O dia 20 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Que desilusão, a Argentina. Futebol sem ideias, incrivelmente dependente dos rasgos de Messi. Talentos como Lavezzi sem conseguirem aparecer, como que anulados por um coletivo que, simplesmente, não está a funcionar. Sabella soube assumir o erro tático da primeira parte com a Bósnia, corrigiu para defesa de quatro, a Argentina foi ganhando os jogos da primeira fase, mas sempre à queima (2-1, 1-0, 3-2) e sempre à espera dos milagres de São Messi. Pouco, muito pouco, para quem se arroga ser candidato. A Suíça fez boa primeira parte, sólida, sem tremer, jogo dividido, nenhum sinal de tango argentino, antes um duelo equilibrado, com mais uma seleção europeia a desmontar a tese (simplista, redutora) de um Brasil-14 supostamente… «versão alargada de Copa América». Shaqiri ainda assustou a defensiva das Pampas, Argentina com muito mais bola, mas sem criar grande perigo. A partir dos 55/60, os suíços recuaram demasiado, convidaram a Argentina a acreditar, mesmo que quase nada a azul-celeste tenha feito para tal. Mas Messi não pode resolver sempre. Voltou a ser decisivo, com assistência primorosa aos 118 para a finalização de Di Maria. Mas a Suíça merecia, pelo menos, os penalties, esteve pertíssimo do 1-1. Até nestes pormenores está a ser um grande Mundial: o jogo estava fraco e nos minutos finais do prolongamento transformou-se numa grande emoção.

2. Bélgica-EUA a fechar os «oitavos», num duelo de opostos que se equilibraram. Um jogo memorável, fantástico. Jogado a um ritmo intenso, duas equipas a quererem ser felizes. Partida espetacular, ao melhor nível do nível já por si elevado deste Mundial.  Primeira parte a provar (tal como tinha ocorrido no Alemanha-Argélia) que pode haver 0-0 bons de se ver. Belgas a atacar mais, norte-americanos bem a defender: organizados e a sair com perigo. Segunda parte a confirmar tendência inicial, jogo de parada e resposta, europeus com mais bola, a explorar as alas, Vertonghen a aparecer com perigo no flanco esquerdo, Origi muito perto do golo em mais do que uma ocasião. Mas no lado dos EUA um enorme Tim Howard, a fazer mais uma exibição de gigante, batendo recorde com 50 anos de número de defesas num único jogo do Mundial. A equipa de Klinsmann foi acreditando, saía cada vez com mais perigo, sobretudo desde a entrada do jovem Yedler, a animar o corredor direito. Mas era a Bélgica a querer evitar o prolongamento, a somar oportunidades para resolver. Origi pertíssimo de marcar, Howard a somar quase duas dezenas de defesas «impossíveis» (talvez a melhor exibição individual deste Mundial até agora). Prolongamento excelente, com a Bélgica a vencer 2-1, mas os EUA a acreditarem até ao fim e sempre perto do 2-2. A entrada de Lukaku foi crucial para que os ataques belgas passassem a ser frutuosos. Mais um jogo inesquecível de um Brasil-14 que nos surpreende todos os dias. 

3. Grandes oitavos, venham daí os quartos! Mais quatro duelos bem interessantes em perspetiva. Holanda-Costa Rica é, na teoria pelo menos, o duelo menos equilibrado, com claro favoritismo holandês (70/30, por aí). E duas «finais antecipadas», ainda por cima no mesmo dia (esta sexta): França-Alemanha no Maracanã, «final europeia» com favoritismo repartido (49.5/50.5%, ligeiríssimo avanço alemão); Brasil-Colômbia, duelo de sonho, o escrete sem encantar, mas com o fator casa e uma fé imensa frente a «cafeteros» estimulantes e um James bem lançado para ser melhor marcador e/ou melhor jogador do torneio. Probabilidades para o Brasil-Colômbia? Tão difícil responder a isso… 52/48% para os brasileiros, muito pela tradição e pela suposta vantagem de jogar em casa. Mas esta Colômbia pode sonhar com tudo. Ainda o Argentina-Bélgica. Argentinos favoritos na teoria, mas a jogarem assim tão pouco… 55/45% para os sul-americanos, vá lá.

4. Ultrapassada a primeira de quatro fases de «mata-mata» (expressão que pegou como poucas e tem, pelo menos em Portugal, direitos de autor a atribuir a Scolari em 2004), convém reorganizar a escala de favoritos. Aqui vão, por esta ordem, os meus quatro candidatos ao título: Brasil, Alemanha, França, Holanda. Logo a seguir, com dose um pouco menor, Colômbia e Argentina. Explico: o Brasil está longe de convencer, mas tem mostrado uma força especial nos momentos certos (reviravolta no jogo inaugural; não desistiu com o México, mesmo não chegando ao golo devido a Ochoa monumental; excelente resposta depois do 1-1 e goleada aos Camarões; triunfo nos penalties sobre o Chile); a Alemanha também ainda não convenceu por completo (só naquela goleada a Portugal, mas em jogo facilitado), mas tem argumentos sólidos e uma ideia de jogo amadurecida; a França tem no duelo com os alemães o primeiro grande teste, pode estar a beneficiar de calendário simpático, mas a qualidade do seu ataque é indesmentível; a Holanda mostra-se eficaz nos momentos decisivos (resiliência na viragem com o México) e tem em Robben/Van Persie a dupla ofensiva mais temível da prova. A Colômbia? Teoricamente não é candidata mas… e se ganha ao Brasil? Quanto à Argentina, joga tão pouco que não consigo coloca-la nos candidatos ao título. Mas pronto, tem Messi. Nunca se sabe.

5. Está a ser o Mundial dos golos e dos bons espetáculos e está a ser, também, o Mundial dos guarda-redes. Várias exibições memoráveis de homens só em baliza imensa, capazes de as «encher» com dimensão e alma. Como Ochoa, o mexicano que anulou o Brasil à segunda jornada e foi o melhor em campo até no dia em que o México caiu, perante a Holanda. Mas também Keylor Navas, o costa-riquenho voador: corajoso, frontal, imenso, bravo. Ah, pois: e Bravo também, do Chile, enorme com Espanha e, claro, com o Brasil, a valer-lhe contrato com o Barça. E Rais Mbolhi, o argelino que defendeu (quase) tudo perante a Alemanha, outro exemplo de melhor em campo mesmo a perder. E Júlio César, lágrimas e fé do herói tardio do escrete. E Tim Howard, a comprometer Portugal em Manaus e enorme esta noite com a Bélgica. E ainda podia falar de Eneyama (Nigéria), Courtois (Bélgica) e Ospina (Colômbia) também merecem destaque.

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na revista MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.