O mercado de capital de risco em Portugal manteve a dinâmica de investimento em 2008, apesar da conjuntura económica negativa, defendeu Afonso Oliveira Barros, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI), em entrevista à agência Lusa.

«O capital de risco em Portugal reagiu muito bem à crise», frisou Oliveira Barros, afirmando que se «mantiveram os níveis de investimento, o que significa que há dinheiro a ser canalizado para as empresas. É dos poucos sectores a injectar liquidez no mercado».

Os fundos sob gestão, que tinham duplicado entre 2005 e 2007, situaram-se ao mesmo nível no ano passado, nos 1,7 mil milhões de euros, segundo o responsável.

600 milhões disponíveis para serem investidos

«Há boas oportunidade que surgem em tempos de crise e há gente capaz. Por isso, o sector do capital de risco está muito bem posicionado», considerou o presidente da APCRI, revelando que existem na actualidade «600 milhões de euros disponíveis para serem investidos».

Os números relativos a 2008 ainda são indicativos, uma vez que falta fechar as contas do último trimestre. Porém, tal como referiu Oliveira Barros, «é de prever que os números de investimento de 2008, apesar da crise, fiquem acima dos de 2007».

No ano passado registaram-se diversas operações ligadas ao capital de risco que envolveram empresas conhecidas dos consumidores, e a dimensão dos negócios possibilitou manter a dinâmica do sector. A operação mais emblemática foi a compra da grande maioria dos activos da Enersis pela Magnum Capital, liderada por João Talone.

Com um investimento de 1,2 mil milhões de euros (única transacção na Europa a envolver capital de risco em 2008 com um valor acima dos mil milhões de euros), que inclui a finalização dos parques eólicos em construção da empresa de energias renováveis, esta é a maior operação de sempre de energia eólica na Europa feita por uma sociedade de capital privado.

«Um investimento completamente atípico para o mercado português e, devido à crise, também para o mercado europeu», considerou Oliveira Barros.

Em 2008, destacaram-se ainda os negócios que envolveram a tomada de posições na Companhia das Sandes, no Só Pesos e na Frisumo, enquanto que na gestão de resíduos, sobressai a operação da Constantino Fernandes, consumada pelo fundo Explorer Investments por 100 milhões de euros.

O sintoma da crise que mais se fez sentir foi «a maior prudência por parte das capitais de risco na análise dos processos, algo que tornou mais longa a sua apreciação».

Se em termos de investimento a evolução foi favorável, ao nível do desinvestimento houve «um abrandamento significativo e deliberado», referiu Oliveira Barros, já que não abundam compradores e as rendibilidades são baixas devido à actual fase económica, o que leva o responsável a acreditar num «congelamento do desinvestimento em 2008 e 2009».

Ao nível do desinvestimento, quatro operações deram nas vistas em 2008, envolvendo a SampleTest, a TVTel, a Logic e a Oficina do Livro, que viram sair do seu capital, respectivamente, a 3i, a Inter-Risco, a Espírito Santo Capital e o Explorer Investments.

«Grande parte dos 34 milhões de euros registados no final do terceiro trimestre, em desinvestimento, tiveram rentabilidades acima dos 20 por cento, muito acima de que qualquer contrapartida oferecida pelos mercados», disse o presidente da APCRI, num ano que ficou marcado pela grave crise financeira. O volume de desinvestimento ao longo de 2007 foi de 87 milhões de euros.

No que toca a levantamentos de fundos («fund raising»), «quase não houve em 2008, ao contrário dos 460 milhões de euros em 2007», segundo Oliveira Barros, que justifica os números com o excesso de liquidez no final de 2007, que fazia já prever que 2008 fosse mais um ano de investimento do que de levantamento de fundos.