Eliaquim Mangala é a história de um jogador que sempre foi maior do que os outros. Maior no plano mental, maior no plano físico. Agora que o internacional sub-21 francês se afirma no F.C. Porto, o Maisfutebol foi remexer as suas raízes. Encontrou pedaços de vida deliciosos.

«Aos 12 anos media uma cabeça a mais do que os companheiros», conta ao nosso jornal Dominique Boucher, que descobriu o jovem Eliaquim e levou-o para o UR Namur, o maior clube da região da Valónia.

Mangala nasceu em França, mas emigrou para a Bélgica com quatro anos. A mãe, fonte de inspiração para o atleta, recebeu uma boa proposta para trabalhar num hospital belga. Mangala começou a jogar futebol no CS Wépionnais, pequeno clube local, e despertou depois a atenção do UR Namur.

«Fui vê-lo duas ou três vezes e depois veio fazer testes. Ficou imediatamente», lembra Boucher. Dos 12 aos 16 anos, Mangala formou-se no Namur... como avançado. Foi apenas no Standard que recuou no campo.

«Não jogávamos com ele na defesa porque estava num período importante da formação. O Standard acertou, via-se que precisava de jogar atrás da linha da bola e não à frente», explica um velho conhecido de Mangala. «Ele era um péssimo avançado, tinha muitas lacunas técnicas», confidencia o dirigente belga.

O dia em partiu um braço ao filho do treinador

Mangala compensava a falta de técnica com uma grande vontade de vencer. De vez em quando, a acção dos músculos superava a do cérebro. «Lembro-me que uma vez, num jogo, partiu um braço ao meu filho. Eram companheiros de equipa! Foi num canto. Ele entregava-se tanto que levava tudo à frente com ele», brinca Dominique Boucher.

Apesar das limitações técnicas, o corpanzil de Mangala intimidava qualquer um. O UR Namur quis, por isso, aproveitá-lo para a equipa principal, então na segunda divisão belga. Eliaquim tinha 15 anos.

«Sentíamos alguma coisa de especial nele. Queríamos fazê-lo assinar um contrato de estagiário semi-profissional, mas depois o Standard entrou na corrida e não pudemos fazer nada», explica Boucher.

O Standard levou o jogador gratuitamente e, três anos depois, vendeu-o por 6,5 milhões de euros ao F.C. Porto. Segundo os regulamentos, o Namur deveria receber 5% da transferência, ou seja, 325 000 euros pelos direitos de formação. Afinal, o Standard deu ao clube... 800 euros. «Uma ninharia», lamenta Dominique Boucher.

«Na Bélgica a lei não protege os jogadores com menos de 16 anos, precisamente a idade em que foi para o Standard. Mas bom, ficamos com o orgulho de tê-lo descoberto e formado durante quatro temporadas», sublinha.

A infuência de Sérgio Conceição

No Standard, Eliaquim revelou-se como defesa central. Cedo se viu, de resto, que Laszlo Böloni tinha outros planos para ele. Aos 18 anos foi titular frente ao Arsenal na Liga dos Campeões. Marcou o primeiro golo da história dos Rouches na prova. Seguiram-se três temporadas de grande nível, premiadas com um título de campeão nacional e uma Taça da Bélgica.

Sérgio Conceição teve um papel fundamental nesse último triunfo, de acordo com Siranama Dembelé, um dos melhores amigos de Mangala e treinador-adjunto do Standard.

«No fim da época passada, o Sérgio foi falar com ele. «Sabes, os grandes jogadores são decisivos nos grandes jogos». Espicaçou-o. Faltavam três jogos. Jogou muito bem contra o Anderlecht e ganhámos; depois marcou contra o Genk e, se eles não tivessem empatado, éramos campeões. Por fim, marcou o primeiro golo na final da taça», conta Dembelé.

Mangala tornou-se um esteio da equipa belga. Calado mas respeitado. «Era um valor seguro, impôs-se naturalmente na equipa. E fez parte de uma geração de ouro, juntamente com Defour e Witsel. Era um grupo muito jovem. Faziam tudo juntos. Iam muitas vezes ao restaurante e brincavam muito», lembra Dembelé, seguro de que Mangala irá vingar no F.C. Porto.

«Vejo-o entre os melhores do mundo daqui a dois ou três anos.»