O ex-presidente do Benfica Vale e Azevedo, a aguardar em Londres a decisão de extradição para Portugal, confessou que esteve quase a suicidar-se em fevereiro de 2004, após o episódio em que esteve em liberdade 14 segundos.

«Foi o momento mais difícil em toda a minha vida. Tive de ter muita força para não por termo à vida», lembrou Vale e Azevedo à agência Lusa, numa entrevista concedida em Londres na terça-feira, em que se completou quatro anos de regime de permanência de residência no Reino Unido.

Vale e Azevedo referiu que tem estado a viver «um inferno» desde 2001, com mais «de 500 sessões de tribunais e processos que são vira o disco e toca o mesmo», e que os 14 segundos em liberdade a 19 de fevereiro de 2004 e a imediata detenção «foi um momento de enorme provação».

«Ainda hoje é um episódio que me emociona e me perturba extraordinariamente e que perturbou a minha família extraordinariamente. Penso que tive sorte também dos meus filhos e da minha mulher terem resistido», frisou.

O presidente do Benfica de 03 de novembro de 1997 a 31 de outubro de 2000 considerou que a exibição de outro mandado de detenção, logo que transpôs a porta do estabelecimento prisional da Polícia Judiciária em Lisboa, foi «das coisas piores que se podem fazer a uma pessoa».

«Não esqueço. E não esqueço, obviamente, quem mo fez», acrescentou, em referência ao juiz Ricardo Cardoso, de quem chegou a dizer que pertencia «aos notáveis do Benfica da oposição».

Vale e Azevedo, que tinha a mulher e o irmão à sua espera nesse dia, já com as malas os sacos do ex-presidente do Benfica e um televisor no carro, acabaria por ser libertado cinco meses mais tarde.

A residir atualmente em Londres desde 2007, no condomínio luxuoso onde habita em Knightsbridge, Vale e Azevedo disse que se sente «um exilado, um injustiçado e uma vítima de excessos» da Justiça portuguesa.

Vale e Azevedo afirmou à Lusa que «o inferno» em que vive desde 16 de fevereiro de 2001, altura em que foi detido no âmbito do processo Ovchinnikov, lhe destruiu a vida.

«Todo esse percurso, a prisão e os processos, destruiu completamente a minha vida. Obrigou-me a mudar, a fazer um esforço para sobreviver e continuar a sobreviver e ir em frente», sublinhou o ex-presidente do Benfica, à espera que o High Court, tribunal inglês de instância superior, marque a audiência para decidir a sua extradição para Portugal.

Rejeitando que é um foragido à justiça, Vale e Azevedo, 55 anos, admitiu que tem «saudades» de Portugal e expressou que tem dúvidas de que «houvesse muita gente que resistisse emocional e fisicamente a esta provação».

«A verdade é que a nossa vida - a minha, a dos meus filhos e da minha mulher - é muito diferente», declarou, referindo, com convicção, de «a justiça portuguesa» não foi justa desde a sua detenção em 2001, cerca de cinco meses após ter perdido as eleições no Benfica.

«Não se pode dizer que uma justiça é justa quando põe uma pessoa permanentemente há dez anos a ser julgada pelos mesmos factos. Isto não é justiça. Não pode ser justa para uma pessoa que cumpriu seis anos de uma pena de 11 anos e está há quatro anos no regime de permanência na habitação», salientou.

Admitiu ainda que sentiu ter sido usado pela justiça portuguesa para «mostrar trabalho» e, que, «se calhar», ainda continua a ser usado, lembrando «os muitos processos» que ainda tem, como o programado para outubro, em que é acusado de peculato e branqueamento de capitais.

Neste caso, a acusação advoga que Vale e Azevedo apropriou-se indevidamente de quatro milhões de euros do Benfica, verbas resultantes de transferências de jogadores.

Lusa