"Queridos amigos: a Maria partiu. Tinha de ir para o céu como todos os anjos. Agradecemos a Deus pelo ano e meio que ela ainda esteve entre nós”.

Foi desta forma que a família Villota confirmou a morte de Maria e se despediu dela. A notícia caíra como uma bomba e a partir daqui já não havia espaço para teorias e especulações. Chegara a hora do luto.

Maria de Villota faleceu esta sexta-feira, aos 33 anos. Foi encontrada morta num quarto de hotel em Sevilha, onde deveria participar numa palestra sobre segurança rodoviária para estudantes. A autópsia esclareceu: causas naturais. Mais tarde, a irmã Isabel esclareceu que foram sequelas do acidente do ano passado, num teste de Fórmula 1, a provocar danos neurológicos que agora lhe causaram a morte.

Um ponto final triste após um ano de pesadelo para a piloto que esteve perto do céu e desceu ao inferno de forma abrupta, entrando, sem bilhete de regresso, num carrossel infeliz até à notícia choque que abalou a Fórmula 1 e todo o desporto motorizado.

Afinal, quando em agosto de 2011 teve a oportunidade de realizar alguns testes privados com a Lotus Renault, estaria longe de imaginar que a busca pelo sonho da Fórmula 1 se iria tornar, a breve prazo, num pesadelo.

Antes disso, contudo, ainda foi tendo motivos para festejar.

Maria de Villota era uma piloto de segunda geração. Filha de Emílio de Villota, que passou pela Fórmula 1, sem sucesso, entre 1976 e 1982, tinha a velocidade nos genes. Apaixonou-se pelas quatro rodas, quis ser piloto e tentar mudar um mundo, habitualmente, dominado por homens. Ou, pelo menos, ajudar a mudar.

Começou, como quase todos, nos karts, em 1996. Estreou-se na Fórmula 3 espanhola aos 21 anos, passou pelo Mundial de Turismos (WTCC) e pela Superleague Fórmula, onde representava o Atlético de Madrid. Depois conseguiu o tal teste com a Renault e, em março de 2012, deu aquele que achava que poderia ser o passo decisivo rumo à Fórmula 1: assinou pela Marussia, como piloto de testes.

A ascenção fulgurante iria ter um travão inesperado e trágico. O início do longo pesadelo.

A 3 de julho do ano passado, a Marussia realizava um teste em linha reta no aeródromo de Duxford, no Reino Unido. Maria de Villota foi a piloto escolhida. Acabou mal.

Sem se aperceber que o camião de transporte do monolugar tinha a placa de ascenção de cargas de fora, embateu com violência contra a mesma. O capacete ficou traçado mas salvou-lhe a vida. Villota foi operada de emergência e sobreviveu. Perdeu, porém, o olho direito, a sequela mais visível, mas não a única.

Em outubro desse ano dá a primeira entrevista após o acidente. Explica que perdeu também o olfato e o paladar e padece de constantes dores de cabeça. Mas ganha a corrida mais importante: está viva.

“No primeiro dia em que me vi ao espelho tinha 104 pontos na cara, negros. Pareciam cosidos com corda de marinheiro. E já não tinha o olho direito. Fiquei aterrada”, contou, na entrevista à revista «Hola».

A Fórmula 1, devido às graves consequências, fica posta de parte. Maria parte para novos projetos na vida. Entra em campanhas de segurança rodoviária e começa a escrever um livro. Chamou-lhe «O presente da vida». Deveria apresentá-lo na próxima terça-feira.

O livro está pronto e, provavelmente, irá mesmo para as bancas. Maria de Villota já não estará cá para o explicar. Ficarão as palavras e as memórias de um carrossel que só agora parou. E não permite retorno. Para ela, o «presente da vida» foi demasiado curto.