«A crise económica está para a democracia como as guerras de África para o Estado Novo». O impacto da crise, para Medina Carreira, abrange um perímetro mais alargado «porque não temos uma crise, temos várias».
Para além da crise económica, o economista acredita estarmos perante «uma crise moral da elite financeira» e uma «crise social que resulta do desemprego e da insegurança como consequência»; «como nunca se sabe quem é o responsável todos levam por tabela».
Numa «economia que quase não cresce» e onde a «capacidade geral de riqueza estagnou», o «desemprego é altamente preocupante»: «Estamos mais ou menos como estávamos no final da Monarquia». Medina Carreira acrescenta que mesmo «entre os anos 30 a 40, altura da grande crise económica, estávamos melhores do que agora».
Apesar de garantir que «a crise cá dentro já existia antes de chegar a de lá de fora», certo é que quando a crise internacional acabar «seremos postos à prova de uma forma dramática». Medina Carreira explica: «Quando se resolver lá fora, resolve-se cá, mas os estragos do passado ficam».
O motivo do pessimismo prende-se com o facto de no momento «a produtividade ser baixa», por «sermos pouco competitivos» e por «termos salários baixos, resultado da baixa produção».
Ao contrário dos anos 60 «quando beneficiávamos de mão de obra barata», nos dias de hoje o «empresário inteligente vai para o Leste» porque «quem investe faz contas» e, neste momento, Portugal é um país pouco atractivo para a abertura de empresas estrangeiras que procuram lugares periféricos na busca de maior margem de lucro, recorrendo a mão-de-obra não qualificada.
Com desta estratégia, recorda, «nos anos 60, suportamos a guerra em África sem dívida».
«Gastar dinheiro em autoestradas é o mesmo que gastar em Magalhães: não serve para nada»
O fiscalista considera que a entrada do euro tirou a Portugal poder de decisão no equilíbrio da economia nacional e explicou que «quando desvalorizávamos o escudo ganhávamos». Com o euro estes ajustes já não são possíveis e a dívida pública aumentou cerca de 35 milhões de euros por dia nos últimos dez anos.
No sentido de incentivar o crescimento económico desaconselha o investimento na construção de obras como autoestradas para abrir oportunidades de emprego e consequente aumento do consumo.
Medina Carreira acredita que «gastar dinheiro em autoestradas é a mesma coisa que gastar dinheiro em Playstations ou em Magalhães, não serve para nada».
«Quando acabarmos estas obras somos o quinto ou sexto país com mais autoestradas no mundo», garantiu; teremos quase tantas como um país muito maior como é a Alemanha.
Futuro da economia
Medina Carreira teme o aumento de «desemprego, desigualdades, insegurança» e «mais estragos que se vão juntar aos já existentes». Num futuro próximo «podemos vir a ter juros mais altos ou ver os empréstimos cada vez mais racionados». Mas a maior preocupação é o facto de «os impostos poderem ser todos comidos pela segurança social. Será aqui que tudo se vai complicar».
«Vamos passar por um período de incerteza muito grande», advertiu ainda o antigo ministro das Finanças, num país onde os «Governos não são maus pais, são padrastos», são necessários «partidos novos a fazer coisas diferentes e «são precisos políticos diferentes capazes de controlarem a despesa pública».
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