Nuno Pina, médio luso-cabo-verdiano de 24 anos, campeão europeu sub-19 por Portugal em 2018, está prestes a regressar à Suíça para prosseguir a carreira de futebolista, cerca de uma semana depois de ter integrado o Estágio do Jogador, promovido pelo Sindicato, destinado a jogadores desempregados.

Contactado pelo Maisfutebol, na segunda-feira, o médio que passou pelo Torreense na época passada confirmou o retorno ao país onde jogou de 2013/14 a 2017/18 (entre a formação do Martigny-Sports e a do Sion) e em 2020/21 no Grasshoppers, onde foi campeão na II Liga helvética. «Vou regressar à Suíça, quarta-feira. Ainda não tenho nada fechado, mas vou regressar. Está a ser negociado e falado, não posso revelar, mas vou voltar para a Suíça, é certo. Este mês tudo fica resolvido», referiu Nuno Pina, em declarações ao nosso jornal.

Sem jogar oficialmente há mais de um ano e meio – o último jogo foi a 14 de dezembro de 2021, pelo Fuenlabrada, em Espanha – Nuno Pina garantiu que a presença no Estágio do Jogador surgiu por vontade própria de treinar e não por estar à procura de clube, garantindo que não tem «falta de opções».

«Eu sempre tive propostas, simplesmente não me interessavam e neste momento decidi regressar à Suíça, onde fiz formação e onde tenho mais portas abertas para seguir o meu caminho», insistiu.

«Fui ao estágio porque tenho amigos meus lá e também porque tenho outros amigos que gostariam de ter a oportunidade de entrar no estágio. Fui levá-los e foi bom fazer os treinos, estar em rotina de treino, foi mais por aí que fui. Não fui em busca de clube. Ainda não tenho clube porque ainda não decidi onde é o meu futuro. Sempre tive opções. Eu pedi ao Sindicato se podia ir treinar, levei amigos que jogam em ligas mais abaixo e deu uma oportunidade para eles», completou.

De Espanha a Torres Vedras, do problema com um diretor à lesão

O médio que fez parte dos heróis da geração de 1999 justificou ainda, ao falar de más fases no seu percurso, que não joga oficialmente desde meados da época 2021/22 por problemas que teve em Espanha e pela lesão no regresso a Portugal.

«Começou tudo em Espanha, as coisas não correram bem. Fiquei rotulado de jogador indisciplinado ou com mau caráter, porque afrontei o meu diretor. Cheguei a Espanha em agosto, passado duas semanas tive uma discussão com ele e ele queimou-me. Disse que ia fazer com que não jogasse. O treinador queria-me a jogar e ele não deixava, fez-me a vida negra. Ali ninguém o afrontava, ninguém tinha coragem, ele tentou faltar-me ao respeito e eu não admiti. Disse-lhe as coisas com respeito, mas o facto de tê-lo afrontado prejudicou-me. Chegou o mês de janeiro [2022] e começaram a pôr-me a treinar à parte. O facto de eu o ter afrontado, dentro do respeito – algo que não voltaria a fazer – veio prejudicar-me. Aprendi com a lição, mas não me arrependo. Desde então pintaram-me como um jogador indisciplinado, que discute com os treinadores e que eu estrago balneários. É mentira. Chegou a um ponto em que, pela minha saúde mental, decidi vir embora. Daí só ter jogado até dezembro. Não foram muito corretos comigo, mas faz parte do futebol. Estou tranquilo, vou voltar ao trabalho. Sei quem sou. Quem me conhece de verdade, sabe quem sou», afirmou.

Fez dez jogos no Fuenlabrada e seguiu-se o regresso a Portugal. Aqui já tinha jogado em 2019/20 pela B SAD, depois de uma passagem em Itália (Chievo e Monza), onde estava quando surgiu a seleção pela primeira vez em 2018. Só que outro obstáculo surgiu nos primeiros tempos de Torreense. «Assinei pelo Torreense, fiz dez treinos e parti o pé, na pré-época. Já estou a 100 por cento desde março. Só que, quando já estava a 100 por cento, faltavam 12 jogos para a época acabar. Pedi uma oportunidade ao Torreense e eles queriam que eu fosse treinar aos sub-17. Achei uma humilhação da parte deles e optei por não ir treinar. Chegámos a um acordo e ficou assim, por isso é que não joguei. Acho que trabalhei bastante para voltar e, ao voltar, mandarem-me treinar com os miúdos de 17 anos… achei uma humilhação. Optei por esperar que a época acabasse. Eu tinha assinado três anos, mas chegámos a um acordo e fiquei só até final desta época», refere quem diz que nunca teve «tanta vontade de voltar a jogar».

O menino que saiu de Portugal para a Suíça aos 15 anos, que foi ali DJ e que até trabalhou a descarregar camiões antes de se tornar profissional de futebol revela que já pensou em «desistir», mas que agora está na sua «melhor versão».

«Tudo o que me aconteceu foi necessário para o meu crescimento, estou preparado para qualquer desafio. Só preciso de uma oportunidade para fazer o que mais gosto», diz o médio, que chegou às seleções jovens em 2018 e que, depois de apenas três minutos ante a Finlândia na fase de grupos do Europeu sub-19 desse ano, foi titular na final ante a Itália, ao lado de nomes como Florentino, Francisco Trincão ou Jota. Em 2019, ainda disputaria o Mundial sub-20.