Quando achávamos que já nada nos surpreendia, numa atitude de ingénua sobranceria ou num injustificável paternalismo que os anos tentam sedimentar numa sabedoria que, afinal, é bom que não estagne em nenhum desses patamares, eis que os avanços tecnológicos, cada vez mais alucinantes e céleres, nos vêm falar de VIP, abreviatura para video in print.

Depois do iPod, do iPhone, do recente iPad, do CD, do DVD, do LCD, do UBS e de tantas outras siglas minimalistas, porque não o VIP? Basicamente, é a tecnologia vídeo aplicada a um suporte de cartão ou papel. São muitas as aplicações e implicações, e enorme o salto qualitativo. Trata-se de alta tecnologia aplicada a superfícies banais, quase parentes pobres num mundo onde a fibra, além de óptima se quer óptica e os filamentos anunciam a sua natureza polimérica. Um parente comum, reciclável, que sofre agora um upgrade inimaginável. Podemos não dominar as linguagens destas engenharias de futuro, mas conhecemos bem o papel, cartonado ou não, e logo nos ocorreu atribuir-lhe um outro «papel», passe a irónica redundância. Não somos cientistas, mas a nossa mente, com ou sem muitas horas de «CSI» (mais uma muito bem adequada sigla), tem perfil de investigadora.

Imaginem-se as possibilidades! Uma delas, e porque a moda é aquilo que aqui nos reúne, nestes rectângulos de papel impresso, é a de vestir cartão, uma espécie de farda neutra, ou, apropriando-nos da expressão filosófica de Roland Barthes, um fato que funcionaria como Grau Zero da moda. Sobre ele, um microchip, leve e inteligente, imprimiria formas e padrões a gosto. Hoje um tailleur, amanhã um little black dress... Para cada dia, um novo microchip e lá se iam as dores de cabeça matinais sobre «O que vestir hoje?» Quem sabe, não será esse o futuro, onde os guarda-roupas serão virtuais? Claro que, e porque a natureza da psicologia feminina nos está nos genes, não tardariam outras complicações: «Que chip accionar hoje?» Enquanto tais realidades, ainda que próximas, não se materializam e a expressão «andar ao papelão» significa isso e apenas isso, gozamos a plena felicidade de, a cada nova estação, termos um batalhão de criadores, estilistas e costureiros (e não engenheiros informáticos) que aplicam as suas infindáveis faculdades inventivas e criativas num único propósito: o de endeusar a mulher.

Foi o que fizeram mais uma vez, e o seu esmero foi visível. Encheram-nos de romantismo, com plissados, folhos, rendas, crochet e aplicações várias, em modelos elegantes onde não faltam padrões floridos. O bater das ruas e da cultura pop, tatuagens que se nos colam à pele desde meados do século passado, e sem as quais já nos sentimos nus, voltam a mostrar a sua displicente persistência. Obras-primas da pop art transformam-se na nossa t-shirt predilecta e até Roy Lichtenstein trazemos na carteira. Tons dispostos em degradé lembram despretensiosos tingimentos caseiros, elevados agora à Alta Costura. Numa provocação antiviolência, os padrões militares e os códigos da guerrilha urbana são incorporados em peças de vestuário do dia-a-dia, para mostrar ao diabo que a vitória é nossa. A atitude reinante, em qualquer dos estilos, e eles são muitos, é sexy e poderosa, quer envergando uma mini-saia quer um sofisticado macacão. Até a ganga, tão neutra como o papelão, se o paralelismo faz sentido, se elevou a material nobre, desfilando lado a lado com sedas e chiffons. Estas são apenas algumas dicas, para que não ande... aos papéis.

Não somos bota-de-elástico (aliás, tem de ver as botas que elegemos para este especial), mas preferimos a louca criatividade dos estilistas à engenharia dos informáticos. Para já, preferimos microcalções ao microchip. Depois se verá!

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