Entre os portugueses e brasileiros que compõem o plantel do Monsanto há um nome que se destaca. Babacar Sene ou, simplesmente, Bá, o nome que utiliza no futebol. Não é jogador mais experiente do plantel. Esse posto pertence claramente a Marçal, o seu companheiro da defesa que jogou no Boavista e no U. Leiria. Mas Bá é dos que mais tem para contar. E o MaisFutebol foi ouvir as suas estórias, desde a aventura na Roménia, passando pela relação com o primo Fary (esse mesmo, do Beira Mar) e o conturbado período que viver em Abrantes e Rio Maior, no ano passado, marcado pelas dificuldades causadas pelos ordenados em atraso. Tudo isto, tendo em vista a projecção do jogo com o Benfica, que Bá vê como «uma boa montra» para mostrar capacidades.
Comecemos mesmo pelo jogo do próximo sábado. Objectivo? Ganhar. Assim, sem qualquer dúvida: «Acho que podemos fazer uma gracinha. O Benfica está bem, mas nós também estamos a atravessar um bom momento. Na Taça há sempre surpresas. Esperemos que desta vez nos calhe a nós. Toda a gente comenta que não temos hipóteses, mas nós é que somos os jogadores, nós é que entramos em campo e não o fazemos a pensar que vamos perder...»
A tarefa não será, certamente, nada fácil e um dos segredos, talvez o maior, passa por anular o ataque encarnado. Não é certo que o paraguaio Óscar Cardozo, melhor marcador do campeonato, alinhe pelas águias, mas Bá desvaloriza a situação: «Estou preparado para marcar quem vier. O Cardozo é um jogador parado, um jogador de área. É alto e joga bem de cabeça. Se ele jogar, o segredo é não lhe dar um centímetro e estar muito concentrado. Já falei com o Fary e ele disse-me para ter cuidado com os jogadores rápidos que o Benfica tem. Não podemos dar espaço».
De Abrantes à Roménia, com escala em Rio Maior
«A última época foi a pior que tive desde que cheguei a Portugal». A conclusão de Bá ganha consistência com os relatos que faz das aventuras vividas no ano passado. E é difícil imaginar um cenário pior. Começou no Abrantes, onde tinha treinos bidiários e «boas condições de trabalho». Mas o clube foi excluído da II Divisão B e Bá foi obrigado a encontrar uma solução, quando a época já tinha arrancado. Foi para o Madalena, dos Açores, mas não se adaptou: «Decidi voltar para o continente, porque assim também era mais visto e porque a proposta era boa. Disseram que não ia faltar nada, mas afinal não foi bem assim. Em relação à equipa correu lindamente, mas em termos de salários para esquecer». O senegalês refere-se ao Rio Maior, onde terminou a temporada e viveu um dos períodos mais delicados da carreira. «Não posso dizer que passei por dificuldades porque tive pessoas que me ajudaram. O Fary nunca me deixou para trás e uma amiga minha também me apoiou sempre», assinalou.
Se ainda não bastasse, seguiu as indicações do empresário e foi treinar ao Drobeta, clube da II Divisão romena. Nova desilusão. «Desportivamente correu muito bem. Mas eu fui para lá porque tinha a esperança de ganhar mais dinheiro. O meu empresário prometeu-me muitas coisas, mas, ao fim e ao cabo, não foi bem assim. Quando cheguei disseram-me que me iam pagar menos do que ele me tinha dito. Não me davam casa, nem comida. Eu pensei logo que cá em Portugal também podia jogar, arranjava um emprego e acabava por ganhar mais. Preferi voltar e hoje estou muito bem no Monsanto», afirmou.
Passada a fase complicada, Bá quer aproveitar o momento. Tem o sonho de chegar ao mais alto nível do futebol nacional e o jogo de sábado pode ajudar. «Não é todos os dias que se joga com o Benfica. E ainda por cima vai dar na televisão, muita gente pode ver, vai ser uma boa montra», espera.
O balneário está unido e contente, até porque «a maior parte dos jogadores são benfiquistas». O jogo provoca ansiedade, mas não mais que isso: «Eu costumo dizer que no primeiro dia em que estiver nervoso a fazer o que eu gosto mais, que é jogar futebol, vou pendurar as botas e vou fazer outra coisa.»