A visita da seleção nacional à Rússia torna-se um pretexto para falar com um dos russos que passou pelo futebol português. Não há muitos, mas quase todos foram marcantes. Iuran seria um bom entrevistado, cheio de histórias, mas treina uma equipa na Sibéria: está quase desterrado.

Tenta-se Mostovoi, passou pelo Benfica a correr, pouco mais de uma época, mas fez também ele parte do período de maior influência russa de uma equipa portuguesa. As primeiras duas tentativas tornaram-se infrutíferas, mas envia uma mensagem já a noite vai escura. Simpático. Sorridente.

«Passei tempos complicados no Benfica», atira. «Mas recordo-me muito do Estádio da Luz. Era imponente. Os adeptos também me deixaram boas memórias, sempre me trataram muito bem. Nunca joguei muito, mas mesmo quando os encontrava à noite, sempre foram simpáticos comigo.»

Chegou no verão de 1991 para se juntar a Kulkov e Iuran: dois russos que tinham deixado uma boa impressão no ano anterior. Depois de várias épocas de sucesso no Spartak Moscovo, o médio era naturalmente um reforço visto com agrado pelos adeptos. «Foi um período difícil para mim.»

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Mostovoi tinha 22 anos e descobria em Lisboa um mundo diferente do que estava habituado a ver na fria e fechada Moscovo. «Era novo e deslumbrei-me», confessa. «Bom clima, praia, boa comida e gente simpática. Sempre gostei muito de Portugal», adianta enquanto solta uma gargalhada.

Mesmo depois de deixar o Benfica, por exemplo, Mostovoi continuou a visitar Portugal com alguma frequência. «Ia muitas vezes, em particular ao Estádio do Dragão, ver o F.C. Porto jogar. Sempre fui muito amigo de Alenitchev e gostava de ir lá ver futebol.» Esses já eram porém outros tempos.

Eusébio chegou a dizer que Mostovoi era o melhor dos três russos. O médio agradece as palavras e lamenta não ter mostrado tudo o que sabia no Benfica. «Tive muitos problemas com as pessoas, muitos problemas com os outros estrangeiros. Jogava pouco e não guardo boa memória desse ano».

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Toni chegou a dizer que os russos faziam um balneário dentro do balneário, Mozer não fechava os olhos perante os exageros dos colegas de leste, o balneário parecia dividido por uma cortina de leste. Por tudo isto, Mostovoi garante que só teve uma tarde de glória com a camisola encarnada.

«Estava no banco num jogo nas Antas, para a Taça. Entrei a dez minutos do fim e fiz o golo que deu o empate e evitou que fossemos eliminados. Depois vencemos em casa, fomos à meia final, à final e ganhámos a Taça. Eu não joguei a meia final nem a final. Foi o prémio por ter marcado no Porto.»

Mostovoi não evita o desalento: fala aliás sem grande vontade. Dois anos depois, em Vigo, iniciou um longo reinado que o tornou um dos jogadores mais queridos do Celta. Integrou até a equipa que humilhou o Benfica com os históricos 7-0. «Joguei motivado. Sentia-me bem em Vigo.»

«Se podia ter sido diferente tendo chegado mais tarde ao Benfica? Não sei. Um escudo continuava a ser um escudo, uma peseta era uma peseta, um rublo era um rublo. O dinheiro manda mais do que tudo. Não gosto muito de falar desse período. Fiquei muito feliz com a carreira que fiz», atira.