Depois da magnífica prestação nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, as expectativas em cima de Simone Biles eram muitas para as olimpíadas de Tóquio, mas, a contas com questões de saúde mental, a ginasta acabou por desistir da maioria das provas.

Bile conta, em entrevista à New York Magazine, que foi aterrador o sentimento de estar no ar e não ter noção de onde estava, não conseguir ter o mapa mental do chão para saber onde aterrar. «A minha perspetiva nunca mudou tão rapidamente, de querer estar em um pódio para querer poder ir para casa sozinha e sem muletas», afirmou, garantindo: «Se eu ainda tivesse noção no ar e tivesse sido apenas um dia mau, teria continuado, mas foi mais do que isso.»

«Imaginem que até aos 30 anos conseguiam ver perfeitamente e um dia acordam e não conseguem ver nada. As pessoas dizem-te para continuares a fazer o teu trabalho como se ainda tivesses visão. Sentir-te-ias perdido, não é? Fiz ginástica durante 18 anos, mas um dia acordei perdida. Como devo continuar?», explicou.

A ginasta admitiu mesmo: «Eu deveria ter desistido muito antes de Tóquio.»

«Se virem tudo que passei nos últimos sete anos, nunca deveria ter participado de outra equipa olímpica», continuou a atleta que, em 2018, revelou ter sido uma das vítimas do ex-médico da equipa norte-americana Larry Nassar, condenado por abuso sexual de mais de 250 ginastas, a maioria delas menores.

«Quando Larry Nassar estava na imprensa, era demais. Mas eu não queria deixar que ele me tirasse tudo, tudo aquilo para o qual trabalhei desde os seis anos. Eu não iria deixar que ele me tirasse essa alegria, então fui além do que podia durante o tempo que a minha mente e o meu corpo permitiram», explicou.

«Provavelmente será algo em que terei de trabalhar durante 20 anos. Só quero que um médico me diga quando estiver curada. Como quando somos operados e nos dão alta. Por que motivo ninguém me diz que em seis meses tudo vai acabar?», lamentou.