Ana Moura teve uma estreia brilhante no Coliseu dos Recreios. A mítica sala de espectáculos encheu-se de público para ouvir cantar o fado.

As luzes apagaram-se e os olhos do público fixaram o palco vedado por uma fina cortina cinza que apenas deixava vislumbrar silhuetas. Ana Moura começou a dar uso à sua voz afinada ainda antes das guitarras começarem a «gemer».

A cortina subiu e lá estava a fadista de vestido preto e de xaile, emoldurada por um palco «vestido» de vermelho e preto, cheio com a sua voz. Ao fim do primeiro fado a cantora «prendeu» o público.

Antes de cantar «Sou do fado sou fadista» a cantora falou aos presentes. «Quero agradecer a presença de todos. Esta é para mim uma noite muito especial. Adoro cantar no meu país, no Coliseu então», afirmou visivelmente emocionada.

A noite corria bem e o público estava envolto na atmosfera de fado que se vivia. Para reconhecer «Porque teimas nessa dor» bastaram apenas os primeiros acordes. Os aplausos surgiram logo no início da canção e a fadista fez por merece-los. Teatral e expressiva, Ana Moura dançava sozinha enquanto cantava.

Um concerto recheado de surpresas

Na entrevista que concedeu ao IOL Música, a cantora prometeu surpresas para os concertos no Coliseu e cumpriu. A fadista Beatriz da Conceição entrou em palco, no meio do concerto, para cantar e encantar. Ana Moura sentou-se num dos cadeirões do palco e observou uma das divas do fado como uma comum espectadora.

Sabia que Ana Moura toca viola?

Quando Jorge Fernando subiu ao palco, Ana Moura confessou que tinha aprendido a tocar viola. Corajosa, a fadista trocou de posições com o guitarrista e de viola nas mãos acompanhou Jorge Fernando enquanto este cantava «Boa noite solidão» . Tímida e atenta a cada movimento, a cantora tocou perante uma plateia imensa, orgulhosa de descobrir mais um dote na fadista.

Mas a noite jamais poderia terminar sem a canção «Meu corpo» interpretada por Maria da Fé. A plateia vibrou perante um dos maiores nomes do fado.

Quando a canção «Búzios», do último álbum da cantora, surgiu, o público cantou com a fadista. Em peso, todos os que se encontravam presentes murmuraram os versos de uma das músicas de mais sucesso de Ana Moura. As palmas foram intensas, foi a maior ovação da noite.

Livre de microfone

Ana Moura aproveitou a intensidade das palmas para abandonar o palco e regressar com o guarda-roupa renovado. A fadista «livrou-se» então do microfone e dirigiu-se ao público presente.

«Quero cantar como canto na minha casa de fado em Alfama, sem microfone», revelou a cantora.

«Loucura (sou do fado)», foi quase a cappella, apenas com o auxilio dos músicos. Milhares de pessoas puderam comprovar o verdadeiro poder da voz da fadista, agora mais solta, com uma vontade imensa de sentir o que cantava. A multidão reconheceu e aplaudiu de pé.

Mas última surpresa da noite ainda não tinha chegado. Sem aviso prévio, surgiram de um dos corredores da sala de espectáculos um grupo de «Zé Pereiras», ou «gigantones», acompanhados por uma banda. A estupefacção inicial deu lugar a um enorme aplauso e a um sentimento de saudade, típico do fado, afinal o espectáculo estava a acabar.

No final do concerto Tiago Bettencourt, uma das figuras de destaque que assistiu ao concerto, contou ao IOL Música qual a sua opinião sobre o concerto.

«Costumo ouvir a Ana sozinha em casa de fado mas gostei muito de a ouvir cantar hoje. A produção está muito bonita», afirmou o cantor.