*Enviado-especial ao Euro 2016

Nulo no Alemanha e Polónia, o grande embate do Grupo C do Euro 2016. Muito bons os 15 minutos iniciais da Mannschaft, excelente resposta da Polónia, com as melhores oportunidades de toda a partida, no início do segundo tempo. Pelo meio, um deserto, com Milik a não encontrar o oásis mesmo por baixo do nariz, e a campeã do mundo a escapar da derrota.

Claro que, quando sai bem, o futebol germânico encanta. Bola em progressão, com tabelas curtas, carrossel ofensivo e projecção dos laterais. Götze a fazer de isco para permitir a Müller aparecer na segunda vaga. Draxler a ganhar quase sempre a profundidade no corredor esquerdo, onde aparecia também Hector, muito ofensivo e pronto para cruzar. Kroos a marcar ritmos, Khedira a servir não só de farol defensivo mas como de construção curta, e Özil a poder emprestar perfume a cada bola.

Sempre grande intensidade física, e segurança garantida com Hummels, Boateng e um Howedes com lastro atrás, para equilibrar a equipa na reacção à perda. Diagonais, mas também movimentos paralelos entre lateral e central. Só que, tudo somado, a peça do puzzle que falta estava hoje na outra metade do campo, num Lewandowski que nasceu do lado de lá da fronteira.

Não quer isto dizer que a Mannschaft não possa ser campeã sem ele, porque já não o teve no passado e ganhou na mesma, mas se alguém poderia dar na perfeição sentido a tudo o resto era o goleador do Bayern. Faltou-lhe muito tempo presença na área, mas com ligação atrás, algo que o polaco faz muito bem. Isso e continuidade a 15 minutos de grande intensidade, quando as movimentações deixaram de fluir e a Polónia aliviou a pressão. Não pode nunca durar tão pouco.

Do resistir ao destapar um pouco a manta

Não há equipas perfeitas e, também por isso, essa mesma Polónia empurrada para trás teve igualmente os seus momentos na etapa inicial. Sempre em contra-ataque ou numa bola longa, e só depois de apagar os primeiros fogos acendidos no seu meio-campo durante o primeiro quarto de hora.

Uma jogada, no final desse período, simbolizou como a seleção orientada por Adam Nawalka esperava retirar alguma coisa da partida nesses momentos, exceção óbvia feita às bolas paradas e ao pontapé longo. Lewandowski pressionou o futuro colega Matts Hummels, ganhou o flanco e fletiu para o meio, tentando assistir a diagonal inside-out de Grosicki. Boateng percebeu a tempo.

Antes, a Alemanha já tinha ameaçado por Götze, de cabeça por cima depois de cruzamento da esquerda de Draxler (5) e Hector, com um remate ao lado (6). Ainda antes, aos três minutos, já Khedira vira o amarelo por derrubar Milik, que desenhara o primeiro (e único) contra-ataque vertiginoso nos 45 minutos iniciais.

Com uma pressão alta a partir de certo momento – que apenas atrasava a construção germânica e obrigava a grande esforço posterior na transição defensiva –, a Polónia conseguiu manter a Alemanha longe do golo, excepto numa perda de Piszczek para Müller, com o avançado a servir atrasado para o remate em carrinho de Kroos, ao lado.  

As oportunidades do primeiro tempo morreram aí. O que era manifestamente pouco para ambas as equipas, embora o conjunto de Joachim Low tivesse também o estatuto a defender.

Por que fechou Milik os olhos?

Dos balneários veio uma Polónia mais confiante, e a grande oportunidade, mesmo somando todo o restante tempo da partida, pertenceu-lhe. A Alemanha falhava os primeiros momentos de pressão, e o adversário conseguia, finalmente, sair em contra-ataque. Já não era preciso o pontapé para a frente.

Grosicki, que já tinha sido o mais dinâmico e objetivo dos polacos antes do descanso, cruzou da esquerda e Milik, entre os centrais, fechou os olhos e falhou o cabeceamento. Uma perdida incrível, logo a abrir, que chegou a ameaçar partir o jogo. Ainda teria outra, aos 69, também depois de jogada de Grosicki, desta vez pela esquerda, mas conseguiu acertar no próprio calcanhar. Humilhante.

A Alemanha respondeu de imediato, com Kroos a isolar Götze e este a não conseguir ser Lewandowski na única oportunidade germânica até aí. Fabianski defendeu.

Özil, na resposta ao tal segundo falhanço de Milik, permitiu a defesa da noite a Fabianski. Até ao fim, muito coração da Alemanha, e pouco mais. Uma Alemanha, em crise de identidade, sem ponta de lança e que, seja de que jeito for, não pode durar um quarto de hora.