* Por Rui Pedro Silva

Os Golden State Warriors entraram para esta temporada com o orgulho ferido, apesar de terem sido campeões. Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green e companhia não sentiram o reconhecimento necessário da liga depois do triunfo. Tinham terminado com o melhor registo na fase regular e estiveram quase sempre em vantagem nos playoffs mas foram obrigados a conviver com a sombra dos comentários de que defrontaram constantemente adversários desfalcados.

A resposta só podia surgir dentro de campo. Stephen Curry melhorou ainda mais o seu jogo exterior e os Warriors, com o treinador assistente Luke Walton a fazer as vezes de Steve Kerr (afastado devido a um processo demorado de recuperação após uma operação às costas), somaram vitórias consecutivas como se a concorrência não fosse sequer capaz de fazer cócegas. Um atrás do outro, os recordes foram batidos. O melhor arranque dos Houston Rockets (15-0 em 1993/1994) foi pulverizado e a nova marca ficou fixada nas 24 vitórias.

A primeira derrota era inevitável, mas quando surgiu, a 12 de dezembro no Wisconsin com os Milwaukee Bucks, já a discussão era outra: conseguirão os Warriors estabelecer a melhor marca de uma fase regular da NBA, fixada pelos Chicago Bulls de Michael Jordan em 1995/1996, com 72-10?

A resposta está a ser dada dentro de campo. O objetivo não é assumido mas a expetativa aumenta. E o sinal dado no primeiro jogo da segunda metade da temporada não podia ser mais contundente: um triunfo por 34 pontos de vantagem (132-98) no reduto do finalista vencido do ano passado: os Cleveland Cavaliers de LeBron James. E Curry, com 35 pontos, nem sequer jogou no quarto período.

Recorde como objetivo legítimo?

Stephen Curry não conseguiu fazer a diferença no duelo com Michael Carter-Williams

Com 38 vitórias e quatro derrotas e com 40 jogos por disputar, a incógnita mantém-se, mas a média é animadora. O problema é que as partes nunca são iguais e os obstáculos da segunda metade são diferentes. O fim-de-semana das estrelas costuma ser um ponto de viragem em muitas das equipas e, por muito que fique bonito ostentar o recorde, a prioridade dos Warriors será sempre chegar aos playoffs com a frescura necessária para lutar pelo título.

Curry, Thompson e Green formam um trio praticamente imparável quando jogam juntos mas as poupanças vão surgir naturalmente. E aí, a situação muda de figura. Na segunda derrota da época, a 30 de dezembro, Stephen Curry ficou de fora por lesão e os Warriors perderam em Dallas com os Mavericks (91-114).

A tendência manteve-se a 13 de janeiro. Stephen Curry jogou – e até marcou 38 pontos – mas Draymond Green ficou de fora a descansar. Finalmente, a 16 de janeiro, chegou a quarta e última derrota até ao momento. Frente aos Detroit Pistons, os campeões perderam por 95-113, apesar de estarem na máxima força. A chave do jogo? O parcial de 19-38 no segundo período, mais propício à utilização de suplentes.

Comparação com a elite

Michael Jordan foi a figura incontornável na época dos Bulls

A média é uma perspetiva animadora para os Warriors mas o registo após 42 encontros sai a perder quando comparado com os dois melhores da história da NBA. Os Chicago Bulls de Michael Jordan terminaram com 72-10 em 1995/1996 e por esta altura tinham apenas três derrotas. O quarto desaire chegou pouco depois, no jogo 45, e deu início a uma minissérie de duas derrotas consecutivas.

A segunda melhor marca da história, dos LA Lakers em 1971/1972 (69-13), também sai a ganhar. Após 42 jogos, a equipa de Wilt Chamberlain, Elgin Baylor, Pat Riley e Jerry West avançava com 39 triunfos e três derrotas. Curiosamente, o quarto desaire surgiu logo no jogo seguinte.

Para os Warriors, o calendário restante ainda traz muitas armadilhas. Desde logo, os quatro jogos com os San Antonio Spurs (dois em casa e dois fora), a equipa com o segundo melhor registo desta temporada, com 36 vitórias e seis derrotas. Mais importante ainda, dois desses jogos aparecem só em abril, na reta final do calendário. Por essa altura, já será mais fácil perceber para quantas metas correm os campeões em título.