência e a força para ganhar também o campeonato. Psicologicamente, foi um impacto muito grande, afetou a equipa para a liga espanhola e acabámos em quarto lugar [atrás do campeão Valência, do Barcelona e do Deportivo da Corunha]», defendeu.

Peseiro deixou ainda rasgados elogios a Victor Osimhen, figura maior da Nigéria, seleção que atualmente orienta. «É um craque, pela capacidade de fazer golos, de lutar e de pressionar. Ofensivamente é muito forte, coloca muita pressão na defesa contrária. É agressivo, rápido, potente e tem golo. Se pode jogar no Real Madrid? Pode jogar em qualquer equipa de topo como o Real Madrid, Bayern ou City.»

O português refletiu ainda sobre as dificuldades que encontrou nas Super Águias. «Há um ponto importante e não só na Nigéria. A organização, a estrutura, as questões logísticas, as condições de treino, o aspeto financeiro... não chega ter bons jogadores, é preciso dar-lhes boas condições para que sejam mais fortes. É um problema de muitos países, não só em África. Os jogadores, como acontece na Europa, quando entram em campo para treinar só tem de precoupar-se em jogar bem», refletiu.