O presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ) desmentiu a denúncia feita por Telma Monteiro e frisou que a selecionadora Ana Hormigo não foi despedida, mas sim afastada das seleções.
«Após o comunicado que a Ana Hormigo fez, achámos todos nós que ela se deveria ter demitido antes. Estava a trabalhar comigo há quase seis anos e, com aquele comunicado e as atitudes que tem tido ultimamente, não nos dá confiança. Demonstrou que não tem condições para trabalhar a este nível e com estes atletas», disse Jorge Fernandes, em declarações à agência Lusa.
Lembre-se que Telma Monteiro revelou, esta segunda-feira, que o organismo despediu Ana Hormigo por e-mail, a um dia de a equipa viajar para competir no Grand Slam de Abu Dhabi, prova de apuramento para os Jogos de Paris em 2024.
Jorge Fernandes esclareceu que até agora selecionadora nacional foi informada que deveria entrar em contacto com os advogados da FPJ, sem que tenha sido despedida.
«Na minha opinião, e penso que ela deve pensar o mesmo, não há condições para ela continuar. A treinadora não fala comigo, não fala com os dirigentes e isto é intolerável. Estamos a dois anos dos Jogos e queremos arrumar a casa, mudar o que está mal e melhorar o que está bem, para podermos fazer o período de qualificação e chegar aos Jogos nas melhores condições. Não foi despedida, foi afastada para já das seleções e vamos ver como o caso se vai resolver», esclareceu.
O presidente da FPJ explicou que o seu trabalho é o de gerir os destinos do organismo e destacou o resultado da Assembleia Geral realizada no domingo, quando o orçamento e o plano de atividades para 2023 foram aprovados por maioria e a sua liderança reforçada, referindo que Telma Monteiro se deve “focar” no desempenho desportivo.
«Fui eleito para gerir a FPJ e vou continuar. Em relação à atleta Telma Monteiro, a atleta devia estar mais focada na prova que vai ter no fim de semana e em outras do que andar nas redes sociais contra quem foi eleito para criar as melhores condições para que ela possa ter melhores prestações do que tem tido ultimamente», apontou.
Lembre-se que no verão Telma Monteiro, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Bárbara Timo, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes escreveram uma carta, na qual acusavam o dirigente de opressão, discriminação e ameaças, lamentando o «clima insustentável e tóxico».
Poucos dias depois, Hormigo solidarizou-se com os judocas, afirmando que os mesmos «estão exaustos» e que «não querem estar sujeitos a um sistema que nem se digna a ouvi-los».
Jorge Fernandes esclareceu que os atletas têm direitos e deveres e não podem «denegrir a imagem das pessoas», recusando novamente as acusações que lhe foram feitas na carta aberta.
«Os atletas não têm o direito de denegrir a imagem das pessoas, nem dizerem o que querem. Têm direitos e deveres que têm que cumprir, tal como eu. Acusarem-me de racista ou xenófobo vão ter de provar isso, e sobre os pedidos de reunião que dizem que fizeram vão ter de provar», assegurou.
«É insustentável buscar o topo quando quem lidera nos quer por baixo sempre.»
Já em relação às verbas do projeto olímpico, o presidente da FPJ explicou que «não existe dinheiro para tudo» e que existem mais atletas para além de Telma Monteiro.
«O plano da Telma era impensável, uma coisa de loucos. A Telma pedia para ir para Abu Dhabi, seguir para a Austrália para fazer um estágio e no fim de semana a seguir competir em Baku. Isto, desportivamente, era um desastre», disse, respondendo à queixa da judoca relativamente à falta de apoio financeiro.
Jorge Fernandes aludia ao desgaste provocado pelo «jet lag», além do valor financeiro em viagens e estadias.
«A Telma foi das melhores atletas do mundo, mas temos mais atletas, como Jorge Fonseca, Catarina Costa, Barbara Timo e mais uma série de atletas. O dinheiro não é elástico, não dá para tudo. Temos andado sempre a pedir adiantamento das verbas, mas não temos o dinheiro que a Telma gostava», concluiu.
Mais tarde, Bárbara Timo mostrou-se surpreendida pelo afastamento da selecionadora nacional, Ana Hormigo, e tece críticas à FPJ: «É insustentável buscar o topo quando quem lidera nos quer por baixo.»
Leia a publicação por Bárbara Timo na íntegra:
'Uma semana após a nossa conquista da medalha de bronze no mundial e a 48h antes de viajar para o Grand Slam de Abu Dhabi, com o grande retorno da Telma Monteiro e Patrícia Sampaio, descubro que a treinadora da seleção PORTUGUESA foi hoje dispensada dos seus serviços para com a seleção nacional.
Lidar com o stress da competição, os imprevistos da viagem, adversários, derrotas, até mesmo com peso e lesão é algo que custa mas que nós atletas estamos dispostos e temos recursos para superá-los. Faz parte do jogo.
Agora, o que me faz muita confusão, e que realmente não consigo tirar nenhuma conclusão benéfica, é ter que lidar com uma gestão/atitudes que fazem questão de Não Gerir. INGerir.
Realmente a teoria/prática não tem feito muito sentido para mim. E é desistimulante conviver nesta situação. É insustentável buscar o topo quando quem lidera quer nos por baixo sempre.»