Os jogadores do Juventude de Viana, equipa que desceu à segunda divisão de hóquei em patins, enviaram um comunicado à Rádio GEICE a denunciar as difíceis condições que tiveram de ultrapassar ao longo da época, desde falta de material aos vários ordenados em atraso.

O plantel entende que este é «o momento de quebrar o silêncio» e sublinha que o comunicado «não visa de alguma forma justificar a época mal conseguida».

De acordo com a nota dos hoquistas, a época começou com «dois meses de ordenados» em falta e «os atrasos sucederam-se ao longo da temporada», sendo justificados «com a falta de libertação de verbas de patrocinadores e, sobretudo, da Câmara Municipal de Viana do Castelo».

«Os nossos atletas estrangeiros estão longe da família, têm as suas obrigações e despesas. Tivemos atletas que passaram dificuldades, com falta de dinheiro para pagar contas. Temos atletas que apenas vivem do hóquei. Mesmo que ninguém passasse dificuldades, o dinheiro era nosso pois todos fizemos um acordo com o clube e trabalhámos para o receber», lê-se.

Os jogadores denunciaram também a falta de material no dia a dia.

«Treinávamos e jogávamos com sticks partidos, rodas gastas, com falta de material de guarda-redes e equipamento básico. Ainda assim, não fugimos às nossas obrigações. Um dos atletas, por falta de material, foi obrigado a utilizar um stick que estava em exibição no museu do clube», revelaram.

Nesta altura, o plantel da Juventude de Viana reclama que tem a «receber ainda quatro meses de compensação, referentes a março (em atraso), abril, maio e junho».

Leia o comunicado:

«Caros Sócios e Simpatizantes,

Acreditamos que chegou o momento de quebrar o silêncio e revelar aquela que é a nossa verdade dos factos. Julgamos ser este o momento por ser o final de época e todas as nossas obrigações competitivas estarem finalizadas, sendo que nunca pretendemos justificar o nosso insucesso desportivo com qualquer declaração durante a presente temporada.

É fundamental reiterar que este comunicado não visa de alguma forma justificar a época mal conseguida tendo em conta os objetivos do clube e a consequente descida de divisão. Nós, atletas, assumimos a responsabilidade pela nossa performance e respetiva descida de divisão. Apesar disso e de todas as dificuldades, nunca virámos a cara à luta. Apesar de todas as circunstâncias negativas em que o clube e a equipa se encontravam, decidimos continuar a trabalhar diariamente, quando o mais fácil teria sido desistir e, cada um, individualmente, procurar uma solução melhor para a sua vida pessoal e desportiva. Não somos heróis. Até pelo contrário, somos humanos.

Escrevemos porque temos a opinião que os sócios e simpatizantes devem saber a verdade e ter a perceção da realidade que foi representar a Juventude Viana na época desportiva de 2022/2023. Escrevemos também porque acreditamos que aquilo que tem sido dito na comunicação social, sobretudo nas rádios locais, até pode ser parcialmente verdade – o grande problema é aquilo que é omitido.

Listamos em baixo tudo aquilo que foi omitido por parte da direção até ao momento presente, na comunicação social e nas Assembleias:

- Os trabalhos na presente época desportiva começaram no dia 9 de Agosto de 2022, período esse em que, à data, os atletas que tinham representado a Juventude de Viana no ano anterior, tinham 2 meses de ordenados em atraso – em Agosto, os atletas ainda não tinham recebido os ordenados referentes a Maio e Junho. Ainda assim, por respeito à instituição e aos novos atletas da equipa, prontificámo-nos a iniciar os treinos e a presente época desportiva, sendo que os nossos acordos não previam sequer remuneração no mês de Agosto. Portanto, como é percetível, a instabilidade financeira do clube já estava presente desde a época transata.

- Tendo em conta o arrastamento da situação desde a época anterior, naturalmente havia já um certo desgaste da parte dos jogadores que não eram novos no clube e, para além do desgaste, incerteza. Isto porque, na maior parte das vezes, aquilo que nos era transmitido nunca se verificava mais tarde.

Este desgaste e incerteza levaram à decisão por parte dos jogadores e equipa técnica de cessar os treinos na segunda semana de trabalhos, uma semana importante pois era uma semana de estágio com treinos bi-diários, com o objetivo de forçar uma reunião com a direção. A reunião permitiu que dias depois os ordenados fossem regularizados.

Durante a época desportiva, a direção cumpriu o prazo de pagamento de ordenados em apenas duas ocasiões.

- Os atrasos sucederam-se ao longo da temporada. Todas as vezes, a direção na pessoa do Presidente Tiago Alvadia, normalmente o único elemento a quem nos podíamos dirigir, justificava o atraso com a falta de libertação de verbas de patrocinadores e, sobretudo, da Câmara Municipal de Viana do Castelo. No entanto, por diversas vezes em várias reuniões, o Presidente Tiago Alvadia assegurou-nos que não havia motivo para preocupações ,pois tinha a certeza que nos ia pagar tudo o que estava acordado com cada membro da equipa, o que até à data ainda esperamos que seja verdade.

- Era comum, também, recebermos certas comparações de uma equipa Campeã Nacional no passado, que teve vários meses de ordenados em atraso, como se tivéssemos que tolerar o acontecimento e a ocasião não nos afetasse desportivamente. Infelizmente há situações bem piores, mas nós tínhamos os nossos problemas. Alguns de nós tiveram momentos complicados. Os nossos atletas estrangeiros estão longe da família, têm as suas obrigações e despesas. Tivemos atletas que passaram dificuldades, com falta de dinheiro para pagar contas. Temos atletas que apenas vivem do Hóquei. Mesmo que ninguém passasse dificuldades, o dinheiro era nosso pois todos fizemos um acordo com o clube e trabalhámos para o receber.

-A situação da falta de material para treinar não é menos importante. Durante grande parte da época, logo desde o início da temporada, houve falta de material desportivo – algo que, verdade seja dita, na 1ª Divisão e no denominado Melhor Campeonato do Mundo é difícil de aceitar. Treinávamos e jogávamos com sticks partidos, rodas gastas, com falta de material de guarda-redes e equipamento básico. Ainda assim, não fugimos às nossas obrigações.

Um dos atletas, por falta de material, foi obrigado a utilizar um stick que estava em exibição no museu do clube, com assinaturas dos jogadores que representaram este grande clube nos seus anos de glória. Outros atletas esperaram durante mais de dois meses por um stick novo, com a pá do stick totalmente partida.

-Devemos recordar uma ocasião em que havia falta de material há alguns meses e, numa reunião com a direção na pessoa do Presidente Tiago Alvadia, após discutirmos assuntos relacionados aos vencimentos, abordámos a problemática da falta de material. O Presidente afirma que o problema pode ser resolvido "de um dia para o outro", revelando a falta de compromisso e disponibilidade por um problema que já devia ter sido resolvido meses antes, após inúmeros pedidos ao longo desses meses por parte dos atletas às pessoas que estavam presentes no treino – que normalmente eram muito poucas ou até nenhuma, para além dos atletas, equipa técnica, mecânico e fisioterapeuta (enquanto teve condições para exercer a sua função).

- A equipa apresentou-se ao trabalho diária e semanalmente, sem exceção, apesar da falta de apoio obtido ao longo de toda a época por parte dos elementos da direção. O funcionário do clube Vasco Rocha estava normalmente presente, mas apesar dos esforços do mesmo, a comunicação à direção era claramente precária, pois os nossos pedidos nunca eram resolvidos ou, em grande parte das vezes, respondidos.

Sabemos, por confirmação dos mesmos, que o clube ainda deve compensação financeira a ex-atletas e ex-membros do staff. O nosso fisioterapeuta na presente época desportiva, José Rocha, foi forçado a abandonar funções por falta de compensação. Apesar disso, continuou a receber-nos no seu espaço privado e a ajudar os atletas.

-Neste momento, os atletas devem receber ainda quatro meses de compensação, referentes a Março (em atraso), Abril, Maio e Junho. Sabemos por fontes ligadas ao clube que a presente direção já realizou um pedido de demissão, tendo sido este rejeitado pelo Presidente da Assembleia Geral Rui Natário.

Este comunicado é motivado pelas declarações realizadas pelo Presidente Tiago Alvadia na rádio local, que refere que vai deixar o clube sem dívidas, o que esperamos ser verdade não só por nós, mas pelo clube e pelas pessoas que contribuem diariamente para o bem do clube e que não se servem do mesmo. Nestas declarações à rádio local, consideramos que foi omitida muita informação aos sócios e simpatizantes do clube, informação esta que com certeza não engloba tudo aquilo que se passa no clube, mas que é a visão dos atletas que pelo clube passaram na época 2022/2023.

Acrescentamos que lamentamos a situação estrutural e desportiva deste clube enorme do Hóquei em Patins Nacional. Este é um clube que não merece estar na Segunda Divisão Nacional, é um clube que deve estar no Melhor Campeonato do Mundo. Esperamos que o clube seja reestruturado e que as boas gentes de Viana do Castelo sirvam o clube para que este prospere.

Atenciosamente e com votos de Sucesso,

Os atletas da Equipa Sénior da Juventude de Viana»