Entre Daniel Passarella e Diego Maradona sempre houve um mundo de separação. Ícones dos dois campeonatos mundiais conquistados pela Argentina, o ídolo maior do River Plate e o deus dos adeptos do Boca Juniors já não se falavam há 24 anos! Até que o problema de alcoolismo de Ariel Ortega uniu as duas estrelas argentinas.
Esta história começa em 1986, no Mundial do México. Passarella e Maradona eram amigos, mas esse campeonato do mundo afastou-os. Para sempre, pensava-se. Até esta semana. El Pibe resolveu telefonar ao «Kaiser» argentino. Ofereceu ajuda para tentar recuperar Ortega, que luta contra o alcoolismo, embora recuse tratar-se ou internar-se.
«Na verdade, foi um belo gesto de Diego e deixou-me muito contente», disse Passarella, ao Clarín, no relato dos acontecimentos da última terça-feira. «Nos últimos tempos ambos tínhamos dito, em ocasiões diferentes, que estávamos dispostos a falar e a encontrar-nos, e isso aconteceu com esta iniciativa de Maradona, que se colocou à disposição para me ajudar no caso de Ariel Ortega», narrou Passarella, presidente do River Plate.
E o que disse Maradona ao Kaiser? «Não sei se quero tanto a Ariel como vocês, mas também lhe quero muito e estou disposto a colaborar, a fazer o que precises para ajudá-lo», disse D10s, a Passarella, conforme confidenciou este, revelando que falaram de muitas outras coisas: «Se conversámos sobre a selecção? Falámos de tudo um pouco. Diego agradeceu-me por ter enviado boa sorte à selecção, através do presidente da federação, antes do jogo com o Uruguai, que deu a qualificação para o Mundial-2010.»
A diarreia e a droga pela escrita de Maradona
Ora, para se perceber mais a dimensão da zanga entre as duas maiores figuras da selecção argentina, basta ler a autobiografia de Maradona, que conta como Passarella o acusou de drogar-se antes do México 86 e de como tentou pôr todo o grupo contra o dez, embora a versão oficial tivesse sido a de que Passarella sofreu o «mal de Montezuma» (diarreia).
«É por isso que desafio o Passarella a encontrarmo-nos no Monumental [estádio do River], sem adeptos do Boca por perto, para falarmos de tudo», escreve El Diego, acusando o Kaiser: «E outra coisa. Se a mim me nomearem seleccionador, mas em troca tiver de meter a mão no bolso dos jogadores, eu digo que não. E isso foi o que fez Passarella quando foi seleccionador.»
Em 1990, os dois estiveram juntos numa festa da Gazzetta dello Sport, em Itália, mas apenas trocaram um, «tudo bem», como conta Passarella. Passados longos anos, o «Kaiser» e «El Pibe» voltam a comunicar. Curiosamente, a droga (cocaína) separou-os e agora, a droga (álcool) une-os.
«Como todos sabem, eu tive um problema, muito mais grave do que tem Ariel Ortega. A mim tiraram-me as minhas filhas, a ele vão tirar-lhe os filhos. Ariel precisa de limpar-se, depois dar-lhe o futebol, que tanto quer. Eu, no dia em que me deu o click, disse nunca mais a isso (cocaína) e graças a Deus há muitos anos que não toco em nada», disse Maradona, em declarações à TyC Sports.